O deputado Luiz Sefer (sem partido) depôs ontem, pela segunda vez, sobre as acusações de estupro, atentado violento ao pudor e violência presumida contra uma criança diante da Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia. Durante as três horas e meia em que permaneceu no auditório da Assembleia Legislativa, Sefer mais ouviu do que falou. Sob a alegação de que o último depoimento, à CPI do Senado, havia sido uma 'experiência dramática e traumatizante', o deputado se absteve de responder às perguntas feitas pelos membros da comissão. Abriu uma exceção ao silêncio, no entanto, para apresentar o que considera ser a prova irrefutável de sua inocência: o laudo médico comprovando a virgindade de uma das menores de idade envolvidas no processo e supostamente vítima de abusos sexuais cometidos por ele.
A estratégia de ficar calado causou indignação na deputada Regina Barata (PT) que entregou simbolicamente ao relator da CPI, Arnaldo Jordy (PPS), o pedido de cassação do mandato de Sefer, solicitação que será oficializada na manhã de hoje, quando a representação chegar às mãos do presidente da AL, Domingos Juvenil (PMDB). O pedido já havia sido feito pelo Psol, porém a deputada Bernadete Ten Caten (PT), vice-presidente da comissão de direitos humanos, explicou que segundo o regimento interno da AL, o pedido de cassação tem que ser feito por um partido que tenha representação na casa.
Marcada para começar às 15h, a sessão começou às 16h40. O presidente da comissão, deputado Adamor Aires (PR) disse que aquela seria a oportunidade de Sefer se defender, mas Sefer declarou que só falaria em uma sessão privada. 'Eu não me furto a prestar esclarecimentos. Durante a CPI do Senado por mais de quatro horas eu fui linchado e humilhado publicamente. As pessoas estavam com idéias pré-formuladas ao meu respeito. Aquela foi uma experiência traumática e dramática, a exposição trouxe, inclusive, danos à saúde de meus familiares. Foi muito difícil ver que no dia seguinte ao meu depoimento pessoas que mesmo sem conhecerem uma linha do inquérito de minha acusação me condenavam. Por isso, acredito que basta a vocês apenas uma transcrição do depoimento dado naquela ocasião, porque sendo os fatos os mesmo, as perguntas serão as mesmas e as respostas serão as mesmas dadas anteriormente', declarou.
Sefer entregou ao deputado Aires uma nova solicitação para depor em sessão fechada. O presidente consultou os demais membros da CPI sobre o pedido e ele foi unanimemente negado. Diante da negativa da comissão, o que seria o depoimento de Sefer transformou-se na leitura de várias páginas de inquérito seguida por uma série de perguntas que, em sua maioria, ficaram sem respostas. Sefer acreditava possuir um grande trunfo em mãos. Ele levou à CPI documentos que segundo ele 'incontestavelmente desqualifica de forma clara e materializada' a acusação. Ele pediu que o conteúdo não fosse revelado nos próximos dois dias. Segundo ele, as novas provas ainda não haviam sido adicionadas ao processo. 'Este instrumento muda o curso do entendimento que muitas pessoas já têm formado. Tenho certeza que o tempo vai mostrar que está havendo o linchamento de um homem inocente', declarou.
Apesar do pedido, o relator da comissão, Arnaldo Jordy, declarou, após rápida avaliação nos documentos, que à primeira vista não havia nenhum relato importante naquelas páginas: 'Pelo que li aqui este documento não diz nada'.
Documentos comprovariam virgindade de suposta vítima
A reportagem teve acesso com exclusividade aos documentos. As primeiras páginas são fragmentos dos depoimentos prestados pela conselheira tutelar Nazaré Cristina da Fonseca, responsável pela denúncia, nos quais ela afirma ter ouvido da suposta vítima de Sefer, a época com 9 anos, que a criança presenciou Sefer mantendo relações sexuais com a menor de idade 'S' que tinha 12 anos e já morava na casa do deputado há mais tempo. Entretanto durante depoimentos prestados em Belém e posteriormente em Brasília, a criança nega que tenha presenciado qualquer atividade sexual de Sefer, mas afirma que ela e outra menina que morava há mais tempo com o parlamentar sofriam abusos sexuais.
O trunfo de Sefer, segundo ele 'caiu do céu nos últimos dias', quando a mãe de 'S', Nilma dos Santos Rodrigues, foi até a Seccional da Pedreira e registrou o boletim de ocorrência nº 00011/2009.002680-2 para comunicar que sua filha, hoje com 15 anos, estava sendo 'vítima de difamações'. Nilma afirma que a filha é virgem e por isso solicitou que a menina fosse submetida a exames de conjunção carnal. Fernando Flávio Silva, diretor da seccional, atendeu ao pedido.
Segundo o advogado de Sefer, Osvaldo Serrão, antes de levar a filha aos médicos particulares, Nilma procurou o Instituto Médico Legal para que os exames fosse realizados lá, porém lá ela teria sido informada que estes tipos de exames só poderiam ser realizados na Fundação Santa Casa. Entre os documentos apresentados por Sefer, consta a declaração da Santa Casa, que se negou a fazer os exames pois o quadro não se configurava como abuso sexual. Estão anexados ao documento, dois atestados médicos, feitos em clínicas particulares, que comprovam a virgindade da menina.
Outra novidade foi apresentada por Carlos Bordalo (PT). Bordalo encaminhou à mesa a foto de uma menina de 14 anos que teria morado na casa de Sefer entre 2002 e 2003 e seria também vítima de abuso. Sefer foi enfático: 'nunca vi essa pessoa antes. Eu quero que meu filho amanheça morto se essa moça morou na minha casa', declarou. Sobre a acusação que pesa sobre seu pai, Elias Sefer, o deputado declarou acreditar na inocência de seu genitor e afirmou que foi solicitada uma perícia no aparelho telefônico do mesmo, pois suspeita-se que o telefone de Elias Sefer tenha sido clonado. (Fonte: AMAZÔNIA)
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