Por Silvio Kanner, presidente da Associação dos Empregados do Banco da Amazônia – AEBA
A Medida Provisória 564/2012 reacendeu o debate sobre o papel do Banco
da Amazônia e do Banco do Nordeste do Brasil como agentes de
desenvolvimento de suas regiões. A medida altera as condições de
financiamento com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FDA)
e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE) com o objetivo de
ampliar a oferta e as condições do crédito produtivo no país.
O FDA e FNDE são fundos geridos pela SUDAM e SUDENE, respectivamente.
Banco da Amazônia e Banco do Nordeste são operadores desses fundos, mas
não gestores. No caso do BNB, a medida retira sua exclusividade na
aplicação dos recursos do FNDE e no caso do Banco da Amazônia essa
exclusividade já não mais existe desde 2001. Creio que o Deputado
Federal Claudio Puty, em artigo publicado “O Liberal”, com todo respeito
, equivocou-se ao sugerir que a MP retiraria do Banco da Amazônia a
exclusividade de operacionalização dos recursos do FDA. Na verdade, o
ato do poder executivo que retirou do Banco da Amazônia essa
exclusividade foi a MP n. 2.157 de 2001, permanecendo, porém a
exclusividade de aplicação do FNDE pelo BNB.
Devemos afastar, por oportuno, a confusão que pode surgir em relação
aos fundos constitucionais. Os Fundos Constitucionais do Norte (FNO) e
do Nordeste (FNE) não são apenas operados pelos bancos regionais de
desenvolvimento, mas, principalmente, geridos. A medida, portanto, não
altera as prerrogativas do Banco da Amazônia e do BNB em relação aos
Fundos Constitucionais de suas regiões. Todavia, não tenho dúvidas de
que deveríamos estar debatendo o retorno do Banco da Amazônia como
operador exclusivo do FDA e não a perda dessa prerrogativa pelo BNB.
O que nos preocupa é o "cheiro" que exala dessa medida. O Relatório
Reservado n. 4.366 (edição de 02/05/2012) , boletim que circula no
mercado financeiro, interpretou a medida como uma “lipoaspiração no
Banco da Amazônia e BNB”, revelando o mesmo boletim que a intenção do
Ministro Guido Mantega da Fazenda seria ampliar gradativamente o volume
de recursos do FDA e FNDE para a CAIXA e BB. No caso do Banco da
Amazônia isso pode ser feito administrativamente, mas no caso do BNB é
necessário modificações no marco legal.
A interpretação do mercado é a de que as intenções do Ministro vão além
do programa Brasil Maior e da ampliação das condições de crédito, pois
estaria atuando há algum tempo para esvaziar o Banco da Amazônia e o
BNB, no bojo de uma estratégia de enfraquecimento desses bancos. Para
esses analistas, o Ministro nutre a idéia fixa de encerrar as
atividades dos dois Bancos Públicos federais de desenvolvimento.
Não se trata de uma visão liberal "pura" de acabar com os monopólios,
as exclusividades e os nichos de mercado, mas , sim , de construir as
bases para um modelo de intervenção do estado no sistema financeiro
baseado na existência de apenas um Banco publico federal, um futuro
gigante pela própria natureza. Por que não se debate também as
exclusividades da CAIXA e do BB ?
Para os empregados do Banco da Amazônia está muito claro que o governo
federal tem intenções escondidas. Nomeou para a presidência do Banco da
Amazônia um empregado do Banco do Brasil, que obviamente trouxe seu
“time” para a Diretoria. O mais interessante, indicado pela
ex-governadora do Pará , cujo chefe de gabinete à época era o hoje
Deputado Federal Cláudio Puty.
A “nova” diretoria do Banco da Amazônia, formada na cultura bancária
comercial, restabeleceu a estratégia que privilegia o negócio bancário
"puro", em contraste com o papel histórico do Banco da Amazônia como
agente de desenvolvimento da Amazônia. Acontece que a atual gestão do
Banco não faz bem nem o negócio bancário puro nem o fomento. Os
resultados estão à vista. Essa diretoria aproximou o Banco da Amazônia
do modelo BB, em termos de procedimentos e estrutura organizacional,
além de adotar a mesma técnica de gestão. Restringiu diretos dos
empregados, instalou um clima de perseguição e insegurança na empresa,
que se estendeu inclusive aos aposentados (via "desidratação" da CAPAF) ,
além de não ter produzido sequer os resultados prometidos. O lucro
líquido do Banco, de apenas minguados R$-46 milhões, foi pífio se
comparado com o desempenho no mesmo período de outros bancos de pequeno
e médio porte. Tudo isso pagando a diretoria a seus membros algo em
torno de três milhões por ano, a título de honorários, participação nos
resultados e outras benesses típicas de um modelo de gestão pública
inadequado a um novo Brasil, que se pretende moderno como a sexta
economia do mundo. Se a estratégia da União é acabar com o Banco da
Amazônia, a atual diretoria da empresa está fazendo um excelente
trabalho e muito bem remunerado, por sinal.
Por outro lado, a bancada da Amazônia, se é que se pode adotar esse
conceito, não tem feito muita coisa pelo Banco. O nível de
desinformação de alguns parlamentares é notório e explica o abandono por
que passa a instituição, que está perto de comemorar seu 70º
aniversário. Essa instituição pode cumprir um grande papel, inclusive
nacionalmente. Temos conhecimento acumulado de um corpo de empregados
competentes e dedicados, o que nos permite hoje pensar no Banco da
Amazônia como o promotor da mudança ambientalmente sustentável da
economia Brasileira, priorizando projetos sustentáveis, promovendo
tecnologias limpas, captando recursos internacionais, apostando que a
Amazônia, o Brasil e o mundo precisam mudar a forma de se relacionar com
a natureza.O Banco, se prestigiado pelo governo federal e pela classe
política da Região, poderia desempenhar um papel de vanguarda no Brasil
que se moderniza como economia que cresce.
Mas para isso precisamos não apenas questionar um ponto exclusivo de
uma Medida Provisória, por mais correto que seja esse questionamento. O
contexto pede uma visão mais global do problema, inclusive da inserção
da Amazônia e do Pará na economia e política nacionais. Somente com a
unidade da bancada e dos governadores da Amazônia seria possível
construir uma agenda positiva de fortalecimento do nosso Banco. Hoje é o
FDA, amanhã quem sabe a sociedade vai olhar para o prédio-sede da
Presidente Vargas e ali apenas contemplar um símbolo da Amazônia
alijada de soberania política, como atualmente faz lembrar o quase vazio
prédio da SUDAM.
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