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quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ambientalistas são mortos em tocaia

José Cláudio e Maria

Os camponeses José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva, ambos com 54 anos de idade, foram assassinados por volta de 8 horas de ontem em uma estrada vicinal de Nova Ipixuna, a 42 km da sede do município. Segundo moradores das redondezas, José e Maria tinham saído de casa em uma motocicleta Honda Bros em direção a Nova Ipixuna. Depois de 8 km de viagem, eles foram surpreendidos por dois homens encapuzados que vinham em sentido contrário, em outra motocicleta. A dupla disparou vários tiros contra o casal, que morreu na hora.

De acordo com testemunhas, o casal foi vítima de uma emboscada. Após o crime, os bandidos fugiram. Carla Santos, sobrinha de José Ribeiro, conta que as vítimas lideravam a Associação dos Pequenos Produtores Rurais do projeto de assentamento agroextrativista Praia Alta/Piranheira e denunciavam, desde 1997, a ação de madeireiros que destroem a floresta naquela região. José e Maria eram casados há 23 anos.

As vítimas denunciaram à Delegação de Conflitos Agrários e a outras autoridades que estavam sendo ameaçadas de morte pelos madeireiros, mas, apesar disso, nunca conseguiram proteção policial. Maria do Espírito Santo também integrava o Conselho Nacional de Seringueiros e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas e já havia denunciado as ameaças e os crimes ambientais a diversas entidades ligadas à proteção dos direitos humanos. "Meus tios viviam do extrativismo sustentável, coletando óleo de andiroba, castanha, além de cupuaçu e açaí. É uma perda não apenas para a família, mas para o meio ambiente, que perde dois defensores das árvores nativas da região. Eles mereciam proteção policial", disse Carla Santos. Ela revelou ainda que Maria do Espírito Santo se preparava para a formatura no curso de Pedagogia do Campo. No dia 15 de março, ela defendeu o trabalho de conclusão de curso (TCC) no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Marabá.

Logo após o crime, equipes do Instituto Médico Legal (IML) e da Divisão de Homicídios da Superintendência Regional de Polícia Civil seguiram para o local das mortes. Os corpos chegaram para perícia no IML de Marabá por volta de 18 horas. Os extrativistas serão velados na casa de parentes, no bairro São Félix, em Marabá. Depois, serão sepultados no cemitério Jardim da Saudade, no bairro Nova Marabá.

Morte anunciada - Em novembro do ano passado, quando foi palestrante em um fórum internacional, José Cláudio Ribeiro falou do risco que corria. "A mesma coisa que fizeram no Acre, com Chico Mendes, querem fazer comigo; a mesma coisa que fizeram com irmã Dorothy Stang, querem fazer comigo. Posso estar falando hoje com vocês e daqui um mês vocês podem ver a notícia de que eu já faleci", sentenciou.

Na palestra, José disse que em 1997, quando foi criado o projeto de assentamento extrativista, a cobertura vegetal na região chegava a 85% do território, com florestas nativas de castanha e cupuaçu. "Hoje resta pouco mais de 20% dessa cobertura", disse ele, que se autodenominava castanheiro desde os 7 anos. "Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora, porque eu vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor, é como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim, que vivo na floresta, e pra vocês também, que vivem nos centros urbanos", disse.

Sobre o medo diante das ameaças que afirmava sofrer, o castanheiro resumiu, na palestra: "Enquanto eu tiver forças pra andar, estarei denunciando todos aqueles que prejudicam a floresta".

Dilma determina ação da Polícia Federal

A presidente Dilma Rousseff determinou que a Polícia Federal investigue as mortes de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Segundo o Planalto, Dilma ficou sabendo do assassinato pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e pediu ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que tomasse providências necessárias junto à Polícia Federal.

Em nota, a ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Maria do Rosário Nunes, afirma o seguinte: "Tão logo recebemos a notícia da morte dos assentados do projeto agroextrativista Praia Alta/Piranheira - que explora madeira e castanhas de forma sustentável e denuncia a extração ilegal de madeira na região e supostos crimes ambientais -, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos entrou em contato com a Polícia Civil do Pará e com a Polícia Federal. A Polícia Civil confirmou que o crime foi de execução na estrada vicinal que leva ao projeto, que conta com 400 famílias assentadas. José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, cuja militância na área ambientalista era reconhecida nacional e internacionalmente, não participavam de nenhum programa de defensores de direitos humanos do governo federal".

Ainda segundo a ministra-chefe, "todo e qualquer assassinato deve ser condenado com veemência, bem como a criminalização dos movimentos sociais e dos trabalhadores rurais. Essa execução motivada por uma luta legítima de defesa ambiental é uma afronta aos direitos humanos". Segundo a Ouvidoria Agrária Nacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, entre 2001 e 2010, 58 pessoas foram assassinadas no Pará por conta de conflitos na terra e 62 mortes estão sob investigação no Estado. "Isso deixa claro que esse assassinato não é caso isolado, mas com o objetivo de calar a voz de lutadores de uma justa e honrosa causa", afirma.

Diz ainda a nota que "o governo brasileiro não aceita que esse tipo de prática ocorra em nosso País e não poupará esforços para identificação e responsabilização dos criminosos. Reiteramos que a presidenta Dilma Rousseff determinou à Polícia Federal que investigue o caso. Da mesma forma, estou determinando que o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) acompanhe a situação, em especial no apoio às famílias assentadas e no trabalho investigativo, priorizando os Direitos Humanos de todas as pessoas. Exigimos das autoridades do Pará uma rigorosa investigação e ação enérgica para evitar que esse e outros casos de execuções sumárias fiquem impunes".

Leia mais aqui >Casal é morto em emboscada

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