Por Octávio Costa - Jornal O Dia
Correm fortes rumores sobre inquietação na área militar. Oficiais estariam insatisfeitos com os rumos tomados pela Comissão Nacional da Verdade, que apurou os crimes cometidos durante a ditadura. O relatório final das investigações será divulgado na próxima quarta-feira, em solenidade no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff, sem cujo respaldo a CNV não teria saído do papel. Antes mesmo de se conhecer o teor do documento, a colunista Mônica Bergamo, da ‘Folha de S.Paulo’, revelou que generais da ativa enviaram um recado aos membros da CNV: não veem com bons olhos a responsabilização de ex-presidentes do regime de exceção pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos. Conta Mônica que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, descendente de generais, teria tomado conhecimento da crescente inquietação nos quartéis. FHC comentou com amigos que foi alertado por um militar de alta patente sobre a tensão provocada pelo relatório.
Ontem (7), Ancelmo Gois, em ‘O Globo’, também abordou a crise. Antecipou que o texto da CNV vai apontar as Forças Armadas como responsáveis pelas graves violações de direitos humanos durante a ditadura. Mas ressalta que, para não melindrar os militares, a presidenta Dilma optou por cerimônia discreta, só para convidados. Mais tarde, haverá um evento aberto ao público, na sede nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Ex-presa política e vítima de tortura na prisão, Dilma faz bem em evitar bravatas desnecessárias. Ela e todos os brasileiros com mais de 60 anos sabem muito bem o que o país sofreu durante os 25 anos de ditadura. Sabem do que os militares no poder são capazes. E sabem também que, por mais sólida que seja a democracia, há sempre correntes mais à direita, prontas para iniciativas autoritárias. Principalmente se concluírem que têm apoio de parte da opinião pública.
Autor de quatro volumes essenciais sobre o ciclo da ditadura, o jornalista Elio Gaspari costuma dizer que, em tempos de democracia, manifestações isoladas de militares não têm importância e não merecem ser registradas pela imprensa. Só eram temíveis quando os generais de quatro estrelas disputavam a fila para assumir a Presidência da República (ou seja, quando a imprensa tinha repórteres especialistas no Almanaque do Exército). Hoje, com os civis no comando até mesmo do Ministério da Defesa, podemos ficar tranquilos. Mas não deixa de chamar atenção a insistência com que se fala em golpe desde a reeleição de Dilma. Todo dia a palavra aparece na boca de alguém. Só faltava essa onda de golpismo. Até mesmo quadros do PT e do governo federal se referem ao fantasma do golpe, ao rebater as críticas de Aécio e de outros tucanos. Acusam a oposição de querer virar a mesa.
Cartunistas experientes como Aroeira e Miguel Paiva têm se dedicado ao tema. Aroeira, no ‘Brasil Econômico’, já mostrou Aécio Neves incorporando Carlos Lacerda, o ‘Corvo’ udenista que apoiou o golpe de 1964. Paiva publica no ‘Globo’ uma série de charges para refrescar a memória de quem quer a ditadura de volta. Cartunistas são artistas sensíveis para os humores da sociedade. Muitas vezes se antecipam. Mas agora deve ser reação às passeatas de minorias anti-Dilma na Avenida Paulista. Vamos confiar na visão de Gaspari. Não há o que temer. Os dias de leitura do Almanaque do Exército pertencem ao passado.
Correm fortes rumores sobre inquietação na área militar. Oficiais estariam insatisfeitos com os rumos tomados pela Comissão Nacional da Verdade, que apurou os crimes cometidos durante a ditadura. O relatório final das investigações será divulgado na próxima quarta-feira, em solenidade no Palácio do Planalto, com a presença da presidenta Dilma Rousseff, sem cujo respaldo a CNV não teria saído do papel. Antes mesmo de se conhecer o teor do documento, a colunista Mônica Bergamo, da ‘Folha de S.Paulo’, revelou que generais da ativa enviaram um recado aos membros da CNV: não veem com bons olhos a responsabilização de ex-presidentes do regime de exceção pelos crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos. Conta Mônica que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, descendente de generais, teria tomado conhecimento da crescente inquietação nos quartéis. FHC comentou com amigos que foi alertado por um militar de alta patente sobre a tensão provocada pelo relatório.
Ontem (7), Ancelmo Gois, em ‘O Globo’, também abordou a crise. Antecipou que o texto da CNV vai apontar as Forças Armadas como responsáveis pelas graves violações de direitos humanos durante a ditadura. Mas ressalta que, para não melindrar os militares, a presidenta Dilma optou por cerimônia discreta, só para convidados. Mais tarde, haverá um evento aberto ao público, na sede nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Ex-presa política e vítima de tortura na prisão, Dilma faz bem em evitar bravatas desnecessárias. Ela e todos os brasileiros com mais de 60 anos sabem muito bem o que o país sofreu durante os 25 anos de ditadura. Sabem do que os militares no poder são capazes. E sabem também que, por mais sólida que seja a democracia, há sempre correntes mais à direita, prontas para iniciativas autoritárias. Principalmente se concluírem que têm apoio de parte da opinião pública.
Autor de quatro volumes essenciais sobre o ciclo da ditadura, o jornalista Elio Gaspari costuma dizer que, em tempos de democracia, manifestações isoladas de militares não têm importância e não merecem ser registradas pela imprensa. Só eram temíveis quando os generais de quatro estrelas disputavam a fila para assumir a Presidência da República (ou seja, quando a imprensa tinha repórteres especialistas no Almanaque do Exército). Hoje, com os civis no comando até mesmo do Ministério da Defesa, podemos ficar tranquilos. Mas não deixa de chamar atenção a insistência com que se fala em golpe desde a reeleição de Dilma. Todo dia a palavra aparece na boca de alguém. Só faltava essa onda de golpismo. Até mesmo quadros do PT e do governo federal se referem ao fantasma do golpe, ao rebater as críticas de Aécio e de outros tucanos. Acusam a oposição de querer virar a mesa.
Cartunistas experientes como Aroeira e Miguel Paiva têm se dedicado ao tema. Aroeira, no ‘Brasil Econômico’, já mostrou Aécio Neves incorporando Carlos Lacerda, o ‘Corvo’ udenista que apoiou o golpe de 1964. Paiva publica no ‘Globo’ uma série de charges para refrescar a memória de quem quer a ditadura de volta. Cartunistas são artistas sensíveis para os humores da sociedade. Muitas vezes se antecipam. Mas agora deve ser reação às passeatas de minorias anti-Dilma na Avenida Paulista. Vamos confiar na visão de Gaspari. Não há o que temer. Os dias de leitura do Almanaque do Exército pertencem ao passado.
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