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sábado, 3 de dezembro de 2011

Ninguém abre a minha cabeça sem diploma!

Por Reinaldo Azevedo, jornalista:

Escrevi anteontem um post criticando a aprovação, em primeira votação, no Senado, de um Emenda Constitucional que torna obrigatório o diploma de jornalista. Minha Nossa Senhora de Forma Geral!!! — para citar a “deusa” da devoção de Dilma Dilma Russeff (os novos leitores, e há milhares, podem clicar, mais tarde, aqui para entender o gracejo). O jornalismo seria a única profissão regulamentada na Constituição! A Carta não exige diploma nem de ministro do Supremo (Art. 101). E olhem que há um ou dois que, com efeito… Mas deixo isso pra lá agora. Tornar a regulamentação de uma profissão matéria constitucional é de um ridículo constrangedor.

Alguns leitores ficaram bravos. “Precisa de diploma pra médico? Pra engenheiro? Por que não pra jornalista?” O grande neurocirurgião Marcos Stavale, por exemplo, que abriu a minha cabeça, deve ter diploma, hehe. Não pedi pra ver… A reputação, justíssima!, era gigantesca. Confiei a ele o que tinha de mais precioso depois da Pipoca Maria Corintiana da Silva. Eu não entraria num túnel projetado e executado por curiosos. Alguns engenheiros já dão trabalho, né?… Há profissões que requerem tal aprofundamento técnico e lapidação de eventuais talentos naturais que seria uma temeridade permitir que as pessoas a exercitassem sem a mais rigorosa e vigiada formação acadêmica. Bem, queridos, com o jornalismo, é diferente. Vamos ver.

Ah, o odor nauseabundo que emana do corporativismo bocó, mas muito eficaz em manter os próprios aparelhos e privilégios. O presidente da Federação Nacional dos Jornalista (Fenaj), Sérgio Murilo, afirma que algumas pessoas que pediram registro de jornalista nunca pisaram numa redação. É mesmo? Se for assim, então elas já podem disputar a direção da Fenaj. Afinal, a maioria dos dirigentes sindicais não saberia a diferença entre um lead e uma touceira.

À diferença do que sustentam alguns energúmenos, sou jornalista “depromado”. Até hoje, não há uma miserável coisa que eu tenha feito na minha profissão — e não posso reclamar da escolha — que me tenha sido dada ou ensinada pelo curso de jornalismo: NADA! ZERO! Já o curso de letras, penso eu, foi essencial para mim — como é o de medicina, arquitetura, direito, culinária etc para outros jornalistas. Sempre destacando que há os que não cursaram coisa nenhuma e fazem um trabalho brilhante. E há pessoas brilhantes que fizeram jornalismo.

A profissão requer duas coisas, além de formação intelectual — que os cursos de jornalismo não fornecem porque passam boa parte do tempo ocupados em “desconstruir” os grandes veículos onde a meninada vai trabalhar depois… Jornalismo requer talento para a narrativa mesmo a jornalística tem de ter enredo e um conjunto de procedimentos técnicos, alguns deles ligados à ética da profissão. E é preciso ter algo parecido com intuição, mas que é só questão de inteligência: saber onde está a notícia. Vale dizer: cedo ou tarde, um jornalista tem de ler A Cartuxa de Parma, de Stendhal ou vai acabar tratando um evento histórico como buraco de rua. Quem ensina isso? A faculdade de jornalismo???

Talento, lamento!, não se ensina. No máximo, ele pode ser lapidado. Nem todo mundo tem aptidão para a pintura, a música ou a dança. Com o texto, é a mesma coisa. Há gente que não nasceu para viver da escrita e um jornalista tem de saber escrever, o que a faculdade não ensina. A lapidação se dá no exercício. O que boa parte dos cursos de jornalismo tem feito, aí sim, é distorcer a profissão. Transformaram-se, com raras exceções, em extensões do “partido”. Professores se dedicam mais a falar do “outro mundo possível” do que a ensinar como se faz um lead neste nosso mundinho imperfeito mesmo.

Qual é, afinal, o objeto de um curso de jornalismo? Economia? Política? Sociologia? Semiótica? O quê? Resposta: um pouco de tudo isso e nada disso, mas com muitas virgulas entre sujeito e predicado… Se a exigência do diploma já era, do ponto de vista democrático, estúpida, agora se tornou incompatível também com as modernas tecnologias a serviço da informação. Quem poderá impedir, sem violentar a Constituição, um veículo jornalístico de abrigar, por exemplo, um blogueiro que tenha o que dizer, seja ele jornalista “depromado” ou não? Vão plantar batatas para colher Imposto Sindical, senhores corporativistas!!!

Que a Fenaj defenda essa excrescência, eis uma coisa que faz sentido. A entidade lutou arduamente em favor da criação do Conselho Federal de Jornalismo, que era um verdadeiro órgão de censura. Poderia até, imaginem!, cassar a licença de um jornalista. E se apresentou, espertos os caras!, para compor a primeira diretoria… O amor dessa gente pela profissão me comove. Contenho aqui uma furtiva lágrima…

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