Infiltrações, rachaduras, estalos e queda de reboco são alguns dos alertas visíveis e sonoros de que a estrutura de um prédio não vai bem. Situações como essas têm deixado muitos brasileiros preocupados, por conta das várias notícias de desabamento de edificações em todo o País. O problema é mais preocupante quando se trata de edifícios antigos, seja comercial ou residencial construídos entre as décadas de 50 e 70 e com mais de dois andares.
A capital paraense não foge ao cenário brasileiro, tão atual que não precisa andar muito pela cidade para se registrar este tipo de situação. Dois bons exemplos dos riscos que a falta de conservação de um prédio pode gerar à população, estão localizados no coração de cidade. São dois prédios que comportaram órgãos do governo federal, ambos desativados há pelo menos cinco anos e localizados na avenida Presidente Vargas: um fica na esquina da Senador Manoel Barata, onde trabalhavam servidores do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps); e o outro localizado está na esquina da rua Ó de Almeida, unidade do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os dois edifícios são vistos hoje pela população, sobretudo, para quem trabalha no entorno deles ou transita diariamente às suas proximidades, como ameaças por conta de um possível desabamento. "A gente só vem trabalhar aqui porque é necessário, já que não tem como sairmos daqui", enfatiza a funcionária de uma banca de revista, localizada em frente ao prédio do antigo Inamps, Laura França, de 35 anos.
O colega de trabalho dela, Raimundo Costa, de 55 anos, afirma que pedaços de concretos já caíram da janela em cima da banca e dos táxis, que têm ponto de embarque e desembarque em frente ao prédio. Segundo ele, há menos de dois anos o Corpo de Bombeiro e Defesa Civil foram chamados e estiveram no local e constataram uma série de problemas, porém sem apontar um possível risco de desabamento.
No prédio do INSS, a poucos metros do antigo Inamps, os trabalhadores lamentam a não revitalização do patrimônio público. "Este prédio é muito antigo e fica aí sem utilidade nenhuma. Se não fizerem nada será mais um esquecido na cidade", comenta o servidor público Antônio Carlos Sousa Santos, de 40 anos, que trafega constantemente pelo local.
Servidores da Adepará enfrentam rotina de medo por desabamento
Outra edificação que tem tirado o sono de trabalhadores é o que atualmente comporta os mais de 200 servidores da Agência Agropecuária do Pará (Adepará), localizado na travessa Piedade, próximo à avenida Governador José Malcher, no bairro do Reduto. Alugado há sete anos o prédio não tem mais condições de abrigar a Agênia. O órgão espera fazer a mudança para um outro espaço, com endereço certo na rodovia Augusto Montenegro. Os motivos são a falta de espaço para atender os novos servidores e, sobretudo, os problemas estruturais do prédio de três andares e com dois blocos.
"A situação aqui é bem preocupante, porque além das inf iltrações em toda a estrutura, ainda tem a queda dos forros, cupim, as paredes rachadas, azulejos soltando, piso com afundamento e lacunas com fissuras", pontua o gerente de Material e Patrimônio, Marcelo Amoras.
Segundo ele, o prédio deve ter entre 15 a 20 anos de construção, mas nos últimos dois anos ficaram evidentes os problemas de sua estrutura. Quem passa por ele não imagina a fragilidade. O setor mais prejudicado é o almoxarifado, onde trabalhavam mais de dez pessoas e que foram transferidas para o setor financeiro, por causa da queda do forro.
Para alívio de todos os servidores, a atual gestão estadual considerou toda a situação de precariedade do prédio e deu aval para que a direção da Adepará procurasse outro desde o ano passado. Mas, apenas no início deste ano é que encontraram. O aguardo, agora, é só das obras de adaptação do novo espaço para receber os servidores estaduais lotados na Adepará.
Especialista recomenda muita atenção
O engenheiro civil e especialista em Segurança do Trabalho do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Pará (Crea-PA), Alexandre Ferreira, informa que são vários os sintomas de um prédio com risco de desabamento. Segundo ele, podem ser visíveis ou ocultos. "Os sinais visíveis e imediatamente percebidos são as manifestação de infiltrações de teto e parede, queda de reboco, queda de revestimentos, surgimento de trincas generalizadas nas paredes ou tetos, portas emperradas e pisos desnivelados", esclarece.
Mas, observa ele, o perigo também reside nos defeitos ocultos, que poderão ser imediatos e significativamente danosos, decorrentes de ações de infiltração, falta de manutenção das instalações elétricas e hidrosanitárias. Alexandre chama a atenção da população para um problema, considerado por ele crucial e silencioso: as reformas internas feitas pelos proprietários, que se definem ao promoverem a abertura de vãos, retirada de paredes, construção de sacadas, construção de pavimento.
O especialista afirma que os prédios antigos apresentam normalmente uma alta relação de estabilidade, entre a superfície de ocupação e a altura, "proveniente de uma postura cautelosa, muitas vezes decorrente de uma tecnologia de materiais e de cálculo, na época, ainda muito escassos". Diferente dos prédios mais novos - em função da escassez de espaço e da alta tecnologia de materiais e cálculos matemáticos - considerados ousados, agressivos, mais altos e que apresentam balanços de lajes, pilares mais esbeltos, concentram maior carga nos pilares, exigindo uma apurada tecnologia de fundações e do concreto da supraestrutura.
Ou seja, há prédios antigos muito bem conservados e há prédios novos que não são conservados, ou vice-versa. Para ele, os materiais, peças e equipamentos, de que são constituídas as edificações são finitos, logo, precisam de reparos, trocas e manutenção periódicas, "o que não é uma prática corrente em muitos prédios. Assim, o assunto de prédio antigo ou novo passa pelas condições do plano e frequência de manutenção, que o prédio é tratado. Acrescenta-se a isso as exigências de manutenção que devem passar as instalações internas dos apartamentos - de obrigação do condômino -, e pelas áreas comuns da edificação - obrigações do síndico".
Por este motivo, Alexandre ressalta a importância do manual do proprietário e do manual do síndico, orientações que não existiam décadas atrás. Atualmente, as construtoras ou incorporadoras dos prédios novos são obrigadas, pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), Lei 8078/1990, entregar aos proprietários dos imóveis, porque indicam as garantias e plano de manutenção que devem ser feitos para a conservação do imóvel.
Na opinião do engenheiro, a regra básica para a boa conservação de uma edificação é atender as indicações dos manuais, onde estão descritos os sistemas construtivos, vida útil, normas aplicáveis, indicação de garantias, perda de garantia e plano de serviços de manutenção e de inspeção, que observados, promoverão a sobrevida do imóvel. Ele completa lembrando que os prédios devem ser submetidos a uma avaliação periódica de engenharia, nas fundações, estruturas, instalações elétricas, hidrosanitárias, de elevadores e nas instalações e equipamentos de segurança contra incêndio. O resultado é fornecido ao condomínio e aos condôminos sob forma de Laudo de Engenharia.
Corpo de bombeiros diz que importante é salvar a própria vida
O especialista em Operação de Salvamento e Resgate, o oficial do Corpo de Bombeiros do Pará tenente Marco Scienza informa que no caso de qualquer suspeita de desabamento de um prédio ou casa, a orientação é evacuar imediatamente o imóvel, mas com tranqüilidade para evitar outros tipos de acidentes.
Depois disso, avisar aos órgãos de segurança, como o Corpo de Bombeiros, para que seja feito as primeiras avaliações do dano. Posteriormente, dependendo do resultado, é que são chamados os outros órgãos, como Defesa Civil, Crea-PA e Ministério Público, considerando que o assunto afetará uma coletividade de pessoas inclusive os vizinhos e transeuntes.
Ele aponta como um problema sério da população, no momento que é anunciada a suspeita de desabamento, pensar de imediato em resgatar os bens materiais e não a sua vida. "O correto é evacuar o prédio imediatamente, sem carregar nada. Apenas depois de descartado o desabamento pelos especialistas, voltar ao imóvel e aí sim tirar os seus bens. O importante a pessoa pensar é salvar a sua vida", enfatiza.
Em geral, os órgãos de segurança fazem a verificação na edificação, porém não é garantia de cem por cento. Por isso, a recomendação dos especialistas é que toda a sociedade fique em alerta aos riscos de desabamento dos prédios e siga as orientações dos manuais do proprietário e do síndico do imóvel para conservá-lo. (Amazônia)
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