Por Francisco Sidou, jornalista.
A bela e merecida conquista do time de
Cametá, que encheu de orgulho a brava gente da terra dos Romualdos,
não merecia ser manchada com a nódoa da tibieza revelada pela decisão
autocrática do pequeno títere que se intitula presidente do clube, ao
renunciar em favor do Remo o direito de disputar o Campeonato Brasileiro
da Quarta Divisão.
Povo de tantas tradições na história do Pará, os
cametaenses mal tiveram tempo de festejar a chegada de seus heróicos
filhos e se quedaram perplexos e revoltados com a furtiva "negociação"
promovida pelo presidente do brioso campeão paraense de futebol/2012,
nas caladas da noite de domingo, logo após a memorável conquista. Esse
fato é emblemático da falta de sensibilidade de "cartolas" que fazem
do clube trampolim para negociações políticas, transaçõ
es comerciais, tráfico de influência e outros interesses nem
sempre confessáveis. A falta de profissionalismo na gestão dos clubes de
futebol costuma produzir tais distorções. Clubes de massas como Remo e
Paysandu, movidos pela paixão de milhões de torcedores, infelizmente,
acabam despertando a cobiça de dirigentes despreparados, tal a
oportunidade que oferecem para promoção pessoal e culto a personalidades
medíocres diante da exposição aos holofotes da mídia. Tais dirigentes
não se preocupam com ações de planejamento nem com a preparação das
escolas de base, que poderiam se tornar berçários de futuros craques do
futebol, com projeção nacional, como Giovanni e Ganso, jogadores
paraenses de nível de seleção brasileira, só revelados "lá fora".
Preferem contratar "bondes" em final de carreira, sem qualquer
identidade com os valores da cultura paraense, que buscam apenas "se dar
bem" ganhando altos salários, onerando as finanças dos cl
ubes e desestimulando os jovens jogadores que sonham jogar no time
principal , sempre barrados pelos "medalhões" arrivistas. Remo e
Paysandu mantem escolas de base, onde são revelados talentos
promissores, mas que não ficam em Belém, pois "olheiros" do sul do país
logo os descobrem, negociando-os com grandes clubes do Brasil e até do
exterior. Os clubes que investiram neles nada ganham, por falta de
competência e de visão empresarial de seus dirigentes.
Ao invés de
ganhar dividendos investindo em futuros craques, os clubes paraenses
acabam se enrolando cada vez mais com ações trabalhistas em cascatas
interpostas pelos mesmos "bondes" come-e-dorme que importam de outras
plagas, onde não tem vez nem mais como reservas. Táticas de gestão
empírica e desastrada que estão levando nossos clubes a colher pífios
resultados em campo, descendo ladeira abaixo na escala de Divisões,
sem calendário de jogos para o resto do ano, a não ser amistosos caça-níquel no interior, onde, aliás, também deixaram de ser
atração , pois desde 2011 o melhor futebol no Pará vem sendo praticado
justamente pelos times interioranos. Por que será ? O que dizem nossos
colegas jornalistas esportivos sobre esse "fenômeno", hein Sérgio
Noronha ?
Dizia o saudoso mestre Edyr Proença que "opinião não se
discute". Mas, às vezes se lamenta. É o caso de alguns analistas que tem
procurado justificar esse gesto lamentável do sr. Peixoto "vendendo"
uma conquista gloriosa de seu time sob a alegação de qua faltam recursos
financeiros ao brioso Mapará para disputar os jogos do Campeonato
Brasileiro em outras cidades pelo Brasil afora. Ora, senhor Peixoto,
sonhos não se vendem nem se alugam. O senhor brincou com os sentimentos e
os brios de todo o bravo povo cametaense jogando pela janela da
insensibilidade os louros de uma épica conquista. Tem coisas que não se
pode medir apenas pela ótica do vil me
tal.O futebol é movido sobretudo pela paixão. Paixão que também pode
mover montanhas de dinheiro quando canalizada para ações positivas de
marketing esportivo.
Se o prefeito de Cametá não pode ajudar, com medo de ser enquadrado na Lei de Responsabilidade (?) Fiscal, então por que não recorrer a empresas privadas e ao bravo povo cametaense através de uma campanha de marketing com o objetivo de conseguir os meios necessários para viabilizar a participação honrosa do Cametá no Campeonato Brasileiro da Quarta Divisão ? Por que não convocaram o Gerson Peres, filho ilustre e grande defensor de Cametá, para liderar essa campanha ? Com certeza, ele não só toparia como ainda iria arregimentar muitos outros colaboradores e doadores voluntários para essa nobre causa.
O episódio da renúncia ao direito conquistado em campo pelos bravos jogadores do Cametá, com heróico empenho, suor, amor e lágrimas, também expõe a indigência dos cartolas do futebol paraense. Falta-lhes não só competência, mas, também, iniciativa, criatividade, engenho e arte. Não por acaso perdemos a Copa 2014 para Manaus. Aliás, não perdemos para Manaus. Perdemos para nós mesmos.
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