Fale com este blog

E-mail: ercio.remista@hotmail.com
Celular/watsap: (91) 989174477
Para ler postagens mais antigas, escolha e clique em um dos marcadores relacionados ao lado direito desta página. Exemplo: clique em Santarém e aparecerão todas as postagens referentes à terra querida. Para fazer comentários, eis o modo mais fácil: no rodapé da postagem clique em "comentários". Na caixinha "Comentar como" escolha uma das opções. Escreva o seu comentário e clique em "Postar comentário".

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Carta Aberta ao governador Jatene

Com cópias para o Secretário de Estado e Cultura, Paulo Chaves Fernandes, e para o deputado alenquerense José Megale Filho, o editor do Portal O MARAMBIRÉ, Luiz Ismaelino Valente, encaminhou ao Governador do Estado do Pará, Simão Jatene, a seguinte carta:
 
Excelentíssimo Senhor
DR. SIMÃO ROBSON DE OLIVEIRA JATENE
DD Governador do Estado do Pará
BELÉM-PA.
 
Senhor Governador:
Cumprimentando cordialmente Vossa Excelência, peço vênia para, por meio desta, sugerir-lhe que seja batizada com o nome de “Francisco Gomes de Amorim” a escola estadual que ora está sendo construída na sede do Município de Alenquer.

Permita-me esclarecer que, desde que me aposentei como Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará, em 2006, venho me dedicando com afinco, e com o apoio do MCA – Museu da Cidade de Alenquer, ao Projeto “Alenquer de Saudade / Memória de Alenquer”, que objetiva resgatar aspectos importantes e esquecidos da história e da cultura alenquerenses.

Em decorrência, mantenho na internet o Portal O Marambiré ( http://www.omarambire.com.br ), que abriga o Boletim Cultural Digital com o mesmo nome e todas as pesquisas resultantes do referido Projeto.

Francisco Gomes de Amorim nasceu em Aver-O-Mar em 27 de agosto de 1827 e faleceu em Lisboa em 4 de novembro de 1891. Em 1837, com apenas 10 anos de idade, emigrou para o Grão-Pará, em cujo porto foi “vendido” como “escravo branco”.

No Pará, Gomes de Amorim permaneceu por cerca de 9 anos – três dos quais (de 1840 a 1843) radicado em Alenquer, onde se tonou poeta, pois ali teve a primeira “revelação da poesia” e se ali se transformou “de menino em homem”.

Segundo as próprias palavras de Gomes de Amorim, ao referir-se a Alenquer: “Aqui fui poeta; uma existência nova começou para mim entre estes bosques, berço da minha musa; aqui se abriram os olhos da minh’alma à nova aurora; aqui novos afetos consolaram o mísero proscrito; aqui, com ânsia de virgem coração, amei, e amado fui também como se ama nestas praias, sob este céu de fogo!”

Ao regressar a Lisboa, em 1846, Amorim tornou-se amigo, confidente e, depois, o principal biógrafo do Visconde de Almeida Garrett, despontando logo como um dos mais proeminentes nomes da chamada “segunda geração romântica de Portugal”.

Sua obra é prolífica – foi contista, cronista, etnógrafo, memorialista, polemista, romancista, sociólogo e teatrólogo. Sua vivência na Amazônia, e, em especial, em Alenquer, constitui o pano de fundo de toda a sua literatura.

A sua peça teatral “O Cedro Vermelho”, dedicada ao Imperador Dom Pedro II, encenada no Teatro Dona Maria II em Lisboa em 8 de maio de 1856 e publicada em forma de livro em 1874, tem por cenário o Lago Curumu, em Alenquer, sendo, pois, o primeiro escritor a entronizar o nome, as belezas e os costumes de Alenquer e do seu belo lago na literatura mundial do século XIX.

Mas não só ao passado alenquerense está ligado o nome de Francisco Gomes de Amorim. Sua importância para a cultura do Estado do Pará é igualmente muito bem destacada por Vicente Salles, que o aponta como um dos primeiros a “afirmar a poesia paraense”, ao lado de Bruno Seabra e Severiano Bezerra de Albuquerque. Seu poema “O Caçador e a Tapuia” tornou-se famosa canção popular no Pará na segunda metade do século XIX, conforme informa em monografia o saudoso pesquisador paraense recém falecido.

