O presidente Lula reafirmou ontem que, se necessário, o Estado fará sozinho a obra da usina de Belo Monte, no Pará, ao ser perguntado sobre possível desistência de empresas que participaram do consórcio vencedor. Com veemência, Lula disse que as empresas podem sair ou entrar do grupo, porque a porta está "sem cadeado". Apesar desse tom, Lula disse que não via problema na entrada de novos parceiros - especula-se no mercado de Camargo Corrêa e Odebrecht, que abandonaram a disputa e foram acusadas de pressionar o governo nos bastidores, estariam interessadas em aderir ao empreendimento.
Há 15 dias - quando pairavam dúvidas sobre a existência de concorrência na licitação, após a desistência de Camargo Corrêa e Odebrecht - o presidente já havia garantido publicamente que Belo Monte sairia de qualquer maneira. Não à toa o governo se empenhou na semana seguinte para formatar e viabilizar um segundo consórcio, liderado pela Chesf.
"O leilão, entrou quem quis, sai quem quer depois. Não tem nenhum cadeado fechando a porta. Tem várias portas: quem quiser entrar entra; quem quiser sair sai; não tem problema. A única coisa que digo é o seguinte: nós, enquanto Estado público, enquanto empresa pública (Eletrobras), faremos sozinhos, se for necessário fazer", enfatizou o Lula. Perguntado se construtoras poderiam aderir ao projeto, como Camargo Corrêa e Odebrecht, ele disse que não via problema nisso.
Pela primeira vez após o certame, o presidente falou longamento sobre a questão de Belo Monte em entrevista no Itamaraty, depois de um almoço com o presidente do Líbano, Michel Sleiman. Lula defendeu o leilão e afirmou que os críticos reclamam até do baixo preço fixado para a energia.
"Se barragem acontecer, vai ter guerra" Os índios do Xingu voltaram a declarar guerra contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, em novo manifesto divulgado ontem. "Se a barragem acontecer, vai ter guerra", diz o documento em nome de 62 lideranças indígenas da região localizada entre os municípios de São Félix do Xingu e Novo Progresso, no Pará. Também ontem, os indígenas paralisaram o serviço de travessia de balsa, no rio Xingu, operado pelos índios do Parque Nacional do Xingu. A travessia de balsa liga São José do Xingu a outros municípios de Mato Grosso e também do Pará. Os caciques Bet Kamati Kayapó e Raoni Kayapó Yakareti Juruna, que também assinam o manifesto, dizem no texto que "nós, indígenas do Xingu, estamos aqui brigando pelo nosso povo, pelas nossas terras, mas lutamos também pelo futuro do mundo". No manifesto, os indígenas acrescentam que não aceitam Belo Monte porque entendem "que a usina só vai trazer mais destruição para nossa região (...). Já alertamos o governo que se essa barragem acontecer, vai ter guerra. O governo não entendeu nosso recado e desafiou os povos indígenas de novo, falando que vai construir a barragem de qualquer jeito. Quando o presidente Lula fala isso, mostra que pouco está se importando com o que os povos indígenas falam, e que não conhece os nossos direitos". (No Amazônia)
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