O êxodo, em massa, dos moradores do edifício Wing.
Um abalo no pilar da garagem do edifício Wing (construção concluída ha menos de dois anos), no Umarizal, fez com que todos os moradores fossem retirados do prédio de 28 andares na madrugada de ontem. Os moradores de um prédio ao lado, o La Vie en Rose, e de outras seis casas no entorno também deixaram seus imóveis. Apesar do pânico, ninguém ficou ferido. Aproximadamente 60 moradores estavam alojados, pela manhã, em dois hotéis na avenida Júlio César, em Val-de-Cães.
O tenente-coronel José Augusto Almeida, coordenador-adjunto da Defesa Civil do Estado, disse ontem pela manhã que análise preliminar indica que a torre do prédio não foi afetada, mas um laudo definitivo, apontando o que de fato ocorreu, só ficará pronto em 24 horas.
Pela manhã, 45 moradores estavam hospedados no hotel Vila Rica e 12, no Íbis. O engenheiro responsável pelo cálculo estrutural do prédio, Raimundo Lobato da Silva, é o mesmo do edifício Real Class, que desabou em janeiro deste ano, matando três pessoas. Segundo o funcionário da empresa responsável pelo condomínio, o porteiro ouviu um "estouro" entre 21h e 21h30 de sábado e constatou que haviam se soltado "as placas de concreto do subsolo do edifício (garagem)". "As ferragens estavam retorcidas e expostas", disse.
Uma festa de aniversário na área de lazer do prédio, dois andares acima de onde houve o problema, foi interrompida pelo susto provocado pelo barulho. Por volta das 2h30, o prédio começou a ser evacuado, ainda segundo o assistente administrativo da empresa Lotus. O tenente-coronel Almeida explicou aos jornalistas, pela manhã, que todas as medidas preventivas já foram adotadas. "Existe um abalo marcante. Mas fora da torre (que é o prédio em si). Agora, vamos aguardar o diagnóstico definitivo, que deverá sair nas próximas 24 horas, porque se trata de uma situação emergencial", disse.
O prédio tem dois módulos. No anexo, existe a piscina que exerce uma carga sobre os pilares. O pilar sob a piscina é o que foi abalado. "Como há comunicações entre essas vigas e pilares, não descartamos a possibilidade do prédio vir a sofrer dano maior", disse. E acrescentou: "Apenas um pilar foi abalado, de forma marcante. Os vergalhões ficaram à mostra. Ele baixou um pouquinho. É um sintoma forte de abalo de estrutura". O tenente-coronel garantiu que a torre, que é o prédio propriamente dito, não sofreu abalo. "O que sofreu abalo foi o pilar anexo, da garagem", reforçou.
Nota - A Porte Engenharia informou que o condomínio é dividido em duas edificações independentes, sendo uma do edifício torre, onde estão localizadas as unidades residenciais, e o edifício garagem, onde está localizado o estacionamento dos veículos e a área de lazer. O problema ocorrido foi registrado em um pilar do edifício garagem. A empresa garante que está colaborando com todas as autoridades envolvidas, dando todo apoio necessário aos moradores do edifício. Por fim, a Porte enfatizou em nota enviada à imprensa que há 11 anos atua no mercado imobiliário e de incorporações, sem nunca ter registrado qualquer tipo de incidente.
Filhos do Governador moram no local
Dois filhos do governador Simão Jatene moram no edifício Wing, na rua Diogo Moia, entre a avenida Generalíssimo Deodoro e a travessa 14 de Março, perímetro que foi interditado. Um deles é Izabela Jatene, coordenadora do programa Pró-Paz. O governador também esteve cedo no local.
Secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, Luiz Fernandes Rocha afirmou que, onde houver um problema, o governo estadual estará presente. Além do Corpo de Bombeiros, foram enviados para o local homens das polícias Militar e Civil, da Guarda Municipal, além de peritos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves.
O titular da Segup confirmou que o responsável pelo cálculo estrutural do prédio é o engenheiro Raimundo Nonato, indiciado pelas mortes do desabamento do edifício Real Class, informação que veio à tona durante as investigações. Por esse motivo, já havia sido realizada, anteriormente, uma revisão na estrutura do prédio, mas nada foi detectado.
Luiz Fernandes afirmou que a Polícia Civil apenas acompanhava o caso. O delegado Rogério Morais, diretor da Divisão de Investigações e Operações Especiais e que presidiu as investigações sobre o prédio que caiu em janeiro deste ano, também esteve no local.
Rosário Sá Ribeiro, da Defesa Civil Municipal, disse que, do ponto de vista da documentação exigida por lei, o prédio está regular. Ela informou que a Defesa Civil fez uma vistoria inicial, para solicitar o escoramento do local afetado. Após o escoramento, uma nova vistoria estava sendo feita.
Rosário informou que, além dos dois prédios, que ficam perto um do outro, moradores de seis casas também foram retirados de seus imóveis. Ela explicou que os moradores eram acompanhados até suas casas por homens do Corpo de Bombeiros, para que retirassem pertences essenciais. "Estamos prevendo que, em 48 horas, já possamos liberar algumas casas", disse.
Cada apartamento está avaliado em R$ 1 mi
Ontem pela manhã, moradores do edifício Wing, entregue há quase dois anos, foram buscar seus pertences, saindo do local com malas e mochilas, sem falar com os jornalistas. A preocupação era saber se a estrutura do prédio foi abalada. Cada apartamento, um por andar, está avaliado em pelo menos R$ 1 milhão.
