Gostei bastante e ainda estou degustando a excelente “Memória de Santarém” da lavra do Lúcio Flávio Pinto.
Fatos que eu vivi pessoalmente, inclusive como cronista do Jornal de Santarém, do Sr. Arbelo, filho do Isoca e neto do Visconde da Várzea (Vicente Malheiros) um inspirado crítico de costumes que a cidade precisa conhecer melhor.
Entretanto, meu amigo Lúcio, o episódio que você relata que se passou comigo e minha bicicleta foi inventado justamente por meu avô e seu espírito jocoso e não é verídico.
Na página 89 de tua “Memória”, está escrito que fugi com a bicicleta nos ombros... claro que estou dando gostosas gargalhadas. Mas, resumo agora o que se passou.
Era uma tarde bonita e calorenta como são as tardes santarenas. Eu havia sido operado pelo competente Dr. Everaldo Martins e estava no hospital do SESP fazendo curativo, quando ali mesmo escutamos que o Veloso havia tomado a rádio e se preparava para invadir a prefeitura e restitui-la ao teu pai, Elias Pinto, o Barra Limpa vencedor das eleições.
Como todo jovem, eu era curioso. Tinha apenas 22 aninhos. Então peguei minha bicicleta (só mesmo sendo um garoto para andar de bicicleta depois de operado...) e fui em busca da movimentação toda. Quando cheguei ali perto do Hotel Uirapuru vi a massa humana que se dirigia, liderada pelo Veloso, no rumo da Prefeitura. Comparei aquilo com a TOMADA DA BASTILHA, juro! De uma hora para a outra, em minha imaginação, Santarém virou Paris e eu estava assistindo a história.
Empolgado e, de bicieleta e tudo, infiltrei-me no meio do povo que ia cantando, gritando palavras de ordem. Chegando ali por perto da Casa de Saúde vi que alguns soldados aguardavam a multidão de metralhadoras e fuzis.
Recentemente eu havia feito o serviço militar e sabia como evitar balas. Corri, então, com bicicleta e tudo e me escondi, numa mangueira frondosa quase em frente àquele hospital, creio que de fronte da casa do dr. Pena.
Fui um espectador privilegiado. Vi a multidão peitar a polícia que, primeiro, atirou para cima. Como o povo persistisse, vieram os tiros. Feriram Veloso (que Brechó enrolou numa providencial bandeira nacional) com um golpe de baioneta. Teu pai, a mim me parece, subiu por dentro da casa do Sr. Roosevelt para salvar a pele. Alguns cidadãos, dos quais me lembro o nome apenas de um, o Cujubinha (tenho ainda na memória a fisionomia dele (negro, baixinho, bigodinho) foram alvejados. Uns cairam para a praia, outros pularam no rumo do rio e a maioria correu apavorada.
E eu ali protegido pela mangueira, minha bicicleta no chão. Quando passou por mim o Edemburgo Moura (aquele cearense simpático, vermelhão e forte como um touro, que foi vereador) chorando, passo apressado e emocionado, pensei. É hora de sair daqui. Mas saí calmamente, voltei até a frente do Bar Mascote e fui o primeiro repórter a contar tudo o que havia visto para o Joaquim da Costa Pereira que, como todo mundo estava ávido de notícias. O resto já sabem.
José Wilson, então, além de escritor dos bons tu também és testemunha ocular da história. Vivendo e aprendendo...
ResponderExcluirMário Diniz, Belém Pa.
Zé Wilson, não tira a bronca. Fico com a versão do teu Vô. Na hora da agonia "rasgastes" em disparada com a bicicleta na costa gritando: MAMÃE ME ACUDA!
ResponderExcluirLembro-me muito bem desse dia trágico para os santarenos. O Veloso - que Deus o tenha - só causou transtornos ao povo santareno. Em parceria com o Elias Pinto, também de triste memória, transformaram a pacata Pérola do Tapajós em campo de guerra. Os mortos (3) foram vítimas da irresponsabilidade dessa dupla. Outro culpado: o então governador Alacid Nunes que mandou os policiais agirem com rigor, atirando, esfolando, matando quem chegasse perto da prefeitura.
ResponderExcluirPrezado colunista: relembrar, comentar fatos com este é muito bom para que os jovens saibam mais e melhor sobre a história, sobre as lutas políticas do passado quando ainda imperava a vontade dos "coronéis" no interior do Pará. Graças a Deus essa página foi virada, mas, infelizmente, hoje, impera a corrupção em todos os escalões de governos que não se impõem para acabar com as falcatruas como, por exemplo, essa quadrilha da Sesma. E o prefeito Duciomar? Onte está? Sumiu...!!! Não tomou nenhuma atitude para demitir esses sugadores do dinheiro público.
ResponderExcluirO colunista é feliz quando retrata aquela tarde de chumbo em que Santarém chorou. Foi o dia mais triste da história. Obrigado por nos fazer lembrar para não se repetirem fatos desse tipo.
ResponderExcluirZé Wilson é um dos que merece ser entrevistado com sua vivência das coisas mocorongas. Tenho certeza de vai sair muita coisa interessante.
ResponderExcluirH.M.
Com base nesses relatos detalhados do Malheiros e no livro do L.F. Pinto, quem se atreve a fazer um trabalho sobre o perfil psicológico do Elias Pinto e do Veloso?
ResponderExcluirUbaldo só ganhava eleição no mapismo?
A história quer saber.