O clima político vivido pelo Remo deu ontem mais uma prova de insubsistência: após aproximadamente 15 minutos, a reunião do Conselho Deliberativo (Condel) - que debateria a venda do Baenão para quitação de dívidas trabalhistas e a construção do novo estádio azulino, bem como a análise de propostas alternativas - foi suspensa por um tumulto que, por pouco, não culminou em violência.
A confusão começou após torcedores protestantes contra a venda do estádio serem impedidos de entrar na sede social do clube - mesmo com a presença de remistas favoráveis acompanhando a reunião. Segundo o presidente do Condel remista, Felício Pontes, o novo encontro só será marcado quando o presidente Amaro Klautau regressar de viagem.
A reunião, marcada para acontecer às 19h, dava ares de que reservaria um encontro proveitoso aos adeptos azulinos, a despeito da promessa da oposição de divulgar um dossiê contra Klautau. Antes do início, falava-se em trégua e pensava-se em encontrar um bom caminho. Aberta a sessão, a palavra foi passada para o vice-presidente do Remo, Orlando Frade, que pediu a exibição de uma entrevista filmada com a juíza do Trabalho, Ida Selene, em que a magistrada expôs a problemática do estádio, reiterando que, caso não houvesse proposta, o Baenão - penhorado assim como outras praças remistas - iria à leilão.
Em seguida, o conselheiro Arthur Carepa pediu a palavra. "Não tenho nada pessoal contra o Amaro Klautau. Tenho tudo contra a ideia de se vender o estádio por esse valor. Como engenheiro, não acredito que se construa um estádio com R$ 18 milhões", disse, arrancando palmas de oposicionistas e vaias de torcedores favoráveis à venda, que puderam assistir à reunião.
A confusão que se iniciava foi apimentada pela chegada de torcedores contrários à venda. Equipados com fogos de artifício, faixas e um carro-som, os torcedores exigiam permissão para participar da reunião, buscando direito de se manifestar.
A partir dali, situação e oposição começaram a trocar acusações. E, por pouco, não chegaram às vias de fato. Os dois lados foram acusados, mutuamente, de "bancar" os protestos. Alguns conselheiros disseram que sentirem-se coagidos com a presença de membros de torcidas organizadas do clube. Para piorar, nem Polícia Militar nem seguranças do clube estavam presentes. O presidente do Condel, Felício Pontes, alegando falta de "ambiente", suspendeu, inicialmente por 30 minutos, a reunião. Vendo que a confusão estava longe de um término, decretou o fim da reunião, que só terá nova data marcada depois da chegada do presidente Amaro Klautau, que estava em São Paulo e deve regressar amanhã.
Parte da torcida contrária à venda do Baenão deixou as dependências do clube prometendo recolocar o escudo do Remo de volta à parte frontal da área conhecida como "Carrossel".
Depois de dar por encerrada a reunião, o salão do Clube do Remo se tornou palco de acusações entre situação e oposição. Com o tumulto, pouco pôde ser discutido e ainda é incerto o futuro do estádio Baenão. Os dois lados, inclusive, acusaram intenções escusas para que não acontecesse um debate.
O conselheiro Orlando Ruffeil exibiu um documento com reprodução de uma edição do Diário Oficial, que mostrava a nomeação do ex-presidente do Remo, Licínio Carvalho, autor do pedido de tombamento do Baenão, como assessor especial da governadora Ana Júlia Carepa. "Ele (Carvalho) foi o pior presidente do Remo. E agora quer inviabilizar o negócio. Pediu em fevereiro o tombamento e em maio foi nomeado assessor especial. Ele foi usado e está se vendendo, quer que o Remo continue nesse marasmo", disse.
Licínio respondeu alegando que os dois fatos não têm conexão e, por sua vez, defendeu o tombamento, processo que, na época, retardou as negociações. "O que queremos é que o Remo não seja motivo de chacota dos rivais, como vem acontecendo desde a retirada do escudo do clube (do Carrossel)", disse."Foi um ato ensandecido do presidente", completou.
Ubirajara Salgado, ex-presidente do clube, lamentou a confusão, que mais uma vez retardou a definição do futuro azulino. "Pelo que entendi, não há ninguém contra a venda do estádio. Vivemos um momento crítico. A renda conseguida sanaria as dívidas e nos permitira partir para um próximo empreendimento. O problema é que nada foi exposto claramente e esse clima não nos leva a lugar nenhum. A reunião deve ser exclusiva dos conselheiros. Não temos mais tempo a perder", finalizou. (No Amazônia)
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