De batom vermelho, meias arrastão pretas, rosas no cabelo e até peladas elas tomaram as ruas a fim de transformar o que era para ser um xingamento em uma exigência de respeito para a última fronteira física, ainda violada, ainda subjulgada à vontade masculina: o próprio corpo. Quase mil mulheres se reuniram, ontem de manhã, na Marcha das Vadias, em Belém, repetindo um movimento iniciado no Canadá desde que um policial "orientou" mulheres a não se vestirem com "vadias" para prevenir estupros. "Se ser vadia é ser uma mulher livre para usar o próprio corpo como achar melhor, somos todas vadias", resumiu Leila Bentes, 27 anos, uma das organizadoras da marcha na capital.
Mais contidas do que em outras cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, onde as mulheres resolveram afrontar o machismo com o escracho da nudez e roupas mínimas, as "vadias" belenenses encontraram formas muito semelhantes a um carnaval para protestar e exigir respeito. A advogada da Secretaria Paraense de Direitos Humanos, Eliceli Abdoral, saiu de casa vestida de negro com uma fantasia remetendo a uma lenda urbana muito conhecida em Belém, a da "Moça do Táxi". Por baixo das vestes em luto, uma calcinha vermelha. "É uma forma escrachada de exigir respeito, de combater o preconceito contra a mulher. O corpo é nosso. Temos o direito de usar o corpo e se vestir como a gente quiser", disse ela.
Leila explicou que a tática de usar o "vadia", tradução do termo "sluts" em inglês, é uma tática de reverter o que é pejorativo em algo novo que possa gerar reflexão. "É como o movimento gay tem feito. Tem usado termos que antes eram tidos como negativos e afirmando uma série de conceitos positivos em torno deles para gerar um debate sobre direitos dessas minorias. As mulheres estão fazendo isso também", comentou a ativista.
Em uma cidade conservadora como Belém, a marcha chegou a ser confundida por alguns. "Houve até um homen que mandou um e-mail perguntando quanto era o programa para uma das organizadoras", recordou Leila, rindo. Mas, para ela o simples fato de levar uma quantidade de mulheres para as ruas chamando atenção para a violência já é uma grande vitória. "Quem sabe no ano que vem a marcha seja maior e as pessoas entendam melhor o espírito do movimento", afirmou.
Na marcha, alguns números foram mencionados, como as 15 mil queixas feitas nos primeiros seis meses de vigência da Lei Maria da Pena, no Pará. Outro dado espalhado pelos autofalantes da manisfestação é que o Estado é o terceiro a receber mais denúncias pelo número 180, destinado para coletar relatos de violência física, moral, psicológica e sexual contra as mulheres. "Estamos avançando, mas queremos mais. Queremos que nos respeitem pelo que somos e não porque estamos vestidas deste ou daquele jeito", disse Joseane Quemel, 42 anos, integrante do movimento "Mulheres em Luta" e também participante da Marcha das Vadias. (No Amazônia)
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