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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Justiça libera, por meio de habeas corpus, padre acusado de abuso de coroinha de 12 anos, em Castanhal


O desembargador João José da Silva Maroja concedeu ontem habeas corpus ao padre Marcelo de Matos Tinoco (foto), que estava preso no Centro de Recuperação de Castanhal, desde a última quinta-feira, 14, acusado de estupro de vulnerável. O padre, que é secretário geral e coordenador do grupo de jovens da Diocese de Castanhal e também celebra as missas na catedral do município, nas manhãs de domingo, foi flagrado por policiais militares, quando estava parado dentro do próprio veículo no ramal da Piçarreira, no distrito de Apeú, na companhia de um coroinha de 12 anos, por volta das 23h da quarta-feira, 13. O menino disse à polícia que foi convidado para tomar sorvete, mas foi levado diretamente para o ramal, onde o padre cometeu atos libidinosos com ele. 



Os advogados do padre deram entrada no pedido de habeas corpus no plantão criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJE) à meia-noite de ontem. O desembargador que concedeu a liberdade ao padre estava no exercício do plantão. O Padre Tinoco foi liberado às 17h45 da tarde, segundo confirmou a Superintendência do Sistema Penal (Susipe). O investigador da Superintendência Regional de Polícia da Zona do Salgado, Loureiro, destacou que o caso está sendo investigado num inquérito policial que, ao final, será encaminhado ao Ministério Público do Estado. Caso o inquérito confirme a acusação, o padre poderá ser processado criminalmente.
Entidades defendem assistência psicológica e jurídica à vítima
A concessão da liberdade apanhou de surpresa algumas lideranças do movimento de defesa das crianças e dos adolescentes no Estado, que defenderam a assistência ao adolescente. A advogada Luanna Tomaz, presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA), avaliou que o estupro de vulnerável é crime hediondo, mas admite a liberdade provisória: "Não dá para comentar sobre o processo sem conhecer o caso concreto. Mas é necessário prestar assistência psicológica e jurídicas à vítima para que não sofra estigmas, preconceito e seja hostilizada na comunidade", disse Luanna, preocupada com as manifestações em defesa do padre que foram veiculadas nas redes sociais.
A coordenadora jurídica do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-Emaús), Celina Hamoy, também evitou comentar a decisão judicial sem conhecer o teor desse despacho. "A primeira orientação que damos é afastar a criança ao máximo do local da denúncia para que ela não fique vivenciando a violação que passou. Orientamos para que ela seja ouvida apenas uma vez para que não seja novamente vítima com depoimentos repetitivos."

Em carta ao clero, bispo revela temor com a imagem da igreja
Tão logo tomou conhecimento da prisão preventiva do padre Marcelo Tinoco, o bispo da diocese de Castanhal, dom Carlos Verzeletti, escreveu carta endereçada ao clero. Leia a seguir alguns trechos:

"Caríssimos sacerdotes, a decretação da prisão preventiva do Pe. Marcelo, sacerdote do nosso presbitério, nos aflige imensamente, pois o crime do qual é acusado está entre os mais odiosos. Antes de tudo porque se refere ao abuso de menores e conhecemos bem o que o Evangelho diz a respeito de quem escandaliza os pequenos. Em segundo lugar porque o abuso teria sido cometido por um educador que traiu a confiança que os pais depositaram nele visando o crescimento sereno e integral de seus filhos. Enfim porque teria sido cometido por um padre que, por missão, deve ser sinal da presença e instrumento da ação do Senhor Jesus que passou fazendo o bem, que nunca usou engano e violência com ninguém. (...)

Não posso ignorar a dedicação do Pe. Marcelo no trabalho pastoral da catedral e nas diversas pastorais, dedicação reconhecida pelos numerosos testemunhos de carinho e gratidão que recebi nestes dias por parte de muitas pessoas. Enquanto não se comprovar a acusação, continuo esperando na demonstração de sua inocência.

Contudo, esta grave acusação contra o Pe. Marcelo recai inevitavelmente sobre mim e sobre todo o nosso presbitério exigindo de nós uma resposta. (...) Fico preocupado com aqueles que criaram de nós uma opinião negativa que nos condena impiedosamente e isso nos queima. Esta vergonha dói na pele. Mas, paradoxalmente, (...) esta que parece uma desgraça pode se tornar de fato uma verdadeira graça de Deus. Pois impele todos nós: bispo, padres, diáconos, religiosas, catequistas, leigos engajados e a Igreja toda, a nos converter, a sermos autênticos, fieis e santos. (...)

Por isso continuaremos a ser Igreja e a servir a Igreja com alegria, esta Igreja de Castanhal, onde o evangelho continua produzindo frutos de bem. Envergonhar-nos-emos de nós e dos nossos pecados; mas nunca nos envergonharemos do evangelho e do seu ensinamento. Envergonhar-nos-emos pelas incoerências das nossas comunidades cristãs, mas nunca nos envergonharemos do Espírito Santo que nos foi dado e que faz de nós verdadeiros filhos de Deus. (...)

Por isso, seguindo o exemplo do Santo Padre que nestas circunstancias convidou a Igreja à penitencia, convoco todo o Povo de Deus da nossa Diocese de Castanhal, paróquias, comunidades, movimentos e grupos, a fazer do Sábado, 23 de junho próximo, um dia de jejum e de oração, implorando de Deus o dom da conversão.
(...) O Senhor vos abençoe, conforte o vosso coração, vos dê ‘uma esperança viva, uma herança que não se corrompe, não se mancha e não apodrece’."  (Jornal Amazônia)

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