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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meditemos sobre a morte



Defendo com firme convicção a tese de que precisamos todos aprender a olhar o inevitável fim da vida com naturalidade e muita esperança. Para isso, basta criarmos o hábito de meditar diariamente sobre a morte, mantendo-nos em satisfatórias condições para o incerto encontro com Deus.

A morte nos parece inaceitável, não nos queremos desprender das delicias terrestres, quando indizíveis maravilhas nos aguardam do outro lado. Deus, o Autor da Bíblia, é quem avaliza essa certeza quando fala do céu: “Ali há coisas que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o homem não consegue sequer conceber”.

No vindouro dia 2, é dia de reverenciarmos nossos mortos queridos. Mesmo os infelizes que afirmam não ter fé, incorporam-se ao cortejo dos que visitam e enfeitam sepulturas, prestando um tributo de saudades ao que se foram. Eles não sabem que sua simples presença junto a um túmulo funciona como silencioso testemunho de crença inabalável numa vida eterna. Se tudo, afinal, terminasse realmente dentro de um caixão, que sentido teria revermos jazigos que, às vezes, já não guardam vestígio material de seus ocupantes? O “Dia de Finados” é, por isso, um vigoroso momento de fé na ressurreição, um piedoso clamor coletivo de esperança e de certeza numa eternidade em que o próprio Deus “enxugará todas as lágrimas”.

Não procure a morte, mas também não tenha esse pavor irracional dessa nossa benfazeja amiga. Creio que tememos bem mais as dores de uma doença, as humilhações de uma invalidez do que a morte em si mesma. Tudo, porém, é desígnio do Senhor. Muitas vezes parecem-nos absurdos, injustos e cruéis certos transes da vida, mas lá no céu compreenderemos todos os mistérios e vamos reconhecer a perfeição da sabedoria divina. Por enquanto, compete-nos o dever diário de pensar um pouquinho na morte, sempre desconfiando de que poderemos não ver a aurora seguinte. Se Cristo vier, de repente, maravilhoso será estarmos em condições de ir com Ele ao paraíso.

(Da crônica “O eterno prêmio”, escrita pelo meu mano Emir Bemerguy em novembro de 1982 e publicada no jornal O Liberal)

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