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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Bispos querem evitar "desencanto" dos fiéis com a política

O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Dimas Lara Barbosa, afirma que a Igreja Católica vai orientar os fiéis na campanha eleitoral sem indicar ou vetar nomes de candidatos. A ideia é "superar o desencanto da população com a classe política".

Em entrevista concedida à Folha de São Paulo, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro sustenta ainda que a missa não é o espaço apropriado para a discussão do voto católico. "O mais adequado é que haja encontros específicos, que permitam o estudo e a reflexão dos documentos da Igreja acerca do tema."

D. Dimas afirma, contudo, respeitar a decisão do bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, que prometera mobilizar até os padres nas celebrações para pedir boicote à candidatura de Dilma Rousseff (PT), apontada por ele como pró-aborto. "Ele tem toda a autoridade para fazê-lo."

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por e-mail.

Folha -- Qual será a postura da CNBB durante a campanha eleitoral no que tange à defesa de temas caros à comunidade católica? Haverá distribuição de cartilhas?

Dom Dimas Lara Barbosa -- A postura da CNBB será a de sempre: a de mostrar a todos, e não apenas aos católicos, a importância do voto consciente e da escolha de candidatos cuja vida seja pautada pela ética, pela transparência e pelo respeito aos direitos humanos. Em dois documentos, a Conferência dos Bispos oferece orientações e elementos que servem de base para que as dioceses, paróquias e comunidades produzam suas próprias cartilhas que ajudem na conscientização política e cidadã de nosso povo. Para este ano, a Assembleia da CNBB aprovou, em maio, a Declaração sobre o Momento Político Nacional, que também indica critérios para a escolha de candidatos.

Folha -- Que pauta dominará essa orientação? Por exemplo, o combate à descriminalização do aborto entrará nesta lista de assuntos para os quais os fiéis devem ficar atentos?

D. Dimas -- A orientação da Igreja se fundamenta no Evangelho e nos valores éticos e morais sobre os quais se construirá a sociedade justa, solidária e cidadã que desejamos. Baseados nisto é que nós, bispos, afirmamos na declaração de maio: 'incentivamos a que todos participem e expressem, através do voto ético, esclarecido e consciente, a sua cidadania nas próximas eleições, superando possíveis desencantos com a política, procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana'.

Folha -- Haverá pedido de voto ou de veto a algum candidato ou partido que se manifestar de forma contrária aos valores preconizados pela CNBB?

D. Dimas -- À CNBB não cabe nominar nenhum candidato ou partido, nem vetar nomes. Isso cabe à justiça e ao eleitor. A CNBB fornece critérios e orientações. A escolha será sempre do eleitor que votará de acordo com sua consciência.

Folha -- Qual o espaço adequado para a discussão de temas eleitorais? As missas poderão ser usadas para transmitir orientações aos fiéis?

D. Dimas -- O mais adequado é que haja encontros específicos, que permitam o estudo e a reflexão dos documentos da Igreja acerca do tema. É comum formarem-se pequenos grupos para discutir o tema da política. A Igreja sempre incentivou a formação dos chamados grupos ou comissões de fé e política. E eles têm crescido nas dioceses. Nas missas, sempre que a liturgia o permitir, cabem orientações segundo a Doutrina Social da Igreja, que ajudem os fiéis no discernimento da melhor forma de exercer sua cidadania. Nunca, porém, a indicação de nomes ou partidos em quem votar. (Fonte: Folha Online)

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