O promotor de Justiça e Defesa do Consumidor, Marco Aurélio Lima do Nascimento, do Ministério Público do Estado, esteve no local e coletou algumas informações. Ele disse que, desde o desabamento do Real Class, o Ministério Público do Estado, assim como os outros órgãos que atuaram no caso, acompanham a situação em alguns prédios que tiveram Raimundo Lobato como engenheiro responsável pelo cálculo estrutural. Por causa dessa situação, houve uma revisão no cálculo estrutural do edifício Wing. O promotor deixou o prédio dizendo ter havido um "abalo na coluna na área da piscina".
A construtora responsável pelo edifício é a Porte Engenharia, cujo advogado, Alex Centeno, participou, pela manhã, de uma reunião com autoridades de segurança pública. Ele disse que a construtora está tomando todas as providências necessárias e que os moradores estão hospedados em hotéis. Pela manhã, os engenheiros Paulo Brígido e Nagib Charone faziam uma análise no prédio.
Os pais e um irmão do engenheiro Arnaldo Dopázio moram em uma casa ao lado do prédio onde houve o abalo. Segundo ele, seus pais saíram rápido e aflitos da casa, na qual moram há 30 anos. Ele disse que foi possível apanhar apenas alguns pertences, suficientes para ontem e hoje. Arnaldo chegou ao local por volta das 2h30. Em torno das 11h20, a coordenadora do Pró-Paz, Izabela Jatene, chegou ao prédio em que mora. Também pela manhã, a enfermeira Lene Móia foi ajudar a pegar roupas e remédios de uma moradora que teve que deixar o local. "Viemos rapidamente pegar umas roupas. Ela foi para a casa do filho", explicou. A moradora saiu de seu imóvel às 4 horas.
Documento apontou 62 falhas, diz condômino
Um morador do edifício Wing relatou que o prédio tinha problemas estruturais desde que foi entregue. Problemas com infiltrações, escoamento da água da chuva e com instalações elétricas eram recorrentes na edificação. Os moradores solicitaram no ano passado uma perícia técnica do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves (CPC). O documento apontou 62 falhas de execução no prédio.
As informações são do morador Aldemar Cardoso Junior. O funcionário público estava no meio de uma transação de venda do apartamento, adquirido por R$ 850 mil e vendido por R$ 1,3 milhão. A greve dos bancos interrompeu o processo. "O comprador me ligou nesta manhã e disse que tinha desistido do negócio. Este prédio sempre foi um tormento, me foi prometido uma coisa e me entregaram algo completamente precário, se comparado ao valor pago por ele", disse. "Me mudei para cá em agosto do ano passado. Gastei mais R$ 500 mil com reforma, porque não havia um bom suporte elétrico para a instalação de aparelho de ar-condicionado e os encanamentos precisaram ser trocados. Além disso, um dos elevadores ficou um ano sem funcionar, pois em uma chuva, a água entrou no fosso e ele queimou", explicou, dizendo que o mesmo elevador já queimou três vezes desde o início do ano.
Izabela Jatene reforçou que os moradores não vão abrir mão de buscar seus direitos. "São poucos os que vão aceitar continuar morando ali. Não nos sentimos mais seguros. Vamos lutar para que sejamos indenizados, porque os proprietários dos apartamentos trabalharam duro para construir um patrimônio. Estamos nos sentido lesados pelos transtornos e também pela possibilidade de não poder mais voltar a residir no prédio", ela resumiu, com a voz embargada.
Novo estalo foi provocado à tarde pelo reforço na estrutura
Os moradores do edifício Wing exigirão indenização da construtora Porte Engenharia, referente aos valores de cada imóvel (avaliados em pelo menos R$ 1 milhão), mais danos morais provocados pela retirada das pessoas de suas moradias após o deslocamento de um pilar do subsolo do prédio. A perícia continuará avaliando a área onde ocorreu o abalo até amanhã, informa o Corpo de Bombeiros.
Na tarde de ontem, um novo estalo provocado pelo reforço na estrutura do prédio, feito pelos engenheiros da Porte após o incidente, fez com que os bombeiros interrompessem a entrada de moradores no prédio para a retirada de pertences. A rua Diogo Moia, entre 14 de Março e Generalíssimo, permanecerá interditada hoje. Os motoristas devem transitar nas ruas paralelas ao perímetro.
Em reunião no final da tarde de ontem, na sede do Corpo de Bombeiros, na Júlio César, os moradores do prédio e do entorno pediram para mudar imediatamente de hotel e ter todas as despesas com alimentação e estadia pagas pela construtora. Eles foram orientados a guardar as notas fiscais dos gastos, para reembolso.
A Porte Engenharia enviou ao encontro um advogado e os assessores de imprensa, que emitiram uma nota com as providências tomadas a partir do acidente. Os moradores do edifício Wing irão para o Hilton e os das casas e do prédio vizinho, para os hotéis Regente e Sagres.
As negociações serão mediadas pelo Ministério Público. Hoje, às 10 horas, uma comissão de moradores se encontrará com o promotor Marco Aurélio do Nascimento para formular uma proposta de ressarcimento a quem foi prejudicado.
O tenente-coronel Donato Teixeira, do Corpo de Bombeiros, disse que a liberação do prédio e das imediações só será feita quando houver garantia de segurança. "Não vamos cometer a irresponsabilidade de permitir que as pessoas voltem a morar no prédio sem que ele esteja em condições de receber os moradores após os reparos da construtora. A palavra final a respeito do assunto será nossa", advertiu. (Fonte: Amazônia)
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