"Caboclo
nenhum aprende a votar em um sistema político-eleitoral tão corrompido e
danoso como o nosso. Dentre tantas incongruências, destaco os
institutos da reeleição e do segundo turno para cargos executivos – que
foram, sem dúvida, um tiro no pé. Eram duas boas ideias que infelizmente
se perderam e deram completamente errado no Brasil: escancararam o uso
da máquina administrativa, elevaram o fisiologismo à milésima potência e
transformaram os partidos, ideologicamente maltrapilhos, em verdadeiras
organizações criminosas.
Em síntese: a reeleição e o segundo turno, energizando a corrupção
eleitoral, provocaram, dentre outros malefícios, a falência o sistema
representativo, com os negócios públicos sucumbindo inapelavelmente aos
interesses privados.
Enquanto não concebermos e pusermos em prática um sistema partidário e
eleitoral elaborado pela sociedade com a participação efetiva do povo – e
não pelo Congresso, que para tanto já perdeu quer a oportunidade quer a
legitimidade –, baseado na tolerância zero à corrupção, no respeito
integral e inegociável ao interesse público e na objetiva igualdade de
oportunidades entre todos os partidos e todos os candidatos,
continuaremos a assistir, de dois em dois anos, ao deprimente desfile
dos caboclos rumo às urnas como se fosse gado tocado para um brete pelos
barões da politicalha que não honram os sábios princípios da verdadeira
arte da Política, aquela Política com “P” maiúsculo da qual nos falou
Rui Barbosa em seu célebre discurso na Conferência de Haia há exatos 107
anos."
(Luiz Ismaelino Valente, procurador de justiça aposentado, ao ser perguntado pela jornalista e blogueira Franssinete Florenzano, se ´O caboclo já está aprendendo a votar ou os caciques ainda o levam no cabresto?`)
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