Das milhares de mulheres que protestaram e defenderam suas bandeiras
nos primeiros cinco dias da Cúpula dos Povos, uma em especial angariou a
atenção do público. Estudante de história na Universidade Federal de
Alagoas, a cearense Brígida de Souza, mais conhecida como Riquezinha —
um apelido que não lhe agrada muito — se tornou, sem querer, a musa do
evento. A nomeação involuntária ao posto aconteceu depois de a moça de
22 anos, homossexual assumida, ter sido flagrada desfilando com os seios
à mostra durante a Marcha das Mulheres, manifestação que fechou as ruas
do Centro da cidade na última segunda-feira.
Brígida faz parte do
Tambores de Safo (em homenagem à poetisa grega) e divide seu tempo
entre os livros de faculdade e a luta feminista em prol das lésbicas e
das mulheres negras. Surpresa com a repercussão do topless, a estudante
preferiu andar nesta terça-feira pelo Aterro do Flamengo, onde o evento
acontece, com os cabelos presos por uma boina e com óculos escuros:
—
Algumas pessoas vieram falar comigo, mas não levei cantada nem dei
autógrafo — brinca — De qualquer forma achei positivo o resultado porque
chamou atenção para a causa feminista. Na verdade, não programamos
tirar a blusa. Estava fazendo muito calor e um homem que estava do nosso
lado tirou a camiseta. Me perguntei: por que ele pode e eu não posso?
Por que sou mulher? — questiona ela.
O envolvimento com a causa
pelo direito das mulheres começou quando Brígida ainda era criança. Na
época, sua mãe, vítima de violência doméstica, se aliou ao Fórum
Cearense de Mulheres e levou o movimento feminista para dentro de casa.
No ano passado, ela viu uma apresentação do Tambores de Safo em Brasília
e se encantou.
— Tocamos tambores em eventos com cunho político.
Temos um espetáculo onde tiramos a blusa ao som da música "Carne", da
Elza Soares. Isso é natural para mim, porque faz parte do personagem. É
sensual porque a mulher é assim, mas não é erótico, nem vulgar. Minha
autoestima se alimenta não porque eu tenho um corpo bonito, ela se
alimenta do orgulho de ser mulher — defende.
Matriculada no primeiro semestre da faculdade, Brígida ainda não faz planos para o futuro.
—
Estamos aqui para ensinar e aprender todos os dias. Se daqui a 50 anos
ainda estiver aprendendo e ensinando está ótimo — filosofa a moça. (Fonte: O Globo)
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