Editorial - Estadão
Desperta curiosidade a notícia de que o Planalto, na tentativa de livrar a presidente Dilma Rousseff do processo de impeachment, está atrás do apoio do setor empresarial. É inevitável perguntar: o que o governo do PT teria a oferecer aos empresários, óbvios representantes da “elite” que, no discurso lulopetista, é responsável por todos os males que assolam o País? Não se trata de reduzir a questão à indigência mental do oportunismo populista que sustenta no confronto do “nós” contra “eles” a razão de ser do PT. Trata-se de se dar conta de que o governo estatizante que está aí caindo de maduro é, por princípio, hostil à iniciativa privada. Dilma Rousseff e a economia de mercado representam visões antagônicas de mundo.
Mas a vida costuma ser um pouco mais complexa do que as mais complexas teorias sobre ela, de modo que um governo estatista e a iniciativa privada quase sempre encontram uma maneira de conviver, sobretudo se conseguem, com uma concessão aqui e outra ali, garantir o que lhes é essencial: para os políticos, o poder; para os empresários, o lucro. Sendo que, para os primeiros, frequentemente poder significa também dinheiro (no próprio bolso) e, para os segundos, dinheiro é também poder (para ganhar mais dinheiro). A realidade brasileira dos últimos 13 anos mostra bem isso: nunca antes na história deste país os governantes se dedicaram tão obstinadamente a transformar o poder em um fim em si mesmo, da mesma forma que jamais se teve notícia de tanta ousadia do setor privado, em particular das empreiteiras de obras públicas e das atividades financeiras, para ultrapassar os limites da legalidade e da moralidade em benefício de lucros garantidos e fartos.
Os donos do poder e os empresários inescrupulosos andaram de mãos dadas esse tempo todo. Os primeiros, comprometendo a própria imagem e a do Estado todo-poderoso como paladinos exclusivos do Bem. Os segundos, aviltando a responsabilidade social da iniciativa privada de ser o agente primordial da criação de riqueza e do desenvolvimento econômico em benefício de todos.
É claro que não se pode atribuir a todos os lulopetistas e aliados na máquina governamental a prática de atos de malversação de recursos públicos, da mesma forma que não são todos os empresários que se revelam corruptos e corruptores, embora seja preocupante observar que, em especial na área de prestação de serviços para o Estado, parece predominar o conceito de que o mundo dos negócios tem uma “lógica própria” que “relativiza” a prática de ilícitos. Mas disso têm tratado, com grande cuidado, a polícia, o Ministério Público e a Justiça.
É preocupante, portanto, a perspectiva de este governo que está tentando salvar a própria pele dispor-se a um “entendimento” com o setor empresarial. Embaraçado na incompetência política e administrativa da presidente Dilma Rousseff, sem capacidade de formular uma proposta da recuperação da economia que vá além do ajuste fiscal que o Congresso reluta em aprovar; e, mais do que isso, preso à obsessão do PT e das entidades e organizações sociais a ele atreladas por uma “nova matriz econômica” que já deu com os burros n’água, o que pode este governo oferecer ao empresariado, a quem por preconceito ideológico rejeita como verdadeiro parceiro, para construir um país livre, próspero e justo?
A julgar pelos argumentos diversionistas, falaciosos ou simplesmente mentirosos que têm sido usados para defender a presidente no processo de impeachment, é difícil de acreditar que Dilma e, principalmente, Lula e sua tropa de choque – na qual se destacam os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria da Presidência – estejam dispostos a manter em níveis irrepreensivelmente republicanos os pedidos de apoio à chefe do governo. E antes que algum empresário de reputação ilibada se melindre com essa desconfiança, é bom lembrar que muitos “colegas” seus de altíssimo coturno estão atrás das grades, à espera de julgamento ou já sentenciados, por acreditarem, defenderem e praticarem o princípio lulopetista de que o mundo dos negócios tem uma “lógica própria”. Pois a lógica das sociedades democráticas que pretendem viver sob o império da lei é botar meliantes na cadeia.
