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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"Cantinho do Emir" - Vera Paz

VERA PAZ 
(por Emir Filho - Blog ´Saudade Perfumada`)


A praia da Vera Paz, quando ainda era digna de ser chamada por este nome, era uma das favoritas de meu pai, Emir Bemerguy. Na primeira das imagens acima, uma foto daquela época. Embaixo, uma foto tirada por meu cunhado, há poucos dias, onde "poso" em meio ao mato, esgotos, lixo, lama e urubus daquilo em que se transformou nossa bela praia. Abaixo, transcrevo 3 poemas feitos por meu pai com a praia como tema. Em primeiro lugar, a muito conhecida Canção da Vera Paz. com música de seu compadre Isoca, foi cantada por seus amigos e parentes quando seu caixão adentrava no túmulo. A segunda, também musicada pelo maestro Isoca, já mostra a sua tristeza desgostosa com o fim de nossa bela praia (Adeus, Vera Paz). A última, "Maldito Tributo", menos conhecida, mostra um tema bem presente naquilo que ele escreveu: a desilução com o preço que o progresso cobra. Quinze dias antes de morrer, no último passeio que fez pela cidade, papai foi levado por meu irmão Toninho e meu cunhado Edson para ver a Vera Paz. Se ainda escrevesse, certamente sairia um poema ainda mais triste sobre aquele local.
Canção da Vera Paz
(Música: Wilson Fonseca)
27/09/1966

Raras coisas desta vida
São gostosas como a ida
Em noite de lua cheia
À Vera Paz afamada
Pra comer uma peixada
Sobre o alvo chão de areia

E se há um violão
Ponteando uma canção
Como fundo musical,
A felicidade é tanta
Que a gente até se espanta,
Pensando não ser real.

ESTRIBILHO
Teu luar, ó “Vera Paz”
Saudade pra  gente traz!

Adeus,  Vera Paz
  Música: Wilson Fonseca
31/03/1973

O progresso foi chegando...
E eu nem sei direito quando
A tristeza aconteceu.
Cais do Porto, essa esperança
Dos meus tempos de criança
Hoje é sonho que viveu!
Mas, enquanto se trabalha
O reverso da medalha
Amargura uma cidade:
Nossa praia acolhedora,
Vera Paz encantadora,
Lá se foi, virou saudade!...

ESTRIBILHO
Violões não mais terás...
Adeus, linda Vera Paz!...

Nem serestas, nem luares...
Violão, se tu chorares,
Também choro, não resisto.
Modernices são bem vindas,
Mas destroem coisas lindas
Quanta mágoa eu sinto disto!
Nos arquivos da memória
Incluí mais uma história
Desta vida tão fugaz:
Chegará bem mais conforto
Nos navios do Cais do Porto,
Mas...findou-se a Vera Paz!
Maldito Tributo
26/02/1975

Quando boiava, linda, lá no azul celeste,
A Lua peregrina, alcovitando amores,
Quanta felicidade, ó Vera Paz, nos deste,
Ao som dos violões e à voz dos teus cantores!...

Nas cinzas do que foi, quase a chorar, ingresso...
Todo um passado fica para sempre morto,
Porque, como um tributo pago ao tal “progresso”,
A nossa Vera Paz deu vez ao Cais do Porto!

Contudo, que fazer? O fato consumado
Aí está, pungindo as almas santarenas.
Pior ainda: a esteira do trator malvado,
Não matará ( ó meu Deus!) a Vera Paz apenas!

Também já vão sumindo impiedosamente
(Para não blasfemar, só tendo muita fé!)
Outros velhos xodós do coração da gente:
Laguinho...Mapiri...Adeus, Maria José!

O nosso enlevo foste!Oh! Que cartão-postal!...
Por isso é que dói tanto a amarga realidade:
A mais inspiradora praia regional
Hoje é lembrança...verso...lágrima ...e saudade!...

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