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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Vítima da usina de Belo Monte, acari-zebra sofre também com o tráfico de animais

Primeiro, a bióloga Jôsie Caldas coloca hormônio no aquário. Oito horas mais tarde, com o acari-zebra estimulado, ela massageia seu abdômen para extrair uma microgota (0,005 mililitro) de sêmen, congelado em seguida.

O trabalho de Caldas faz parte dos esforços do Ibama e de pesquisadores no Amazonas e no Pará para tentar salvar o pequeno e belo cascudo de listas brancas e pretas.Vítima da usina Belo Monte e do tráfico de animais, a espécie é a mais ameaçada entre as cerca de 2.400 de peixes amazônicos catalogados pelo projeto Amazon Fish.

"O objetivo é conservar a variabilidade genética. O futuro dessa espécie é a reprodução em cativeiro", diz Caldas, do projeto de criopreservação de gametas da espécie, uma parceria da Universidade Nilton Lins com o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

O projeto obteve cerca de 30% de células viáveis após o descongelamento. "No momento de um casal reproduzir, é possível descongelar uma palheta de sêmen e colocar junto para aumentar a variabilidade genética", explica.

O principal algoz do acari-zebra (Hypancistrus zebra) é Belo Monte, em Altamira (PA). O peixe, de até 8 cm e peso adulto de 7,5 gramas, é endêmico de um trecho de cerca de 100 km do rio Xingu impactado pela usina.

A região, caracterizada por corredeiras, canais e pedrais e conhecida como Volta Grande do Xingu, teve a vazão diminuída com a obra --o que também facilita a captura, feita à mão entre as pedras.
Além disso, Belo Monte acabou com o ciclo sazonal de cheia e seca. Sem a inundação da floresta, há menos alimentos na água para os peixes.

"Os estudos estão em andamento, mas já vimos que a população desapareceu bastante. Em alguns trechos, o acari-zebra já está extinto", afirma o biólogo Leandro Sousa, professor do campus de Altamira da UFPA (Universidade Federal do Pará).

Os pesquisadores temem que a espécie desapareça da natureza já no ano que vem, quando todas as turbinas entrarem em operação, mudando o ciclo hidrológico.

"Não se sabe se o habitat será viável ou não", diz Sousa, coordenador do laboratório que conseguiu reproduzir o acari-zebra em cativeiro. O projeto é pago pela Norte Energia, operadora de Belo Monte, e faz parte das condicionantes ambientais para a construção da obra.

A outra grande ameaça vem do tráfico de animais. O acari-zebra tem a comercialização proibida desde 2004 e está na lista da Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção).

Apesar disso, a espécie é vendida livremente em diversos países, onde alguns aquários também conseguiram a reprodução em cativeiro. Na semana passada, uma unidade estava anunciada por R$ 2.180 nos EUA, via site eBay.

Desde 2015, cerca de mil acaris-zebras foram apreendidos no aeroporto de Manaus pela Polícia Federal e pelo Ibama. Os animais foram detectados pelo raio-X dentro de malas rumo a Tabatinga (AM), de onde deixariam o Brasil via Colômbia e Peru.

As maiores apreensões são na capital amazonense. Apesar de o tráfico existir há anos, o aeroporto de Altamira, onde os peixes são embarcados, não dispõe de raio-X.

Nesta sexta-feira (27), o Ibama reintroduziu 150 acaris-zebras na Volta Grande do Xingu e entregou outros 330 ao laboratório da UFPA para serem usados em pesquisas. Todos vieram de Manaus. A maior parte desses animais estava na Universidade Nilton Lins.

A decisão de reintroduzir ao habitat, no entanto, foi criticada pelos pesquisadores das duas universidades.

"Como é que a gente vai devolver para uma natureza degradada enquanto precisamos de conhecimento para poder salvar a espécie? Jogar na natureza é se livrar do problema", diz Caldas, que está terminando um doutorado a respeito da espécie.

Também contrário à reintrodução, Sousa diz que os peixes que passam tempo em cativeiro têm baixa imunidade, podem introduzir agentes patôgenicos ao ambiente e ainda correm sério risco de serem novamente capturados.

"A conservação in situ e ex situ são medidas complementares", diz Hugo Loss, chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama em Manaus, que coordenou a soltura.

"A desvantagem do ex situ é que não há uma variedade grande de espécies como na natureza. Vamos usar as duas estratégias para potencializar os ganhos."
Fonte: Folha de SP

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