Lago está coberto por plantas (Foto: Janduari Simões)
Há menos de dez anos quem quisesse fazer uma imagem do Lago Bolonha, na reserva do Utinga, depararia com uma imagem quase paradisíaca de um lago bonito, com cores vivas e águas aparentemente límpidas. Cerca de uma década depois, o cenário é outro. Quase não se vê mais a água, coberta por uma vegetação verde chamada de macrófitas e um assoreamento crescente. Indicadores claros de que algo errado está ocorrendo no principal abastecedouro de água de Belém. Responsável pelo fornecimento de água para aproximadamente 70% da Grande Belém, o Bolonha corre risco e pede ajuda. “O lago Bolonha está à beira de um colapso”, avalia Geraldo Basílio, 56 anos, membro do Fórum dos Lagos, formado por centros comunitários de bairros banhados pelos lagos Bolonha e Água Preta.
Basílio chegou ao bairro do Castanheira há cerca de 30 anos, quando o lago ainda aparecia majestoso, poucos metros de onde mora. O cenário hoje é outro. “Em uma reunião que participei, o representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente disse que o Bolonha estaria 80% coberto por macrófitas e 50% assoreado”, afirma o conselheiro do Parque Ambiental do Utinga, Raimundo Almeida, 38 anos.
“Os dois lagos têm curto tempo de vida. Estão sendo rapidamente assoreados”, alerta a professora Hebe Morganne, pesquisadora da Universidade do Estado do Pará (UEPA), que há anos pesquisa a ação humana em alguns dos principais reservatórios de água em Belém.
Segundo Morganne, se há macrófitas no lago, é porque há nutrientes, ou seja, nitrogênio e fósforo, cujas fontes provavelmente são de esgotos. “A água dos lagos está sendo abastecida por esgotos, o que mostra que há sim uma pressão urbana muito acentuada em torno dos lagos”, diz ela. Mesmo com a capacidade técnica para tratamento do líquido, o risco de contaminação é grande.
“Não se pode pensar isoladamente. No Brasil até as águas brutas tem limites permitidos pela legislação do Conama 357”, diz Hebe Morganne. A professora explica que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) divide as águas superficiais em diferentes classes. “Cada classe tem padrões e limites de valores. Um corpo hídrico tem que ter requisitos de qualidade. Não posso, por exemplo, ter muita matéria orgânica em uma água que vai passar por tratamento convencional, como a cloração, porque posso gerar subprodutos tóxicos”, diz. “Temos que ter pelo menos um mínimo de não contaminação para que o tratamento da água seja mais eficaz e menos danoso. Isso porque o tratamento convencional não é eficaz para tudo”, complementa.
Poluição é o maior problema - O professor Carlos Bordalo, estudioso dos mananciais, acredita que os grandes agentes poluidores dos lagos, entretanto, não são exatamente as pessoas que moram ao redor dos mananciais. “A única ação que foi quase totalmente concluída para a proteção dos mananciais foi a construção de uma cerca em aramado, que é positiva no sentido de demarcar que ali há uma área a ser preservada, mas que de forma nenhuma impede a poluição das águas”, argumenta, embora não haja nenhuma afirmação no sentido de que apenas os moradores do entorno sejam responsáveis pela poluição dos lagos. “Quem na verdade polui os lagos é toda a cidade de Belém”, diz ele.
DIAGNÓSTICO - Num diagnóstico ambiental dos mananciais dos lagos Bolonha e Água Preta, as pesquisadoras Hebe Morganne, Katiuscia Fernandes do Nascimento e Mayre Martins ressaltam a pressão urbana sobre os mananciais. “O aumento da densidade demográfica nas quatro últimas décadas, decorrentes, sobretudo, da migração urbana dos municípios das Zonas Bragantina e do Salgado paraense em direção a Belém forçou a instalação de núcleos urbanos pela área periférica da cidade. Com isso, vieram todos os problemas decorrentes da ocupação sem planejamento e infra-estrutura urbana adequada. Neste contexto estão inseridos os Mananciais do Utinga – Lagos Bolonha e Água Preta – principais mananciais de abastecimento de água potável da cidade de Belém”, afirmam.
Ao avaliar a qualidade das águas superficiais dos lagos, as pesquisadoras perceberam que, pelo menos por enquanto, não foram registrados valores alarmantes em relação aos indicadores físico-químicos. “Os parâmetros turbidez e cor apresentaram-se dentro do limite permitido pela Resolução CONAMA nº020/86. Entretanto, o parâmetro pH apresentou, em alguns pontos, valores ligeiramente abaixo do permitido por esta resolução”. O pH da água determina a solubilidade da água e a disponibilidade biológica dela.
“Deve-se evitar que sejam despejados esgotos domésticos nos lagos. Levando-se em consideração que existem algumas nascentes dos lagos que não pertencem à Cosanpa, propõe-se que estas sejam adquiridas com o intuito de se consolidar a preservação destes mananciais”, ressaltam as pesquisadoras. “Há uma crescente área de ocupação próxima aos lagos que está despejando dejetos. As plantas que estão crescendo causam também o risco de entupimento dos canos na captura da água”, admite o diretor de Expansão e Planejamento da Cosanpa, Alfredo Barros. “Estamos captando recursos para fazer a limpeza dessas macrófitas”, assegura. (Diário do Pará)
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