A ferramenta, chamada Cadastro Nacional de Implantes Mamários (CNIM), é uma iniciativa inédita da própria sociedade de médicos e não envolve órgãos do governo. O objetivo é ter uma ferramenta que rastreie de maneira eficaz todas as mulheres que colocaram ou retiraram próteses, incluindo a numeração, marca e os motivos do implante.
Segundo a cirurgiã Wanda Elizabeth Correa, presidente da Comissão de Silicone da sociedade de cirurgia plástica, o projeto começou a ser planejado há cerca de oito anos e ganhou fôlego depois de um surto de contaminação por uma bactéria após implante de silicone na região de Campinas (mais informações nesta página). Assim como hoje, naquela época não havia um cadastro unificado, o que dificultou a localização de mulheres que poderiam apresentar problemas.
"Esse é um projeto antigo, não surgiu de uma hora para outra. Foram anos de trabalho, de pesquisa e de projetos, para definir esse protocolo. Já contratamos a empresa responsável e agora estamos na fase de cadastramento dos médicos", diz.
Segundo Wanda, a sociedade de cirurgia plástica forneceu à empresa o banco de dados com os nomes de todos os cirurgiões para que eles sejam cadastrados e avisados. Assim que terminar o cadastramento, os médicos já poderão começar a alimentar o programa com dados das pacientes.
Sigilo. Segundo Wanda, assim que fizerem um implante de silicone, os cirurgiões terão de inserir os dados no cadastro. De acordo com ela, essas informações serão mantidas totalmente em sigilo - tanto os dados dos médicos quanto os das pacientes.
Para ter acesso ao sistema, o médico terá de usar uma senha e será identificado por um número. Ele não conseguirá ver dados das outras mulheres nem dos outros médicos - só terá acesso aos dados gerais.
"Se não fosse dessa maneira, os médicos não informariam. Ninguém quer tornar público o número de pacientes e o número de próteses que implanta", explicou Wanda.
Segundo ela, a sociedade possui cerca de 5 mil cirurgiões plásticos cadastrados e, se todos preencherem os dados corretamente, essa será a maneira mais fiel de rastrear as próteses de silicone no Brasil.
Problema atual. O cadastro nacional começará a funcionar num momento em que o País enfrenta problemas envolvendo a prótese de silicone da marca francesa Poly Implant Protheses (PIP) e não sabe exatamente quem são as mulheres que as usam nem onde elas estão.
"Se esse cadastro já estivesse funcionando há alguns anos, seria muito mais fácil saber onde estão essas mulheres que usam o implante PIP para chamá-las para uma reavaliação", diz Wanda.
As próteses PIP foram distribuídas no Brasil entre 2005 e 2010, quando tiveram a sua venda suspensa porque descobriu-se que foram fabricadas com silicone industrial, de qualidade inferior ao produto para uso médico. Elas apresentavam taxa de rompimento até cinco vezes maior que outras marcas.
Para tentar rastreá-las para poder fazer um serviço de vigilância, a Anvisa teve de recorrer à empresa importadora. O objetivo é descobrir em que cidades as próteses foram compradas e, assim, pedir que clínicas e hospitais identifiquem as pacientes para que sejam acompanhadas.
Até o momento, sabe-se que ao menos 12 mulheres fizeram queixas na Anvisa relatando problemas com as próteses PIP. O mapeamento completo deverá ser informado pela agência na quarta-feira, depois de uma reunião com entidades médicas.
Ao todo, o Brasil importou 34.631 unidades de próteses da marca PIP - cerca de 24,5 mil foram comercializadas e serão rastreadas e 10.680 foram apreendidas anteontem pela Vigilância Sanitária do Estado do Paraná na sede da empresa. Segundo a Anvisa, todo esse material será descartado. (Estadão)
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