Para o seu maior biógrafo, José Rodrigo Carneiro da Costa Carvalho, professor da Universidade do Porto, as andanças de Gomes de Amorim pela selva amazônica constituem “o mais suculento e o mais genuíno da sua literatura”, sem falar, segundo o mesmo biógrafo, que “a poesia marítima tem em Francisco Gomes de Amorim o seu criador.”

Segundo outro professor da Universidade do Porto, Manuel Gomes da Torre, também nascido em Aver-O-Mar, terra natal de Gomes de Amorim – “Ninguém adivinharia que o menino de 10 anos, quase analfabeto, sofresse, no curto período de nove anos, a transformação de que a sua vasta obra é testemunha eloquente. E Alenquer foi o cenário principal dessa transformação.”

Inobstante, o nome de Francisco Gomes de Amorim caiu em total e imerecido esquecimento, tanto em Alenquer como no Pará, mercê de injustificável ingratidão para com o poeta que tanto se encantou pela Amazônia, e, de modo especial, por Alenquer – a “povoaçãozinha” que ele relembraria para sempre “com uma doce melancolia”, segundo suas próprias confissões.

Foi com o escopo de resgatar esse aspecto importantíssimo da cultura amazônica, paraense e alenquerense, que idealizei, como um dos principais itens do Projeto “Alenquer da Saudade / Memória de Alenquer”, o (re)descobrimento da vida e da obra de Francisco Gomes de Amorim.

Assim, depois de três anos de dificultosa pesquisa, publiquei o livro “o curumu de alenquer na obra de francisco gomes de amorim” (Belém-PA: Smith Editora, 154 págs.), lançado em 11 de junho de 2010 na Loja Maçônica Fraternidade Alenquerense, que teve boa e surpreendente repercussão em Póvoa de Varzim, em Portugal.

Em continuidade ao projeto de (re)descoberta desse ícone da história e da cultura da região, o livro acima citado foi relançado, e a vida e a obra de Gomes de Amorim foram objetos de longa entrevista concedida ao jornalista Carlos Corrêa Santos, tudo no dia 30 de maio de 2011, no V SALÃO DO LIVRO DO BAIXO AMAZONAS , em Santarém, realizado pela SECULT, e, em seguida, proferi palestras sobre o tema nas Escolas “Beatriz do Valle” e “Santo Antônio”, ambas mantidas pelo Governo do Estado em Alenquer.

Esperava, sinceramente, que as autoridades municipais se engajassem nesse esforço de (re)valorização da cultura de Alenquer, do Pará e da Amazônia. Todavia, decorridos três anos do lançamento do livro “o curumu de alenquer na obra de francisco gomes de amorim”, nenhuma homenagem até agora foi prestada pelos poderes públicos ao escritor português a quem Alenquer e o Pará tanto ficaram a dever.

No testemunho do bisneto homônimo do escritor (que, aos 82 anos de idade, vive em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro), “o sonho de Gomes de Amorim, revelado por ele mesmo em vida, era ter seu nome dado a uma escola”.

É, pois, com a mais viva esperança que, tomando conhecimento de que o Estado do Pará está construindo, presentemente, na sede da cidade de Alenquer, uma grande escola estadual (por sinal coincidentemente localizada às proximidades do Lago Curumu, cenário da consagrada e mais do que secular peça “O CEDRO VERMELHO”), tomo a liberdade, por oportuno, de sugerir a Vossa Excelência batizar essa escola, mediante projeto de lei a ser submetido ao Poder Legislativo, com o nome de “francisco gomes de amorim” – com o que o Governo de Vossa Excelência estará, sem dúvida alguma, saldando uma imensa dívida de gratidão para com o saudoso vate lusitano e (re)valorizando, sobremaneira, a cultura regional.
Com os meus protestos de elevada estima e consideração, subscrevo-me
  Atenciosamente.
   LUIZ ISMAELINO VALENTE
Advogado e Procurador de Justiça (aposentado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário