Os moradores do edifício Wing, no Umarizal, exigiram ontem, no Ministério Público, perícia independente, feita por empresa de fora do Estado, para avaliar a segurança do prédio que sofreu estalos na estrutura no último final de semana. A proposta foi apresentada ao advogado da Porte Engenharia, Abraham Assayag. Até que saia o laudo independente, eles exigem que a empresa continue pagando as diárias de hotel.
Quanto à indenização, o acordo será mais difícil. Os moradores querem que a construtora compre de volta os apartamentos pelo preço de mercado. A empresa rejeita a proposta, mas se dispõe a negociar os danos morais. "Não existe esta possibilidade, estamos aguardando ainda os laudos técnicos para saber a razão do abalo. O que a empresa se propõe é ressarcir os danos morais", afirmou Assayag.
Para os moradores, a reparação dos danos morais não é suficiente. "Ontem teve mais dois estalos. Se não fosse tão grave não teria porque até hoje (ontem) a rua estar interditada. Eu comprei um produto que não presta, tanto que o material se esfarinha nas nossas mãos, eu não tenho coragem de voltar pra lá. O contrato tem vícios e se a promessa não foi cumprida eu posso devolver o produto porque a lei me protege. Ninguém mais me convence que aquilo é seguro", afirmou o ex-síndico do prédio, o advogado Darwin Boerner, explicando que uma cláusula do contrato prevê a devolução plena dos valores, mais perdas e danos. Cada apartamento está avaliado em torno de R$ 1 milhão.
Além dos moradores do prédio, os vizinhos afetados também estiveram na reunião. O promotor de Justiça de Direitos do Consumidor, Marco Aurélio Nascimento, e representantes do Corpo de Bombeiros ouviram relatos de problemas que se arrastam desde a entrega dos apartamentos, há dois anos. - "Com menos de dois meses caiu uma placa grande da pastilha, o elevador vivia quebrado e tem um apartamento no 13º andar em que as rachaduras vão de uma ponta a outra da sala", afirmou o funcionário público Altemar Cardoso. Ele questionou a credibilidade da perícia patrocinada agora pela empresa. Segundo ele, seis meses antes do prédio ser concluído, a empresa já contava com o habite-se da prefeitura.
Após a queda do Real Class, cujo cálculo estrutural foi feito pelo mesmo engenheiro Raimundo Lobato, perícia paga pela Porte Engenharia garantiu que não havia problema na estrutura do prédio. "Como vamos confiar em uma vistoria feita pelos mesmos engenheiros que há três meses disseram que estava tudo bem? Temos documento assinado pelo dono da Porte, no qual reconhece 65 inconformidades nunca resolvidas", diz Cardoso, para quem se a empresa não comprar de volta os apartamentos, dificilmente os moradores conseguirão repassar os imóveis sem prejuízo. "Quem vai querer comprar um apartamento que teve que ser evacuado porque ameaçava desabar?", indagou.
Dalva Danin, que mora no primeiro andar do prédio - o equivalente ao quarto pavimento do edifício - disse que percebeu a má qualidade da obra assim que se mudou. "Na hora da chuva mais forte, brotava água do ralo, inundou todo meu apartamento, eu nunca tinha visto uma coisa como esta. Fora os gastos que tivemos que fazer com a reforma do apartamento, porque nada prestava", afirmou.
Moradores das casas vizinhas também denunciaram as condições da construção do edifício. "Esse inferno já dura seis anos. Quando estava sendo construído, não foram colocadas as telas de proteção. Minha mãe quase morreu uma vez quando um pedaço de pau caiu no nosso telhado", conta a moradora Lindzey Câmara.
A lista de reclamações parece não ter fim. Segundo o relato dos moradores, vistorias feitas pelo Corpo de Bombeiros no local, negligenciaram, inclusive, na fiscalização das portas corta-fogo e o funcionamento das luminárias nas saídas de emergência.- "Nunca funcionou, esta obra tem muitas irregularidades. O que estamos vivendo são os desdobramentos de problemas que estamos há muito tempo tentando resolver. Mas eu não tenho mais confiança, mesmo com o laudo, de voltar pra lá", reclamou Willian Castro.
Os moradores também pediram ao Ministério Público que embargue as obras da Porte Engenharia até que as vistorias sejam concluídas. O promotor Marco Aurélio Nascimento informou, porém, que uma ação investigatória só será proposta se houver irregularidades. Por enquanto, a orientação, segundo ele, é mediar um ajuste de conduta. "O Ministério Público quer garantir a segurança dos moradores, o ressarcimento dos danos e que a construtora cumpra os compromissos assumidos junto ao MP", disse.
Laudo técnico feito por contratada da Porte deve sair hoje
Bombeiros, Defesa Civil estadual e municipal e engenheiros da Porte Engenharia acompanharam, ontem de manhã, a perícia da empresa contratada pela construtora para analisar os efeitos da fissura no pilar do edifício-garagem na torre residencial do Wing, no Umarizal. A expectativa é que o laudo técnico seja divulgado hoje. Pela manhã, iniciou-se a reparação no pilar, escorado desde anteontem, após o estalo que forçou a evacuação do prédio, ainda na madrugada.
O trecho da rua Diogo Móia, entre as avenidas 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, ficará interditado até o fim da perícia e do reparo. Moradores foram ao prédio buscar pertences pessoais, mas a maioria evitou comentários. Moradores vizinhos também estiveram no local. O Corpo de Bombeiros comandava a entrada e saída na área isolada: 15 minutos para retirar os pertences nas residências. A subida era pelo elevador de serviço, sob escolta de um bombeiro. O mesmo procedimento ocorreu nas casas vizinhas interditadas.
Leila Acatauassú mora no quinto andar do Wing desde o lançamento, há quase dois anos, e está hospedada no Belém Hilton. "Deus está com o cabo de aço segurando. É uma tristeza, porque se trata do sonho de 26 famílias. Estou no hotel com tudo pago pela construtora, desde hospedagem até alimentação. Nós estávamos dormindo quando aconteceu isso. Todos os carros foram retirados da garagem. Os funcionários estão apenas trabalhando na área externa", disse a moradora, que retirou roupas e objetos pessoais do apartamento.
Descontrole sobre construções urbanas mofa na CMB há 1 ano - O problema no edifício Wing reacendeu, na Câmara Municipal de Belém, a polêmica sobre o descontrole das construções urbanas na capital. Propostas de lei que limitam a altura de prédios e exigem estudos sobre o impacto da obra na infraestrutura da área mofam na pauta há quase um ano.
Para o vereador Carlos Augusto Barbosa (DEM), o legislativo não pode fugir de uma de suas funções que é debater temas de interesse da sociedade como a segurança na construção civil e a ocupação urbana. Mas é o que tem acontecido.
O vereador citou os oito meses decorridos de seu pedido para que a Câmara realizasse um seminário sobre o Plano Diretor Urbano (PDU) sem que o evento ocorresse e a demora para que os projetos da Outorga Onerosa e Impacto de Vizinhança sejam colocados em votação. "Aqui é o palco pra discutir o impacto de vizinhança. Se cair mais um prédio, nós teremos responsabilidade porque deveríamos ter votado a outorga onerosa", comentou Barbosa.
Documentos apontam 62 irregularidades que foram ignoradas - Moradores do edifício Wing revelaram documentos que provam pelo menos 62 irregularidades no prédio, constatadas pela empresa HomePlan, no último trimestre do ano passado, mas que foram negligenciadas pela Porte Engenharia, que reconheceu os problemas, ainda em dezembro de 2010, e prometeu resolvê-los em 60 dias, o que não aconteceu. Segundo os moradores, quando descobriu-se que o engenheiro cauculista do prédio, Raimundo Lobato da Silva, era o mesmo do edifício Real Class, que desabou em janeiro deste ano, o condomínio pressionou a construtora Porte por um novo laudo, desta vez do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Pará (Crea-PA), que não constatou nenhum problema estrutural.
Dentre as irregularidades apontadas pelo laudo da HomePlan, estão "manchas de infiltração na casa de máquinas provenientes das caixas d’água", "falta de iluminação no local" e "ferrugem e falta de pintura na porta de acesso da casa". Outras pedências, das 62 listadas, são: erros de tamanho nos suportes de extintores e problemas nas portas corta-fogo, por exemplo. Moradores ainda denunciam pastilhas que soltam das paredes e até cheiro de esgoto nos apartamentos.
Contudo, o engenheiro Nagib Charone, que assina o laudo do Crea-PA, argumenta que o documento continua correto, já que, de acordo com sua análise, "o edifício não está apresentando problema estrutural, mas sim da qualidade do material empregado". (Amazônia)
lamentável o que os ja sofridos paraenses honestos estão enfrentando com a incapacidade e incompetência profissional de algumas pessoas. ha de ter uma decisão judicial que proteja estas e futuras imperícias praticadas por, felizmente, poucos profisionais da área da engenharia. verificar bem os nomes dos que assinam os projetos antes de entrar numa "fria" dessas. regina silva. de floripa.
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