O
desembargador João José da Silva Maroja concedeu ontem habeas corpus ao
padre Marcelo de Matos Tinoco (foto), que estava preso no Centro de
Recuperação de Castanhal, desde a última quinta-feira, 14, acusado de
estupro de vulnerável. O padre, que é secretário geral e coordenador do
grupo de jovens da Diocese de Castanhal e também celebra as missas na
catedral do município, nas manhãs de domingo, foi flagrado por policiais
militares, quando estava parado dentro do próprio veículo no ramal da
Piçarreira, no distrito de Apeú, na companhia de um coroinha de 12 anos,
por volta das 23h da quarta-feira, 13. O menino disse à polícia que foi
convidado para tomar sorvete, mas foi levado diretamente para o ramal,
onde o padre cometeu atos libidinosos com ele.
Os
advogados do padre deram entrada no pedido de habeas corpus no plantão
criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJE) à meia-noite de ontem. O
desembargador que concedeu a liberdade ao padre estava no exercício do
plantão. O Padre Tinoco foi liberado às 17h45 da tarde, segundo
confirmou a Superintendência do Sistema Penal (Susipe). O investigador
da Superintendência Regional de Polícia da Zona do Salgado, Loureiro,
destacou que o caso está sendo investigado num inquérito policial que,
ao final, será encaminhado ao Ministério Público do Estado. Caso o
inquérito confirme a acusação, o padre poderá ser processado
criminalmente.
A
concessão da liberdade apanhou de surpresa algumas lideranças do
movimento de defesa das crianças e dos adolescentes no Estado, que
defenderam a assistência ao adolescente. A advogada Luanna Tomaz,
presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos
Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA), avaliou que o estupro de
vulnerável é crime hediondo, mas admite a liberdade provisória: "Não dá
para comentar sobre o processo sem conhecer o caso concreto. Mas é
necessário prestar assistência psicológica e jurídicas à vítima para que
não sofra estigmas, preconceito e seja hostilizada na comunidade",
disse Luanna, preocupada com as manifestações em defesa do padre que
foram veiculadas nas redes sociais.
A coordenadora
jurídica do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca-Emaús),
Celina Hamoy, também evitou comentar a decisão judicial sem conhecer o
teor desse despacho. "A primeira orientação que damos é afastar a
criança ao máximo do local da denúncia para que ela não fique
vivenciando a violação que passou. Orientamos para que ela seja ouvida
apenas uma vez para que não seja novamente vítima com depoimentos
repetitivos."
Em carta ao clero, bispo revela temor com a imagem da igreja
Tão
logo tomou conhecimento da prisão preventiva do padre Marcelo Tinoco, o
bispo da diocese de Castanhal, dom Carlos Verzeletti, escreveu carta
endereçada ao clero. Leia a seguir alguns trechos:
"Caríssimos
sacerdotes, a decretação da prisão preventiva do Pe. Marcelo, sacerdote
do nosso presbitério, nos aflige imensamente, pois o crime do qual é
acusado está entre os mais odiosos. Antes de tudo porque se refere ao
abuso de menores e conhecemos bem o que o Evangelho diz a respeito de
quem escandaliza os pequenos. Em segundo lugar porque o abuso teria sido
cometido por um educador que traiu a confiança que os pais depositaram
nele visando o crescimento sereno e integral de seus filhos. Enfim
porque teria sido cometido por um padre que, por missão, deve ser sinal
da presença e instrumento da ação do Senhor Jesus que passou fazendo o
bem, que nunca usou engano e violência com ninguém. (...)
Não
posso ignorar a dedicação do Pe. Marcelo no trabalho pastoral da
catedral e nas diversas pastorais, dedicação reconhecida pelos numerosos
testemunhos de carinho e gratidão que recebi nestes dias por parte de
muitas pessoas. Enquanto não se comprovar a acusação, continuo esperando
na demonstração de sua inocência.
Contudo,
esta grave acusação contra o Pe. Marcelo recai inevitavelmente sobre
mim e sobre todo o nosso presbitério exigindo de nós uma resposta. (...)
Fico preocupado com aqueles que criaram de nós uma opinião negativa que
nos condena impiedosamente e isso nos queima. Esta vergonha dói na
pele. Mas, paradoxalmente, (...) esta que parece uma desgraça pode se
tornar de fato uma verdadeira graça de Deus. Pois impele todos nós:
bispo, padres, diáconos, religiosas, catequistas, leigos engajados e a
Igreja toda, a nos converter, a sermos autênticos, fieis e santos. (...)
Por
isso continuaremos a ser Igreja e a servir a Igreja com alegria, esta
Igreja de Castanhal, onde o evangelho continua produzindo frutos de bem.
Envergonhar-nos-emos de nós e dos nossos pecados; mas nunca nos
envergonharemos do evangelho e do seu ensinamento. Envergonhar-nos-emos
pelas incoerências das nossas comunidades cristãs, mas nunca nos
envergonharemos do Espírito Santo que nos foi dado e que faz de nós
verdadeiros filhos de Deus. (...)
Por
isso, seguindo o exemplo do Santo Padre que nestas circunstancias
convidou a Igreja à penitencia, convoco todo o Povo de Deus da nossa
Diocese de Castanhal, paróquias, comunidades, movimentos e grupos, a
fazer do Sábado, 23 de junho próximo, um dia de jejum e de oração,
implorando de Deus o dom da conversão.
(...) O Senhor vos
abençoe, conforte o vosso coração, vos dê ‘uma esperança viva, uma
herança que não se corrompe, não se mancha e não apodrece’." (Jornal Amazônia)
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