A partir de hoje, os comerciais da campanha de Dilma Rousseff na TV passarão a bater mais duro em José Serra. Na linha do discurso agressivo adotado por Dilma no debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão ontem à noite.
Dilma nunca foi tão Dilma quanto no debate. Quem trabalha com ela sabe disso. Com uma diferença: o reencontro de Dilma com ela mesma atendeu a claros objetivos eleitorais.
Era preciso afastar o clima sombrio que pairava sobre os militantes do PT e os aliados de Dilma desde que se desmanchara no ar a certeza da vitória certa no primeiro turno.
De resto, surgira mais um agravante: a primeira pesquisa de intenção de votos do Datafolha para o segundo turno confirmou o viés de queda de Dilma. Diminuiu a vantagem dela sobre Serra.
Era preciso, também, encontrar uma saída para o problema criado pela própria Dilma quando em duas ocasiões defendeu a descriminalização do aborto.
A saída foi fornecida pela mulher de Serra, Mônica, que outro dia acusou Dilma de querer "matar criacinhas".
Dilma culpou Mônica pela "mais sórdida" onda de ataques já sofrida por um político brasileiro - no caso, ela.
Evidente exagero, é claro. Dilma não apanhou até agora metade do que apanharam no passado, por exemplo, Getúlio Vargas, o próprio Lula.
Dilma repetiu contra Serra a manobra que foi fatal para Geraldo Alckmin em 2006: acusou-o de pretender seguir privatizando empresas.
Por fim, Dilma chamou Serra de homem de mil caras, apontou supostos defeitos de sua administração como governador de São Paulo e reforçou a ligação dele com o governo mal avaliado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os estudiosos de eleições e os marqueteiros costumam dizer que perde quem bate muito. Esquecem que perde igualmente quem não se defende.
Dilma defendeu-se atacando.
Supreendido por uma adversária que não conhecia, da qual apenas ouvira falar, Serra reagiu na maioria das ocasiões com uma excessiva frieza.
Foi cuidadoso ao tratar da questão do aborto. Não defendeu sequer sua mulher. Mas soube explorar, e mais de uma vez, os recentes escândalos que subtraíram de Dilma preciosos votos.
A saber: a quebra do sigilo fiscal de nomes ligados ao PSDB e a queda de Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, acusada de ter acobertado as atividades suspeitas dos seus dois filhos na intermediação de negócios com o governo.
No primeiro turno, Serra foi melhor do que sua propaganda política - ao contrário de Dilma que foi pior.
No debate promovido pela Rede Bandeirantes, os papéis se inverteram.
Somente as próximas pesquisas poderão confirmar se Dilma ganhou votos ou se parou de perdê-los ao se apresentar como é.
Foi um lance arriscado dela, esse. Mas não se ganha eleição sem correr riscos. (Em O Globo)
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