Antes, no início da fala de cerca de 40 minutos pontuada por alguns momentos de emoção, a presidente disse que terá como "compromisso supremo" durante o mandato "honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos".
Ela reafirmou a defesa da liberdade de culto e de imprensa, disse que "a corrupção será combatida permanentemente" e que estende a mão aos partidos de oposição. "A partir deste momento, sou a presidente de todos os brasileiros", declarou. Ao pronunciar essa frase, com a voz embargada, Dilma se emocionou, sem chegar a chorar, e recebeu aplausos.
Dilma também fez menção aos companheiros de militância de esquerda nos anos de regime militar: "Divido com companheiros de luta que tombaram no caminho essa conquista e rendo a eles minha homenagem."
Mulheres, Lula e Alencar
Dilma abriu o discurso saudando as autoridades presentes e em seguida destacando a condição de mulher. "Pela primeira vez, a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher", afirmou, interrompida por aplausos.
A presidente disse que a eleição dela significou "abrir portas para que muitas outras mulheres, no futuro, possam ser presidentas".
Em seguida, agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem sucede, e prestou uma homenagem "ao nosso querido vice-presidente José Alencar", que, internado em um hospital de São Paulo, não compareceu à posse.
Sobre Lula, disse que é o "presidente que mudou a forma de governar e levou o povo brasileiro a confiar no futuro". Sobre Alencar, afirmou que é um "exemplo de coragem e amor à vida".
Economia
Dilma abordou o momento econômico pelo qual passa o país, afirmando que "vivemos um dos melhores períodos da vida nacional", destacando o fim de "um longo período de dependência do FMI [Fundo Monetário Internacional]".
"Reduzimos a nossa dívida social, resgatando milhares de brasileiros da tragédia da miséria e ajudando outros a alcançar a classe média, mas sempre é preciso buscar mais", declarou. "Só assim poderemos provar aos que lutam para sair da miséria, que, com a ajuda do governo, eles podem deixar a miséria."
A presidente destacou a necessidade de reformas "para fazer avançar nossa jovem democracia, fortalecer o sentido programático dos partidos e fortalecer as instituições".
Segundo ela, "para dar longevidade" ao crescimento, será necessário manter a estabilidade de preços. Para a presidente, é "inadiável" um conjunto de medidas que modernize o sistema tributário, orientado pelo princípio da simplificação e da racionalidade. "O uso intensivo da tecnologia da informação deve estar a serviço de um sistema de progressiva eficiência e elevado respeito ao contribuinte", disse.
Ela defendeu a valorização do parque industrial brasileiro e o estímulo à exportação. "O apoio aos grandes exportadores não é incompatível com a agricultura familiar e as pequena empresas", afirmou.
Sobre as disputas comerciais com outros países, afirmou que o governo dela não tolerará o protecionismo. "Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos", declarou.
Copa e Olimpíada
De acordo com a presidente eleita, os investimentos previstos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016 serão feitos com o objetivo de gerar "ganhos permanentes". "É preciso melhorar o transporte aéreo para a Copa e os Jogos Olímpicos", exemplificou.
Educação
Ao falar de educação, Dilma procurou valorizar a figura do professor. Disse que só existirá ensino de qualidade "se professores forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólidos compromissos com a educação dos jovens".
Ela também destacou que pretende acelerar a criação de "milhares" de vagas e estender a experiência do ProUni para o ensino médio e profissionalizante.
"Nas últimas décadas o Brasil universalizou o ensino fundamental, mas é preciso melhorar a qualidade", afirmou.
Saúde
Dilma afirmou que acompanhará "pessoalmente" as ações do governo na área de saúde.
"Vou usar a força do governo federal para acompanhar a qualidade do serviço prestado", declarou a presidente, que anunciou que fará parcerias com o setor privado.
Segurança
Dilma destacou no discurso o exemplo das ações nas favelas do Rio de Janeiro ao falar sobre segurança. "O estado do Rio mostrou o quanto é importante a ação coordenada das forças de segurança", afirmou.
Ela afirmou que buscará maior capacitação em inteligência e controle das fronteiras e reiterou o compromisso de campanha do combate às drogas, principalmente o crack, "que aflige muitas famílias brasileiras".
Pré-sal
Sobre as descobertas das jazidas de petróleo na camada pré-sal, afirmou que terá "a responsabilidade de transformar a riqueza de pré-sal em poupança de longo prazo".
"Estamos vivendo apenas o início de uma nova era. Pela primeira vez o Brasil vê a chance de se tornar uma nação desenvolvida", disse.
Cultura
"Vamos investir em cultura, ampliando a produção e o consumo em todas as regiões, expandindo a exportação de nossa música e literatura."
Meio ambiente
"Considero uma missão sagrada do Brasil mostrar ao mundo que é possível crescer aceleradamente sem destruir o meio ambiente. Seremos os campeões mundiais de energia limpa, o etanol e as energias alternativas terão grande estímulo."
Política externa
"Nossa política externa estará baseada nos valores clássicos da diplomacia brasileira, entre eles a defesa dos direitos humanos e do multilateralismo."
Guimarães Rosa
A presidente encerrou o discurso fazendo referência a trecho de um poema do - como ela - mineiro Guimarães Rosa:
"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
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