A virada do calendário é sempre um convite à reflexão. Muitos
leitores, aturdidos com a extensão do lodaçal que se vislumbra nos
escândalos reiteradamente denunciados pela imprensa, me pedem um balanço
do desempenho da mídia. Todos são capazes de intuir que a informação
tem sido a pedra de toque da tentativa de moralização dos nossos
costumes políticos.
Perguntam-me alguns, em seminários, debates e
e-mails, se o jornalismo de denúncia não estaria extrapolando as suas
funções e assumindo tarefas reservadas à polícia e ao Poder Judiciário.
Outros,
ao contrário, preocupados com reiterados precedentes de impunidade,
gostariam de ver repórteres transformados em juízes ou travestidos em
policiais.
Um balanço sereno, no entanto, indica um saldo favorável ao esforço investigativo dos meios de comunicação.
O
despertar da consciência da urgente necessidade de uma revisão profunda
da legislação brasileira, responsável maior pelo clima de imoralidade
nos negócios públicos, representa um serviço inestimável prestado pelo
jornalismo deste país.
Basta pensar na ruptura da impunidade
inaugurada com o julgamento do mensalão e na esperança despertada com a
Lei da Ficha Limpa.
A imprensa não tem ficado no simples registro
dos delitos. De fato, vai às raízes dos problemas. Alguns poderosos
desta República, não obstante o mar de cinismo e de mentira em que
navegam, não têm conseguido impor seu projeto autoritário de poder. A
democracia funciona. E a imprensa, fundamento básico dos sistemas de
liberdade, não tem dado trégua aos caciques de plantão.
A
exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se
constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E
só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, evitará que
tudo acabe num jogo de aparência.
Leia a íntegra em Radiografia da Imprensa
Nenhum comentário:
Postar um comentário