Para chegar a esse valor, foram utilizados dados de 4.561 municípios constantes no documento mais recente – 2008 – do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e considera a produção das cidades, tempo médio de abastecimento diário de 20 horas por dia, consumo autorizado não faturado, estimativa de perdas reais (vazamentos) e aparentes (fraudes nos hidrômetros e ramais clandestinos).
Segundo cálculos do especialista, do total de R$ 7,4 bilhões, R$ 4,4 bilhões são recuperáveis com medidas de gestão e investimentos. Ele classifica o número como"avassalador" porque o País necessita de investimentos de cerca de R$ 10 bilhões ao ano para garantir a universalização dos serviços de água e esgoto até 2015. "As empresas brasileiras estão perdendo dinheiro", ressaltou, acrescentando que há um limite para recuperação das perdas. Há um momento em que o custo para redução da perda é maior do que o resultado.
O cenário é reflexo da cultura brasileira de investir na construção de obras novas, o que foi estimulado na primeira etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e ignorar os sistemas já em funcionamento. Uma inauguração traz mais retorno político e pode ter um custo menor do que direcionar recursos para programas de ganhos de eficiência em sistemas antigos. Além disso, existem situações em que o nível de endividamento das empresas é tão alto que viabiliza a tomada de empréstimos e, consequentemente, investimentos.
Empresas como Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama), Companhia de Água e Esgoto do Amapá (Caesa) e Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema) têm o chamado Índice de Perdas de Faturamento (que considera tudo o que foi disponibilizado para distribuição e não foi faturado) acima de 70%, segundo dados do SNIS de 2008. O ideal seria, segundo o secretário nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, Leodegar Tiscoski, que esse número não fosse superior a 20%. A média nacional está próxima dos 40% de tudo o que é produzido.
Depois de anos de esquecimento, o secretário explicou que a primeira etapa do PAC focou investimentos em obras, mas que o governo está preocupado também com a sustentabilidade do sistema no longo prazo. O ajuste será feito no PAC 2 com a criação de uma linha de crédito específica para financiar programas de diminuição das perdas e desperdícios.
Airton Gomes acrescentou ainda que, no fim da década de 60, o país contava com 500 sistemas de abastecimento de água – agora, possui 5,5 mil. Porém, o País não se preparou para isso. "Passamos décadas construindo sistemas. É preciso mudar a cultura de obras. Em tempos de PAC, só se pensou nisso", destacou Gomes. Na avaliação dele, houve um desmonte da cadeia produtiva e agora, mesmo com a existência de recursos para investir, as companhias de saneamento básico estaduais e municipais não conseguem executar.
"Tem um caminhão de dinheiro, mas o setor demora de 4 a 5 anos para se reestruturar. Não tem quem faça projetos. Ou seja, não é uma questão apenas de dinheiro, pois não há quadro técnico", frisou.
O presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, disse que o elevado índice de perda de faturamento das empresas também está relacionado à má qualidade dos produtos utilizados para a construção das redes de abastecimento. (Fonte: estadão)
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