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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Removendo o Passado: Silvério Sirotheau Corrêa

Extraído do livro “Meu Baú Mocorongo” (Wilson Fonseca):

Mais uma estrela de primeira grandeza se apaga no firmamento da cultura santarena.

Considerado uma das figuras mais cultas dentre os nascidos em Santarém, SILVÉRIO SIROTHEAU CORRÊA, filho de José Brígido Corrêa e d. Amélia Sirotheau Corrêa, nasceu a 20 de junho em 1906, na mesma casa situada à Rua Benjamim Constant nº 1184, onde sempre viveu e trabalhou e de onde saiu o cortejo fúnebre de seus restos mortais, na manhã seguinte ao dia de seu falecimento ocorrido às 18:10 horas do dia 16 de fevereiro de 1980. Coincidentemente, dez dias antes (6-2-80) registrara-se o centenário de nascimento de sua veneranda mãe. Foi sepultado no Cemitério “Nossa Senhora dos Mártires”. Por ocasião do recolhimento da urna funerária ao recesso da terra-mãe, o Dr. Nestor Orlando Miléo, em nome da Ordem dos Advogados do Brasil, externou, num feliz e comovente improviso, o sentimento de saudade da classe.

Foi discípulo de Frei Ambrósio Philipsenburg, o grande educador da juventude santarenense, franciscano que lhe deu, além do estudo primário, os alicerces da formação espiritual de que era possuidor, através da Escola Paroquial São Francisco, da Associação Aloisiana e da Congregação Mariana dos Moços. Frei Ambrósio “formou e amoldou o seu caráter, preparando-o como cidadão útil para a sociedade e para a Pátria”, como revelou, certa ocasião, o próprio biografado. Participou, também, como flautista da banda de música infanto-juvenil “Sinfonia Franciscana” criada por aquele saudoso sacerdote e dirigida pelo Prof. Luiz Bonifácio da Silva Barbosa. Em 1921, passou a frequentar aulas de piano do Prof. José Agostinho da Fonseca. Muito embora fosse possuidor de elevada sensibilidade artística, cedo abandonou a prática da música, transferindo-se para Belém, ali fazendo o ginásio com muito aproveitamento e os preparatórios para ingresso no curso superior. Paralelamente exercia funções na Diretoria Regional dos Correios naquela capital, o que lhe garantia o sustento.

Com o falecimento de seu genitor, retornou à terra natal, para substituí-lo no cargo de Notário Público do Cartório do 2º Ofício da Comarca (hoje 3º Ofício), cujas funções exerceu com eficiência de 1928 a 1947. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Pará, onde sempre se destacou com grande brilhantismo, graças á sua privilegiada inteligência e afinco aos estudos.

Foi professor de Literatura e História da Civilização da Escola Normal “Santa Clara”, Deputado à Assembléia Legislativa do Estado do Pará e, por mais de três décadas, advogado militante no foro de Santarém, sobressaindo-se pela sua extraordinária capacidade de renomado e experiente causídico por todos acatada, exercendo, também, as funções de Primeiro Promotor Público da Comarca. A morte o apanhou com o decano dos advogados em Santarém e, segundo opiniões dignas de fé, quando se incluiu entre os mais abalizados profissionais do Direito em nosso Estado.

Valendo-se de uma pequena coleção de tipos e de um antigo prelo manual, fez circular em 1925, sob sua exclusiva orientação, o semanário “O TEMPO”. Nesse jornalzinho, que tinha sua redação e oficina precariamente instaladas nos fundos do cartório de seu pai, ele acumulou funções que iam do redator ao tipógrafo. Em dezembro de 1930, fundou e dirigiu o semanário “A JUSTIÇA” de circulação até janeiro de 1932, seguindo-se-lhe “GAZETA DO NORTE” com o qual encerrou, em fins do mesmo ano, as suas atividades jornalísticas. Estes dois últimos hebdomadários eram impressos nas oficinas gráficas de Antônio da Silva Guimarães. Daí para diante, passou a colaborar esparsamente em jornais da terra.

Muito estudioso, Silvério Corrêa não parou no tempo, pois estava sempre atualizado com as transformações que se operavam nas Leis do País, tanto que chegou a formar com recursos próprios a sua biblioteca particular, que se compõe de cerca de 10.000 (dez mil) volumes cuidadosamente resguardados em estantes que se acomodam pelas dependências de sua casa. Na espécie, é das mais completas e ricas de que se tem conhecimento, merecendo, por isso, cuidado e preservação em seu todo[1].

Era casado com d. Adélia Teles Sirotheau Corrêa, de quem teve dez filhos: Ferdinando Teles Sirotheau Corrêa, Cleômenes Teles Sirotheau Corrêa, Ivanildo Teles Sirotheau Corrêa, Edilberto Teles Sirotheau Corrêa, Valdomiro Teles Sirotheau Corrêa, Gilberto Teles Sirotheau Corrêa, Edna Sirotheau Corrêa Rodrigues, Dilza Sirotheau Corrêa Siqueira, Neide Teles Sirotheau da Fonseca e Leônidas Teles Sirotheau Corrêa, todos casados e nascidos em Santarém, à exceção do último.

