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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Miriam Dutra: faltou redação própria

Por Pedro Rogério - Diário do Poder
O redator que escreve estas linhas foi matriculado na escola do jornalismo antigo, ou antiquado, se assim preferirem. Nem diploma tenho. Sou da época em que nada se imprimia sobre a vida privada de quem estivesse vivo e fosse digno de ter o nome publicado na imprensa. Éramos pudicos? Nem tanto, nem tanto. Éramos adeptos de um código de ética não-escrito, herdado da imprensa norte-americana. Ela nos ensinou o lead e a manchetar de forma correta, e de sobra nos legou este bom ensinamento: a vida privada do homem público pertence somente a ele e à família dele, salvo em caso de crime capitulado.

O fuxico, naqueles bons tempos, ficava entre nós e ponto final. Se, dentro da boate Tendinha, o líder do Governo dos militares punha no colo uma “prima”, isso era lá com ele. Se o deputado da oposição estava “saindo” com a esposa de um colega e conterrâneo, fora até fotografado pelo SNI em posição de sentido, nada disso interessava ao leitor. Só ao ricardão, vale a rima fanfarrão, e ao corneado, bom sujeito, coitado.

De modo que, se o ex-presidente FHC é pai ou não fora do casamento, se agiu assim ou assado com a antiga namorada Miriam Dutra, é caso que, na minha escola, interessa somente a ele, à sua família (por questões jurídicas), à mãe que, com todo o direito, reivindica a paternidade, e ao rapaz, que merece ter inscrito na certidão de idade o nome do pai no espaço hoje em branco.

Gosto muito daquele brocardo atribuído ao Barão de Itararé quando foi cutucado a comentar as escapadas de Getúlio com as atrizes do teatro rebolado: “É melhor que os nossos presidentes forniquem muito lá em cima para que não fornique o povo aqui embaixo”.

No caso de FHC, nem isso é novidade, pois ele mesmo, vaidoso, e seus amigos se encarregaram de espalhar a boa fama presidencial. Boa fama, sim senhor, e por que não? Somos uma nação em que essa fama é culturalmente aceita como característica positiva no campo político. Quem estiver contra que se queixe ao bispo. Ou esculhambe o ilustre professor da Universidade Estácio de Sá, do Rio, Fábio Koifman, organizador do livro Presidentes do Brasil (Cultura Editores, 931 páginas). Trata-se de uma enciclopédia biográfica, que começa com Deodoro, o primeirão a nos governar e a namorar fora do casamento (chamava-se Adelaide, da alta sociedade carioca, mas o gauchão Silveira Martins a tomou dele e deu-se um bode tremendo na República), até FHC, passando em revista a vida de 45 homens que tiveram o privilégio de ocupar os que os muito antigos chamavam a “curul presidencial”.

Muito didático, os autores apresentam nossos presidentes com rubricas como “Personalidade”, “Antepassados”, “Família”, “Casamento”, “Carreira Política”, “Educação” etc, facilitando a leitura. Por último, apresentam a rubrica “Vida amorosa”, onde se lê a curiosa e boa fuxicagem, como o triângulo amoroso que envolveu nosso presidente inaugural.

Mas nem todos os biografados mereceram a rubrica “Vida Amorosa”. Imaginem vocês: nem Fernando Henrique mereceu a glória! Excessiva modéstia dos autores. Evidentemente não foi por ausência de méritos do presidente. Deve ter sido por...por... Ora, o livro foi editado quando FHC exercia a Presidência. Está explicado.

Os autores, entretanto, para não serem acoimados de mentirosos, registraram, em outra rubrica, com alguma prudência: “Sem qualquer característica física que o justifique, FHC tem fama de agradar as mulheres. Se não há explicação estética para isso, a razão deve estar noutra esfera”.

FHC que se cuide. A turma do “Porta dos fundos” está aí para criar gozações sobre a outra esfera. Seja como for, a Miriam Dutra agradou, e deu no que deu. E ela acaba de botar a boca no trombone.

Qualquer um tem o direito de botar a boca no trombone quando se sente ofendido, seja lá a natureza da ofensa. Do simples consumidor ao grande empresário, há inúmeros trombones disponíveis. Se se trata de político, o trombone é a tribuna. Quando se trata de ofensa à pessoa humana, também há específicos trombones, de delegacias policiais a juízos criminais e administrativos.

A jornalista Miriam Dutra procurou um trombone muito usado também pelos políticos: a imprensa. Ela deu uma entrevista que atingiu o objetivo pretendido: a devida repercussão. Está no direito dela. Mas eu e muitos outros jornalistas daquela imprensa antiga (ou antiquada) faríamos de modo diferente: escreveríamos a denúncia, em vez de terceirizarmos nosso sentimento de ofendidos.

Excetuando o caso da paternidade, ainda sujeito a outros escrutínios, não duvido um níquel do que Miriam Dutra falou sobre suas relações com FHC. Estranho foi a forma como Miriam usou o trombone e como lhe ofereceram o trombone. Ela posou de celebridade. De celebridade política. Até fez anedota com o ex-presidente Itamar Franco, como se ele, na condição de embaixador em Lisboa, tivesse a obrigação de acolher com cuidados especiais a ex-namorada de FHC. A revista, e depois o jornal, que a entrevistaram, o fizeram como se estivessem entrevistando uma cantora, uma atriz, uma integrante do jet-set. Ou uma política militante.

Miriam é jornalista. Presume-se que saiba escrever. Ou, como se dizia nas redações de antigamente, ela deve ter “redação própria”.

Acho que a forma de usar o trombone foi equivocada. Jornalista, quando tem algo a dizer, escreve. Este é um pensamento idiossincrático? Pode ser. Mas continuo achando que quem concede entrevista, nas páginas de política, devem ser os políticos, os cientistas da política, os administradores públicos.

Jornalista, quando pretende contar suas experiências vividas, escreve uma reportagem, escreve um ensaio, escreve um livro. Miriam preferiu outra esfera.

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