Essa busca dos mastros segue o ritual organizado pelos comunitários há décadas. Logo pela manhã, é servido o café bem reforçado para os participantes – principalmente os que pretendem acompanhar todo o trajeto da retirada do mastro do meio da floresta até a praia do Cajueiro, na vila de Alter do Chão. O ritual leva em média quatro horas para ser completado.
O ato religioso é formado por personagens que narram o cenário da busca dos mastros. Nessa formação estão a juíza, os mordomos, mordomas, o grupo musical Folia, comunitários, visitantes e a Saraípora. Essa última personagem tem a responsabilidade de levar o símbolo religioso do Sairé, a Santíssima Trindade.
“Eu sou responsável há 27 anos por conduzir o símbolo maior do Sairé. Essa participação veio por conta de uma promessa feita no ato de um naufrágio. Pedi à Santíssima Trindade que me salvasse daquela agonia. Alcançada a graça, deveria participar enquanto vivesse do ato religioso de conduzir o símbolo do Sairé”, disse Maria Justa Lemos, 78 anos, a Saraípora.
Em procissão, comunitários e visitantes seguem por algumas ruas da vila até a praia. Chegando lá, adentram uma embarcação para a busca dos mastros, do outro lado do rio Tapajós. Também aguardam para acompanhar a embarcação os catraieiros nas canoas, os que pilotam bajaras e lanchas. Eles levam por transporte fluvial os visitantes e familiares. E todos acompanham e formam uma procissão fluvial.
Ao chegarem ao outro lado da margem da vila balneária, alguns comunitários, personagens e visitantes entram na mata em busca dos mastros. E logo surgem os grupos dos mordomos e mordomas. Cada grupo carrega o mastro em meio à área verde e leva até as catraias. Alguns visitantes aceitam o desafio de carregar o mastro e colocam força no braço e nas pernas.
O ritual traz pessoas de todos os lugares do mundo, seja por curiosidade ou estudo. Um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) também participa dessa parte religiosa. Eles levantaram informações para o projeto A importância do Sairé na Patrimonização e Material. “Estamos no total de oito acadêmicos realizando essa busca de informações sobre essa e outras etapas do Sairé a iniciar. Elas devem formar a base desse projeto coordenado pela Ufopa”, informou, a acadêmica Jessele Mendes Damasceno.
Depois que todos estão de volta às embarcações de grande e pequeno porte, para retornar à vila balneária de Alter do Chão, os participantes recebem o reforço da bebida, o Tarubá. A extração desse líquido vem da massa da mandioca, após a retirada do tucupi.
A procissão fluvial prosseguiu ao som instrumental do grupo Folia. O som vem das batidas do tarol e do bumbo. O tocador do grupo, Célio Carlos Camargo, diz que há 20 anos participa desse grupo instrumental que acompanha o rito religioso. Seu instrumento é feito de um pedaço de bambu e o barulho vem de pedaços de chumbos no interior da peça instrumental.
Ao aportar às margens da praia do Cajueiro, no balneário, outro esforço. Os mordomos e mordomas, revigorados com Tarubá, retiram os mastros das catraias e colocam debaixo da árvore do cajueiro.
E lá devem permanecer até a abertura oficial do Sairé, na próxima quinta. O destino vai ser a Praça do Sairé, quando os mastros devem ser enfeitados com frutas até o último dia de festa, segunda-feira, 19. Nesse dia, ocorre a derrubada dos mastros e o Sairé encerra. (Fontes: jornais O Impacto e Diário dso Pará Online - Fotos: Tamara Saré)
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