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domingo, 8 de julho de 2012

Pais usam a droga da obediência para 'domar' os filhos

O castigo e a conversa entre pais e filhos estão sendo substituídos por uma pílula: a droga da obediência. Aprovado pela Anvisa para tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o metilfenidato (Ritalina e Concerte) está sendo usado de forma indiscriminada para ‘domar’ crianças levadas, alertam médicos. Em quatro anos, o uso da droga cresceu 70,44% no País. Entre abril de 2011 e maio, esse mercado faturou R$ 101,7 milhões.

“É inadmissível. A criança que não se concentra e não se comporta como o adulto gostaria está sendo diagnosticada como se tivesse um transtorno e acaba tomando um remédio que a deixa quieta, calada”, alerta a médica Maria Aparecida Moyses, professora de Pediatria da Unicamp.

APATIA
“O medicamento está sendo usado de forma exagerada para controlar crianças. A droga deixa apática aquela que é agitada e não presta atenção. Fazer isso é quebrar a essência da criança, que é brincar, agitar, questionar”, critica o coordenador estadual de Políticas sobre Drogas, Luiz Alberto Chaves de Oliveira.

“Estudos apontam que usuários de metilfenidato têm risco até 50% maior de se tornarem usuários de drogas”, completa Luiz, que recomenda a busca de segunda opinião em caso de diagnósticos de TDAH. Pediatra, neuropediatra e psiquiatra são os profissionais mais indicados.

A médica Maria Aparecida questiona a forma de diagnóstico. “É um questionário do qual ninguém escapa. A criança que joga videogame por horas, mas não se concentra na escola, não tem dificuldade de concentração. A aula pode ser desinteressante”, alega.

Membro do Comitê de Neurologia da Sociedade de Pediatria do Rio, Milton Genes afirma que o TDAH afeta entre 3% e 6% das pessoas, mas que nem todos precisam de medicação: “O importante é um diagnóstico bem feito. O tratamento muda a vida dos que têm o transtorno”.

Remédio está na lista dos mais vendidos
O metilfenidato já é uma das drogas mais vendidas no País. “A Anvisa pesquisa porque o consumo é crescente. A orientação é que só pessoas com diagnóstico correto usem e não para melhorar no estudo ou trabalho”, diz Giselle Silva Calado, gerente de Farmacovigilância da Anvisa.

Segundo ela, as reações comuns ao uso abusivo da droga são nervosismo, insônia e perda do apetite: “Podem haver reações sérias, como febre alta, dificuldade de falar, batimento cardíaco acelerado, espasmos musculares, garganta inflamada, alucinações, convulsões, bolhas e manchas na pele”.

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