Além disso, nos dias finais da corrida eleitoral brasileira os juízes do País emitiram 21 ordens de censura, segundo pesquisa do Centro Knight para o Jornalismo, do Texas (EUA), e muitas agências de notícias foram multadas ou tiveram de remover conteúdos. "Esse quadro mostra que a censura e a autocensura, que vem junto, estão atingindo níveis muito sérios no Brasil", resume Carlos Lauria, do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.
Lauria, que vive em Nova York, apresentou ontem em São Paulo o relatório Ataques à Imprensa em 2010 - um livrão de 400 páginas, com outro menor sobre América Latina, num encontro promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). "Nossos levantamentos apontam 44 jornalistas mortos em serviço, no ano passado, e 145 presos, em todo o mundo", revela.
A censura ao Estado, hoje em seu 565.º dia, é o destaque de abertura do levantamento sobre o continente. "É espantoso que num país como o Brasil um dos maiores jornais seja proibido de noticiar um grande escândalo, que envolve figuras políticas conhecidas. Não consigo imaginar o Washington Post, por exemplo, sendo proibido de publicar algo sobre um ex-presidente do país." De São Paulo Lauria vai a Brasília, onde se reunirá amanhã com autoridades do Planalto, da Secretaria das Comunicações e dos Direitos Humanos. Sua agenda inclui uma visita ao Supremo Tribunal Federal.
Artifício
Os levantamentos do CPJ, nos cinco continentes, apontam um novo artifício dos governos para impedir o trabalho da imprensa: eles enquadram os jornalistas em crimes de outra ordem, como subversão ou atos contra o interesse nacional, nos quais as leis sobre imprensa não se aplicam. Isso tem ocorrido no Oriente Médio, no Casaquistão, na África.
Na América Latina, o fenômeno mais grave é o misto de censura e autocensura. México, Honduras, Equador e Venezuela são os países onde, segundo o comitê, os jornalistas vivem momentos mais difíceis. "Há regiões onde o crime organizado manda e a lei é ignorada, como no norte do México", lembrou o coordenador. "Em cidades como Puerto Juarez ou Reynosa há uma rotina de assassinatos, perseguições e sequestros. Sem garantias, o jornalista tem de escolher entre publicar ou mudar sua pauta. Assim as informações vão desaparecendo", resume. "É dramático ver 0 que ocorreu em Reynosa. Foram mortas cerca de 300 pessoas em uma semana e não saiu uma linha em lugar nenhum." (No Estadão)
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