Santarém precisa prestar reverência à memória deste seu ilustre filho, com a denominação de um de seus logradouros públicos à altura de seu merecimento[2].

É de lamentar-se que Silvério Sirotheau Corrêa, uma das lídimas expressões da cultura “mocoronga”, tenha interrompido a sua vitoriosa caminhada pelo terreno da literatura, pois no tempo em a que pena fulgurava na imprensa indígena, semeou peças de fina inspiração, destacando-se poesias que são, embora poucas, verdadeiras jóias de aprimorado bom-gosto. A maviosidade de sua lira foi reconhecida num concurso público de âmbito nacional promovido em 1929 pela revista “Vida Doméstica”, do Rio de Janeiro, quando o seu soneto “Definição” foi premiado com a primeira classificação. Mas quando, vez por outra, encordoa a sua lira, ninguém é capaz de resistir ao fascínio das belezas poéticas que do seu privilegiado estro faz brotar; é a alma que fala, como neste poema, talvez o derradeiro que produziu em data de 6 de fevereiro de 1971, pela passagem do 91º aniversário natalício de sua veneranda mãe – Amélia Sirotheau Corrêa – intitulado “ESSAS MÃOS, ESSES LÁBIOS...”:

ESSAS MÃOS, ESSES LÁBIOS...”:

Tem um terço nas mãos. As contas de uma em uma

a passar, lentamente, entre os dedos vincados,

enquanto os lábios, quase imóveis e cerrados,

balbuciam o Pai-Nosso e as Ave-Marias...


E assim a vejo agora: a rezar o seu terço,

como a vejo fazer quase todos os dias.


Contemplo, comovido, essas mãos e esses lábios:

mãos a que tanto devo, a começar do berço,

em carinhos, calor, desvelos, proteção;

e lábios a que devo as palavras mais belas

e bondosas que tenho ouvido, e com emoção,

ao longo desta agreste estrada que palmilho,

– palavras de incentivo ou encorajamento,

palavras de conforto, ou conselho, ou perdão,

que penso resumir nesta expressão – “Meu filho!”


Maravilhosas mãos que pacientemente

me ensinaram, à luz de velhos castiçais,

com ternura e cuidados maternais,

a fazer o Sinal da Santa Cruz!


Lábios onde a verdade achou sempre guarida!

Lábios dos quais ouvi, no alvorecer da vida,

pela primeira vez o nome de Jesus!


[1] Nota de Vicente Fonseca: fez doação de seus livros para a biblioteca do Fórum da Justiça Estadual da Comarca de Santarém, que leva o seu nome.

[2] Nota de Vicente Fonseca: a antiga Rua Benjamim Constant, onde residiu o advogado, é atualmente denominada de “Rua Silvério Sirotheau Corrêa”, por força de Lei Municipal.

3 comentários:

  1. Luiz Ismaelino Valente12 de outubro de 2011 às 10:34

    Meu caro Ércio:

    Como Promotor de Justiça de Santarém, propus e intermediei junto ao advogado Ferndinando, filho mais velho do Dr. Silvério, a doação de sua biblioteca para o Forum Ernesto Chaves, de Santarém. O então presidente do TJE, desembargador Cacela Alves, oficializou a destinação de uma ampla sala no Forum de Santarém e as estantes metálicas para abrigar essa biblioteca. Espero que a mesma esteja funcionando.

    Um abraço.

    LUIZ ISMAELINO VALENTE

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  2. oi ercio, lembro muito bem, tinha apenas 9 anos mas estah na memoria: na rua do Dr.silverio, antiga benjamim constant moravam muitos conhecidos nossos inclusive meu pai com a gente e so havia eu, vera, rosangela e paulo nessa época; moravam também adelia e adail picanço, sr. osvaldo rebelo (do BASA) e familia, nautilio veludo e familia, a maria jose (viuva do andre teixeira) e eloina colares com a familia, enfim, d. consuelo, sr. valverde (do BASA) com a familia, se não me engano d. carmelita, do cartorio, tudo no mesmo quarteirão, bem prox do teatro que depois veio a ser a câmara e agora nem tenho idéia do que é. faz tempo, hein? + ou - 50 anos. vou parar por aqui pra não ser injusta e ter esquecido de citar alguem. boas lembranças. tempos não tão fáceis. um abraço grande. regina, mocoronga em floripa

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  3. Sinto informar que desde o ano passado, uma nova readequação dos espaços no prédio do Fórum de Santarém, acabou por determinar o fechamento da biblioteca Silvério Sirotheau Corrêa. Os livros foram doados à bibliotecas das faculdades de Direito locais, restando apenas alguns exemplares raros que continuam em exposição em estantes especiais na sala onde funciona atualmente o Cejusc.

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