Algumas reflexões na época do Círio (Crônica de José Wilson Malheiros)

Em Belém, agora neste segundo domingo de outubro, mais uma vez, tivemos o Círio de Nazaré.

Brevemente teremos o Círio da Conceição, na Terra Querida. Nunca me esqueço dos tempos gostosos quando eu tocava saxofone na banda, sob a batuta de meu pai, Maestro Isoca, com meus famosos parceiros Manduca (Cão Pelado), Mimi e Adalgiso Paixão, Perílio (Pirilão), Bazinho Sirotheau e outros. Mas isto é assunto para uma próxima crõnica, já na época de nosso Círio.

Aqui em Belém, multidões encheram as ruas cantando rezando, pagando promessas.O Círio é uma enxurrada, é uma tempestade sagrada que tem o poder de carregar todo mundo. Eu tenho certeza de que não só católicos, mas espíritas, protestantes e irmãos de outros credos se deixam levar pela irresistível força da corrente desse portentoso Amazonas mariano e ecumênico.

Sim, ecumênico, pois vão arrastados e arrostados pela correnteza pessoas de todos os credos. Até o manto da Santa, neste ano, homenageou os espíritas, quando exibiu, lindo e comovente, o ramo da videira com um cacho de uva, um dos símbolos dessa religião que congrega tantos irmãos nossos. Nada acontece por acaso.

Falemos de amor, mas de um modo diferente. Sem moralismos, porém com profunda realidade.

Baladas, funkes, tecnobregas e coisas do gênero enchem as noites. Gatíssimas lindas, com suas roupas microscópias, algumas siliconadas e várias – infelizmente – drogadas, enchem os salões sacundindo seus bumbuns despudorados em danças e poses ginecológicas, exatamente como se exibem carnes nos açougues, muitas delas, é verdade, já passando do prazo de validade e de má qualidade moral, enganando os trouxas.

A maioria chega sozinha e ao fim do baile também sai na mesma solidão.

Advogados, engenheiros, profissionais liberais, empresários, enfim, homens que se consideram bem sucedidos na sociedade de consumo, mas são perdedores e desorientados na vida sentimental, ficam ali, sôfregos, à espreita, com a finalidade de ganhar um beijo (elas geralmente contam os beijos que conseguem dar, como troféus), ou, quem sabe, ao final de tudo “ficar” com uma dessas musas da infelicidade.

E vão para a cama. Ali adotam posições cabalísticas, sabem o Kama Sutra de cor e no final cada um se retira para sua própria solitude. Estão perdidos da própria identidade.

Se o problema fosse apenas sexo, tudo se resolveria numa balada.

Hoje em dia existe uma enorme carência dos passeios de mãos dadas, do carinho sincero, do amor realmente vivido, tudo aliás, que não se vê, como regra, na televisão e em certo tipo de cinema dito intelectual, mas no fundo interessado apenas nos cifrões.

Não sou puritano, nem saudosista, mas ainda me lembro que o Amor ainda existe. A humanidade está carente. Entre na internet e veja nos Orkuts quantos sites de relacionamento: Par perfeito, Quero um par pra vida toda, Nasci pra viver sozinho e outros que deixam à mostra o vazio e a solidão de multidões, da maioria dos seres humanos considerados modernos.

Em determinadas reuniões sociais nem tente falar de felicidade, de poesia, de amor verdadeiro. Isso é “mico” puro! Você talvez passe por ridículo...

Sabemos, é lógico, que o amor perfeito não existe. Mas não tenha medo de ser feliz. Garimpe, procure que você vai encontrar sua alma gêmea e não tenha medo de parecer idiota. Seja feliz.

Roberto Carlos, nessas horas, é insuperável. Cante comigo:

“Eu te proponho
Nós nos amarmos
Nos entregarmos
Neste momento
Tudo lá fora deixar ficar
Eu te proponho
Te dar meu corpo
Depois do amor
O meu conforto
E além de tudo
Depois de tudo
Te dar a minha paz...