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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ambientalistas são sepultados

A caminho do sepultamento - Foto:/ Evandro Correa/O Liberal

Mais uma vez estamos testemunhando nossos companheiros tombando, diante da inércia das autoridades estaduais e nacionais", disse a sindicalista Maria Joel, esposa do sindicalista Dezinho, assassinado há 11 anos, em Rondon do Pará, município próximo a Nova Ipixuna, dando o tom de comoção e protestos por justiça dentre as cerca de cinco mil pessoas que participaram do sepultamento de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, no cemitério da folha 29, em Marabá, ontem pela manhã. O casal liderava as famílias do assentamento agroextrativista Praia Alta-Piranheira e foi executado a tiros por dois pistoleiros encapuzados, por volta de 6 horas de terça-feira, 24, em uma estrada vicinal da zona rural do município de Nova Ipixuna. Os dois constavam no último levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), como ameaçados de morte por confrontarem madeireiros e pecuaristas que exploravam ilegalmente uma das últimas áreas de castanhal nativo na região sudeste do Pará.

Antes do enterro, ativistas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, de entidades da sociedade civil e de movimentos sociais interditaram, por toda a manhã de ontem, a rodovia Transamazônica (BR-222) e também a estrada de ferro Carajás, à altura da ponte sobre o rio Itacaiúnas, para denunciar a omissão das autoridades com relação às denúncias de ameaças de morte sofridas pelo casal e exigir a prisão imediata dos mandantes e executores do assassinato.

Os manifestantes atearam fogo em pneus e pedaços de madeira e só liberaram a rodovia e a ferrovia que dão acesso a Marabá depois da chegada da Polícia Militar. "Foi um ato contra o assassinato [do casal de extrativistas]’, disse a integrante da coordenação do MST no Pará, Maria Raimunda Cezar. Segundo ela, durante o protesto foi rezada uma missa em memória aos extrativistas. O cortejo percorreu as ruas de Marabá até chegar ao cemitério. O enterro ocorreu por volta do meio-dia. "Interditamos os dois sentidos da pista e a ferrovia. Não houve confronto. A pista só foi liberada depois que terminou a marcha", acrescentou Maria Raimunda. Entidades como a Via Campesina e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri ) participaram da manifestação.

Absurdo - Coordenador da Comissão Pastoral da Terra em Marabá, o advogado José Batista Afonso classificou como absurdo o fato das autoridades de segurança pública declararem que os líderes extrativistas não pediram segurança ou garantias de vida. "Isso foi morte anunciada. Igual a eles existem mais companheiros em uma lista de marcados para morrer. Nós estamos denunciando isso há muito tempo", desabafou Batista. A Transamazônica só foi liberada por volta de 10h30, para a passagem do cortejo fúnebre, que partiu do Distrito de Morada Nova, percorreu toda a ponte e várias ruas de Marabá, até o cemitério situado na folha 29. À beira dos túmulos, os esquifes foram abertos para a despedida de familiares e amigos. "Queremos justiça. Não descansaremos até a punição dos culpados", disse uma sobrinha de Maria do Espírito Santo.

Governador e membros do MPF discutem plano de combate à violência

O governador do Estado, Simão Jatene, e representantes do Ministério Público Federal do Estado (MPF) discutiram, ontem, um plano de ação de combate à violência no campo. A reunião foi realizada no prédio do Comando Geral da Polícia Militar e reuniu o secretário de Segurança Pública Luiz Fernandes, os procuradores Ubiratan Cazetta, Felício Pontes, Alan Mansur e Caio Trindade, além do chefe da Casa Civil, Zenaldo Coutinho. O assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva motivou o encontro entre as autoridades.

O governo pretende retomar a discussão sobre a situação de todas as pessoas ameaçadas de morte no campo. "Não podemos admitir que situações como esta, ocorrida em Nova Ipixuna, continuem acontecendo. O governo vai reagir e mostrar que fatos como este não podem ficar impunes. O primeiro passo já foi dado, com o início das investigações sobre o crime. O caso está sendo apurado e os culpados serão punidos", declarou o governador. Segundo ele, o Estado trabalhará em três linhas de atuação: gerenciamento de crise, gerenciamento de risco e priorização dos casos exemplares. "Se existe uma lista de marcados para morrer, então vamos querer saber que lista é essa, quantos nomes existem, qual o risco que essas pessoas correm e o que o governo pode fazer para proteger essas pessoas", completou Jatene.

O procurador da República Ubiratan Cazetta ressaltou que o MPF irá acompanhar a retomada das investigações sobre os conflitos no campo. "Não há como negar que este processo estava parado, mas agora vamos redefinir estratégias e fazer um detalhamento de todos os casos. É importante verificar os casos de mais urgência para evitar situações como esta de Nova Ipixuna", comentou o procurador.

De acordo com o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernandes, equipes do Núcleo de Apoio à Inteligência de Marabá e homens da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e de Belém estão trabalhando nas investigações sobre o duplo assassinato. "As investigações começaram no mesmo dia em que o crime ocorreu e estamos trabalhando de forma integrada no sentido de prender os acusados. A polícia não irá descansar enquanto este caso não for solucionado", afirmou o secretário.

Maria do Espírito Santo pode ter sido espancada e torturada

Ainda na terça-feira, 24, dia do crime, a Polícia Civil tomou o depoimento de várias pessoas ligadas às duas lideranças assassinadas. As investigações apontam para o nome de dois madeireiros que exploravam o comércio ilegal de madeira na área do projeto de assentamento agroextrativista Praia Alta-Piranheira, na comunidade Maçaranduba 2, na zona rural do município de Nova Ipixuna. "Essas pessoas andavam armadas e faziam várias ameaças ao José Cláudio e a Maria", disse um colono, que preferiu não ser identificado.

O advogado José Batista Afonso disse que um madeireiro foi visto várias vezes na área, armado, com vários pistoleiros. Por outro lado, o agricultor Domingos Souza, de 57 anos, irmão da sindicalista Maria do Espírito Santo, disse que há desavenças na área do projeto, onde um grupo contrário à liderança do casal estaria negociando madeira na área. "Existia uma briga pelo poder lá no assentamento", disse Domingos Souza, ao também relacionar madeireiros e carvoeiros como interessados em eliminar a liderança do casal na área.

Apesar das evidências apontarem para crime de encomenda, a polícia investiga outras pistas e prováveis motivações para o crime. Ontem, um policial informou que José Cláudio foi o primeiro a ser atingido pelos tiros e que a sindicalista Maria do Espírito Santo foi espancada e torturada. Até o final da tarde de ontem, a polícia não divulgou mais nenhuma informação sobre o caso, como o tipo e o calibre da arma que matou o casal e os nomes dos suspeitos. Na manhã de hoje, entidades e lideranças do MST prometem fazer uma manifestação no local onde os dois ambientalistas foram assassinados. Várias equipes das polícias Civil e Militar e agentes da Polícia Federal vasculham o município de Nova Ipixuna, na tentativa de localizar os criminosos. (No Amazônia)

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