Desperta curiosidade a notícia de que o Planalto, na tentativa de livrar a presidente Dilma Rousseff do processo de impeachment, está atrás do apoio do setor empresarial. É inevitável perguntar: o que o governo do PT teria a oferecer aos empresários, óbvios representantes da “elite” que, no discurso lulopetista, é responsável por todos os males que assolam o País? Não se trata de reduzir a questão à indigência mental do oportunismo populista que sustenta no confronto do “nós” contra “eles” a razão de ser do PT. Trata-se de se dar conta de que o governo estatizante que está aí caindo de maduro é, por princípio, hostil à iniciativa privada. Dilma Rousseff e a economia de mercado representam visões antagônicas de mundo.
Mas a vida costuma ser um pouco mais complexa do que as mais complexas teorias sobre ela, de modo que um governo estatista e a iniciativa privada quase sempre encontram uma maneira de conviver, sobretudo se conseguem, com uma concessão aqui e outra ali, garantir o que lhes é essencial: para os políticos, o poder; para os empresários, o lucro. Sendo que, para os primeiros, frequentemente poder significa também dinheiro (no próprio bolso) e, para os segundos, dinheiro é também poder (para ganhar mais dinheiro). A realidade brasileira dos últimos 13 anos mostra bem isso: nunca antes na história deste país os governantes se dedicaram tão obstinadamente a transformar o poder em um fim em si mesmo, da mesma forma que jamais se teve notícia de tanta ousadia do setor privado, em particular das empreiteiras de obras públicas e das atividades financeiras, para ultrapassar os limites da legalidade e da moralidade em benefício de lucros garantidos e fartos.
Os donos do poder e os empresários inescrupulosos andaram de mãos dadas esse tempo todo. Os primeiros, comprometendo a própria imagem e a do Estado todo-poderoso como paladinos exclusivos do Bem. Os segundos, aviltando a responsabilidade social da iniciativa privada de ser o agente primordial da criação de riqueza e do desenvolvimento econômico em benefício de todos.
É claro que não se pode atribuir a todos os lulopetistas e aliados na máquina governamental a prática de atos de malversação de recursos públicos, da mesma forma que não são todos os empresários que se revelam corruptos e corruptores, embora seja preocupante observar que, em especial na área de prestação de serviços para o Estado, parece predominar o conceito de que o mundo dos negócios tem uma “lógica própria” que “relativiza” a prática de ilícitos. Mas disso têm tratado, com grande cuidado, a polícia, o Ministério Público e a Justiça.
É preocupante, portanto, a perspectiva de este governo que está tentando salvar a própria pele dispor-se a um “entendimento” com o setor empresarial. Embaraçado na incompetência política e administrativa da presidente Dilma Rousseff, sem capacidade de formular uma proposta da recuperação da economia que vá além do ajuste fiscal que o Congresso reluta em aprovar; e, mais do que isso, preso à obsessão do PT e das entidades e organizações sociais a ele atreladas por uma “nova matriz econômica” que já deu com os burros n’água, o que pode este governo oferecer ao empresariado, a quem por preconceito ideológico rejeita como verdadeiro parceiro, para construir um país livre, próspero e justo?
A julgar pelos argumentos diversionistas, falaciosos ou simplesmente mentirosos que têm sido usados para defender a presidente no processo de impeachment, é difícil de acreditar que Dilma e, principalmente, Lula e sua tropa de choque – na qual se destacam os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria da Presidência – estejam dispostos a manter em níveis irrepreensivelmente republicanos os pedidos de apoio à chefe do governo. E antes que algum empresário de reputação ilibada se melindre com essa desconfiança, é bom lembrar que muitos “colegas” seus de altíssimo coturno estão atrás das grades, à espera de julgamento ou já sentenciados, por acreditarem, defenderem e praticarem o princípio lulopetista de que o mundo dos negócios tem uma “lógica própria”. Pois a lógica das sociedades democráticas que pretendem viver sob o império da lei é botar meliantes na cadeia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário