— Em Cuba não vai haver reforma política. Estamos falando da atualização do modelo econômico cubano que faça com que nosso socialismo seja sustentável — disse Marino Murillo, o vice-presidente do Conselho de Ministros e supervisor das reformas impulsionadas pelo governo.
Além de declarações mais contundentes — como a feita sobre o marxismo no voo que o trazia para a América Latina —, o Papa Bento XVI vinha indiretamente defendendo mudanças na ilha. Durante a missa que rezou em Santiago, na segunda-feira, defendeu a construção no país de uma “sociedade aberta e renovada”.
Antes, em seu primeiro discurso, o Papa disse que Cuba vive um momento em que “olha para o amanhã e e para ele se esforça por renovar e ampliar os seus horizontes”. Nessa fala, Bento XVI também mencionou “presos” e, indiretamente, os exilados.
Nesta terça-feira o Pontífice pediu à padroeira de Cuba, a Virgem da Caridade do Cobre, que ajude a ilha a avançar rumo à renovação.
— Saibam os que estão perto ou longe que eu confiei à mãe de Deus o futuro de sua pátria, avançando por caminhos de renovação e esperança, para o bem maior de todos os cubanos — disse Bento XVI na missa rezada no santuário da Virgem, na cidade de Santiago.
O vice-presidente do Conselho de Ministros afirmou que o plano de mais de 300 reformas empreendido pelo presidente Raúl Castro seguirá orientado a flexibilizar o rígido centralismo de perfil soviético. Entretanto, essa flexibilização visa assegurar a sobrevivência do ideário marxista no país e não se estenderá de alguma forma à política.
As declarações foram dadas em uma conferência com as centenas de jornalistas estrangeiros que estão no país por causa da visita de Bento XVI. As reformas mencionadas por Murillo permitiram aos cubanos pela primeira vez desde 1959 comprarem e venderem livremente casas e automóveis, comprar terras para o cultivo e ampliar o empreendedorismo privado em áreas como turismo e hotelaria.
— Estudamos o que está sendo feito em todo o mundo para atualizarmos o nosso modelo socialista com caraterísticas bem cubanas, que se ajuste a nossas condições — disse Murillo, acrescentando que observa de perto países como Rússia, Vietnã e China.
O Pontífice viaja à tarde para Havana, onde se encontrará com o presidente Raúl Castro. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez —que está em Havana para se tratar do câncer diagnosticado no ano passado — não deve se encontrar com Bento XVI. Nesta terça-feira, o venezuelano afirmou que não pretende “interferir na agenda” do Pontífice com o líder cubano.
‘Prisão’ volta a ser mencionada em discurso - Mais uma vez parecendo tocar no tema de direitos humanos de forma indireta, Bento XVI pediu nesta terça-feira à padroeira do país que ajude àqueles privados de liberdade ou separados de seus entes queridos, numa possível referência a presos políticos ou a famílias de exilados.
O Papa pediu à “Virgem Santíssima pelas necessidades dos que sofrem, dos que estão privados da liberdade, separados de seus entes queridos ou que passam por graves dificuldades”.
O Papa, porém, tem evitado falar sobre casos concretos ou se encontrar com ativistas como o grupo Damas de Branco, que lhe solicitou uma audiência antes mesmo do início da visita.
Os ativistas também pedem que sejam revelados a identidade e o paradeiro do manifestante detido durante a missa de ontem. O homem foi levado ao gritar frases contra o comunismo. Segundo a Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional — uma entidade clandestina, mas tolerada pelo governo — 150 pessoas já foram presas para evitar protestos durante a visita do Papa. (Fonte: O Globo)
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