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terça-feira, 23 de abril de 2013

Vale a pena ler: Eu lamento, tu lamentas, eles curtem


 

Por Téta Barbosa (*)

Um muro de lamentações, no sentido mais lamentável da palavra. Lá se depositam não só as amarguras da vida terrena, como a esperança de dias melhores e milagres, sejam eles a volta do Messias ou os números premiados da mega sena.

Ao contrário do que se possa imaginar, não estou aqui a falar do templo construído por Herodes e local sagrado do judaísmo, o Muro das Lamentações de Israel, mas do meu, do seu, do nosso facebook.

Aquela rede social criada menos para motivos religiosos que para relacionamento de pessoas. Isso, claro, era o que se pensava. Lá nos primórdios do Facebook, quando Mark Zuckerberg tinha mais espinhas que milhões, a ideia era essa: um espaço virtual para compartilhar ideias e interesses em comum.

Mark nunca imaginou, no entanto, que das profundezas do universo virtual iriam surgir tantos “quero ser Paulo Coelho quando crescer”. Nunca pensou, suponho, que a autoajuda invadiria, quente e pegajosa, as timelines do mundo.

Ao criar o Facebook não enxergou, lá no breu de 2004, as lamúrias, choramingos, indiretas, orações, desabafos, frases de efeito e fotos de pôr do sol (com aquela ajudinha do photoshop) que ocupariam o lugar do saudável contato social.

Chorar no ombro alheio não é novidade nem veio com o advento da tecnologia, mas assim, em público, pra todo mundo ler, é moda que pegou com as redes sociais.

Fins trágicos de relacionamentos amorosos, dor de cotovelo ou ressaca também só passaram a ser compartilhadas após o sucesso do maravilhoso e mágico mundo da internet.

Antes, um chute na bunda, se me permitem a expressão chula e popular que designa o fim sofrido de um amor, só era dividido entre amigos próximos, no máximo, numa mesa de bar.

Agora, lamentos e a eterna busca pela vitimização seguida de acolhimento virtual, é boia, como diriam meus conterrâneos pernambucanos.

Eu lamento, tu curtes, ele compartilha. E assim, sem nenhum laço de parentesco com Herodes nem com os judeus, seguimos, sem nem perceber, a tradição.

Somos, sem saber, aquele povo que acredita na repetição das lamúrias. Assim como eles, que colocam seus pedidos nas fendas do muro sagrado da antiga Jerusalém, colocamos nossas esperanças nas linhas da timeline. Tanta tecnologia para tão pouco avanço do ser humano. Quase um desperdício.

(*)Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos.

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