O que pensaria se um cirurgião participasse de uma festa de arromba na véspera de uma operação na qual você é o paciente?
É provável que sua reação fosse negativa. Mas o fato é que não há regras limitando a quantidade de álcool que um cirurgião pode consumir na véspera de um dia na sala de operações.
E isso apesar do fato de 42% dos funcionários do sistema de saúde dos Estados Unidos admitirem já ter ido ao trabalho de ressaca, de acordo com estudo realizado em 1993. Na classe médica, os cirurgiões são conhecidos como particularmente afeitos ao álcool, de acordo com outros estudos e com a observação de muitos profissionais da área.
Assim, um grupo de pesquisadores realizou um experimento incomum, publicado na revista científica Archives of Surgery. Eles reuniram seis cirurgiões muito experientes em procedimentos de laparoscopia - um tipo de cirurgia considerada minimamente invasiva - e os convidaram para jantar num restaurante. Com a comida, foi oferecida aos médicos uma quantidade ilimitada de álcool, seguida pela orientação de que bebessem até se sentirem embriagados.
Os pesquisadores levaram os médicos até suas casas naquela noite e os buscaram na manhã seguinte, deixando-os num laboratório equipado com um simulador que usa a realidade virtual. O aparelho é usado no treinamento das técnicas de laparoscopia.
O estudo se concentrou nos procedimentos de laparoscopia porque eles "exigem muito" das "capacidades cognitivas, perceptivas e visual-espaciais", que podem ser prejudicadas pela bebida.
Os cirurgiões foram testados no simulador às 9h, às 13h e às 16h. Em cada um dos testes, suas habilidades cirúrgicas se mostraram prejudicadas em relação ao resultado de um teste controle.
No entanto, apenas os resultados obtidos às 13h apresentaram piora estatisticamente significativa em relação aos resultados do teste controle. Entre os problemas observados, os cirurgiões cometeram mais erros e foram menos eficientes no emprego do aparelho para queimar tecido como parte do processo cirúrgico. À tarde, os cirurgiões também demoraram mais do que o normal para concluir as cirurgias virtuais, mas, no teste realizado às 9h, eles concluíram o procedimento num tempo abaixo do considerado padrão.
Todos os cirurgiões foram testados com um bafômetro antes do início das cirurgias virtuais. Cinco dos seis participantes passaram no teste.
Mas os pesquisadores não ficaram animados com o pequeno número de pessoas que disseram sentir os efeitos da ressaca. Em vez disso, eles se disseram preocupados com o fato de os cirurgiões terem enfrentado problemas nas operações virtuais apesar de aparentarem estar sóbrios.
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