A revista 'Veja' publica, na edição que chega às bancas esta semana, a reportagem intitulada 'Pobres Homens Ricos', que denuncia a utilização de 'laranjas' por políticos e empresários, prática notabilizada no Pará pelo ex-senador Jader Barbalho, que para esconder a posse de um canal de televisão jamais declarado à Receita Federal, registrou a concessão em nome do empresário Joaquim da Costa Pereira. O 'laranja' morreu ano passado e os filhos dele não querem entregar a TV ao empresário.
Na matéria de 'Veja', é revelada a dura rotina do pedreiro Roberto Ferreira da Cunha, que mora de favor com os três filhos na casa de uma irmã e acorda diariamente 5 horas para trabalhar. O trabalhador, porém, tem uma conta bancária com mais R$ 8 milhões. Outro 'laranja' é o vendedor Madson Martins de Oliveira. Os dois eram usados pelo senador Romero Jucá (PMBD/RR), líder do governo, e o irmão dele, Oscar Jucá Neto, para ocultar o nome dos Jucá em empresas que faziam lucrativos negócios com o governo.
'O pedreiro não sabia que ele é um dos mais novos integrantes da seleta categoria dos milionários brasileiros. Não sabia que é um bem-sucedido empresário que enriqueceu fazendo negócios com o governo. Não sabia que ficou milionário graças a um senador da República, que ele nunca ouvira falar. Roberto Cunha não sabia porque não era mesmo para ele saber. Roberto foi escalado para ser um ‘laranja’, tendo seu nome usado criminosamente para ocultar os verdadeiros beneficiários de mais um golpe contra os cofres públicos', revela a reportagem, assinada pelos jornalistas Rodrigo Rangel, Paulo Celso Ferreira e Hugo Marques.
O pedreiro aparece registrado como dono de uma empresa de armazenagem chamada de Renascença, que mantinha há anos um litígio com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), cujo diretor financeiro era Oscar Jucá Neto, irmão mais novo do senador Romero Jucá. A empresa já teve como cotista um primo do senador Jucá e cobrava uma dívida milionária da Conab. À frenta da empresa, 'Jucazinho' mandou pagar os R$ 8 milhões.
'O pedreiro e o vendedor encarnam o papel daquilo que o jargão do submundo da corrupção chama de ‘laranja’. Suas identidades foram usadas por pessoas que têm algo a esconder. Os interesses da Renascença são defendidos por gente bem mais graúda - e influente o bastante para fazer o irmão do poderoso líder do governo no Senado arriscar a própria cabça e efetuar o pagamento à revelia de todas as normas legais e dos princípios de boa administração. Na Conab, havia um lobby cerrado para que o dinheiro da Renascença fosse liberado. Não por coincidência, logo depois da decisão de Jucazinho de pagar os 8 milhões de reais, eis que surgiu o homem que se apresentou como o verdadeiro dono da empresa. Trata-se de Hélio Mauro Umbelino Lôbo, ex-deputado federal e prefeito biônico de Goiânia na ditadura', segue a reportagem.
O ex-parlamentar Umbelino Lôbo confirma que, a pedido de um amigo, transferiu as cotas da Renascença, mas diz que não sabia que os novos donos eram 'laranjas'. Por meio de procuração, Hélio continua com todos os direitos de operar a empresa, inclusive abrir e movimentar as agora milionárias contas bancárias.
TCU mandou relatório ao Ministério Público da União e à Câmara
Os jornalistas de 'Veja' lembra que os 'laranjas' são personagens comuns na cultura brasileira. 'Normalmente são pessoas pobres que emprestam seu nome - sem saber ou sabendo em troca de algum dinheiro - para ocultar a identidade dos verdadeiros donos de fortunas construídas de maneira ilegal'.
Há duas semanas, o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu a maior fiscalização já feita sobre os sistemas de compras do governo federal. A investigação começou em abril do ano passado e analisou 142.524 contratos firmados pelo governo Lula entre 2006 e 2010 por órgãos públicos e empresas estatais. O montante ultrapassa a cifra de R$ 104 bilhões.
Os repórteres tiveram acesso ao relatório, 'cujos dados são uma radiografia de como a inventividade de maus empresários, somada à leniência dos órgãos públicos, leva o País a jogar fora boa parte dos impostos arrecadados com rigor draconiano de quem trabalha'. O relatório apresenta mais de 80 mil indícios de irregularidades, que vão de contratos assinados fora do prazo permitido por lei à contratação de empresas de parlamentares, de licitações com empresas fichas-sujas à participação de funcionários públicos em negócios com empresas das quais são sócios, da farra de aditivos ao uso de empresas-laranja para manipular licitações.
O documento do TCU foi encaminhado para o Ministério Público Federal e ao Conselho de Ética da Câmara 'para providências cabíveis contra os parlamentares, servidores e empresas'. (No Amazônia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário