Três ministros do Supremo Tribunal Federal reagiram na terça-feira,
24, às declarações da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon,
segundo as quais a Corte será julgada pela opinião pública durante a avaliação do processo do mensalão.
"Quem é ela para dizer que seremos julgados? O Supremo não é
passível de sugestões, muito menos de pressões", disse o ministro Marco
Aurélio Mello. "A toda hora estamos sendo julgados. Não é só nesse
caso", afirmou o colega Gilmar Mendes. "O Supremo tem que estar acima
dessas paixões passageiras", disse o também ministro Luiz Fux.
Os 11 ministros do Supremo começam a julgar o maior escândalo do governo
Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2 de agosto. Entre os 38 réus
estão José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, José Genoino, presidente
do PT à época, e Duda Mendonça, marqueteiro da campanha lulista de 2002.
A corregedora deu suas declarações sobre o julgamento na
segunda-feira, 23, em São Paulo. "Há por parte da Nação uma expectativa
muito grande e acho também que o Supremo está tendo o seu grande
julgamento ao julgar o mensalão", disse Eliana. "Hoje, eles (os ministros) têm, sim, uma preocupação porque o País mudou e a população está participando."
Pressão. Marco Aurélio foi duro na crítica à Eliana. "Uma corregedora-geral chegar ao ponto de dizer que seremos julgados não contribui para o
engrandecimento das instituições, evoca uma pressão", disse. "O que se
espera, de fato, é que o julgamento fique exclusivamente restrito ao que
os autos contêm. Manifestações desse tipo criam toda uma excitação",
afirmou o ministro.
Marco Aurélio disse ainda que "a opinião (de Eliana) é
amplamente dispensável". "Ela enfraquece as instituições aos olhos dos
leigos. O STF será julgado pelo julgamento do mensalão? É olvidar a
missão do Supremo. Esse é o estilo dela, fala o que pensa. Mas, às
vezes, o que se pensa não é o desejável em termos de extravasamento",
afirmou.
Gilmar Mendes disse que a as manifestações de cunho político
que têm o Supremo como alvo são rotineiras. "O que interessa é o que
está nos autos", afirmou o ministro, que em maio disse em entrevistas
ter tido uma conversa com Lula na qual o ex-presidente teria pedido o
adiamento do julgamento do mensalão para depois das eleições – a versão foi negada por Lula. Essa não foi a única polêmica envolvendo o processo.
Ainda sobre as declarações da corregedora de Justiça, Luiz Fux afirmou que os ministros estão acima da pauta proposta por Eliana. "O tribunal tem que decidir à luz da razão, é a última trincheira que o cidadão tem para
poder obter um resultado judicial justo. Os ministros estão acima dessa
pauta. Efetivamente, não faltará independência nem coragem para o Supremo tomar a decisão que deve tomar, adotar a solução mais justa no caso concreto."
O ministro afirmou que há, sim, questões em que a opinião
pública é importante. "Há a marcha da maconha, a união homoafetiva, a
cota dos afrodescendentes, questões que precisam de um apoio razoável da
sociedade para que sejam analisadas", disse. "No processo criminal é
diferente, não se discute uma tese jurídica, mas uma questão subjetiva
sobre se efetivamente réus apontados na denúncia têm responsabilidade
penal. Então, a influência social é diferente. Uma coisa é saber que a
sociedade tem um consenso razoável sobre a união de gays. Outra coisa é
você se deixar levar por uma opinião pública a respeito da
responsabilidade criminal de A ou B."
"A ação penal não é um processo onde você define uma tese jurídica.
Todo magistrado tem que ouvir as vozes sociais, evidentemente. Todo
poder emana do povo, mas sem prejuízo ao juiz de julgar um processo
subjetivo. Ao julgar a liberdade de uma pessoa, o juiz não pode se
despojar de sua responsabilidade", concluiu. (Estadão)
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