NO PARAÍSO (Autor: José Wilson Malheiros da Fonseca)

EU JÁ FUI AO PARAÍSO
CERTA NOITE DE LUAR.
E JAMAIS ESQUECEREI
DAQUELE SANTO LUGAR.
INIGUALÁVEL PAISAGEM,
QUE PARECE ATÉ MIRAGEM.
EU AGORA VOU CONTAR.

NO TEATRO, À LUZ DA LUA,
AS CORTINAS VÃO SE ABRINDO.
SOU ATOR E SOU PLATÉIA.
EU NEM SEI SE ESTOU DORMINDO.
TUDO ME PARECE UM SONHO
E O MEU CORAÇÃO RISONHO
VAI CANTANDO, VAI SORRINDO.

A LUA, VITÓRIA-RÉGIA
COM FIOS DE PRATA BORDADA
NOS ESTAMPADOS DE ESTRELAS
DO LENÇOL DA MADRUGADA.
O RIO BEIJANDO AS AREIAS
QUE, DE LUAR ESTÃO CHEIAS
PARA ENFEITAR A NOITADA.

NESSE MORENO AMAZONAS,
NO TAPAJÓS ESPELHADO,
A CLARIDADE DA NOITE
É UM BELO QUADRO PINTADO,
UMA SUBLIME AQUARELA
TRAÇADA NAQUELA TELA
POR DEUS, PINTOR INSPIRADO.

ENTÃO, AS FADAS CABOCLAS,
NINFAS QUE MORAM ENCANTADAS
NAQUELES PERAUS IMENSOS,
VÊM, NESTA NOITE, INSPIRADAS,
DANÇAR À LUZ DO LUAR,
QUERENDO PARTICIPAR
ATÉ ALTAS MADRUGADAS.

CANTORES, FLAUTAS, VIOLAS,
VÃO TECENDO UMA SERESTA,
ENFEITANDO O DIADEMA
DA LUA COM MUITA FESTA.
AMOR, PAIXÃO E SAUDADE.
HOJE ME SINTO À VONTADE
NÃO HÁ NOITE COMO ESTA.

ANZÓIS, TARRAFAS, CANOAS,
IGARITÉS EM TROPEL,
ESTÃO NA BEIRA DA PRAIA
TRAZENDO PEIXE A GRANEL.
FOGUEIRAS VÃO PREPARAR
INCOMPARÁVEL MANJAR
QUE CADA UM MENESTREL

GOSTA DE PEIXE NA BRASA
COM BEM PIMENTA E LIMÃO,
CACHAÇA, FARINHA D’ÁGUA,
COMENDO TUDO COM A MÃO.
NESSE MOMENTO TÃO TERNO
É HORA DE SER FRATERNO
NESSE BANQUETE PAGÃO.

EM HOMENAGEM À LUA,
A DEUSA DA PIRACAIA,
A MUSA DA BOEMIA,
DAS SERENATAS NA PRAIA.
ENQUANTO HOUVER O LUAR
E UM SERESTEIRO A CANTAR
SEMPRE HAVERÁ UMA CATRAIA

PARA LEVAR NOSSOS SONHOS
A PASSEAR NO BANZEIRO
DO AMAZONAS-TAPAJÓS.
E OS CORAÇÕES, POR INTEIRO,
CHEIOS DE AMOR E LUAR,
AGORA VÃO DESCANSAR
DESSE FESTIM PRAZENTEIRO.

O SOL ABRINDO AS JANELAS,
LUAR E ESTRELAS SE VÃO,
DEIXANDO SEUS ACALANTOS
NA SUAVE PULSAÇÃO
DAS VEIAS DO SENTIMENTO,
NO INESQUECÍVEL MOMENTO
NAS PRAIAS DE ALTER-DO-CHÃO.