Por Roldão Arruda, jornal O Estado de S. Paulo:
Em grupos que defendem a falecida ditadura militar é visível uma certa comoção a cada denúncia que aparece sobre as violências cometidas naquele período. Quando se fala em estupro, sequestro, ocultação de cadáver e outros crimes cometidos por agentes que atuavam acobertados pelo aparato do Estado, esses grupos torpedeiam portais de noticias, blogs e fóruns de leitores com mensagens destinadas a desvalorizar os relatos e a Comissão Nacional da Verdade.
Dizem que deveria se chamar comissão da meia verdade e que foi criada pelo PT para investigar só os crimes cometidos por policiais e militares. Perguntam: e os crimes cometidos pelos militantes de esquerda que pegaram em armas, assaltaram bancos e cometeram outras violências?
Também investem contra meios de comunicação e jornalistas: por que não mostram os dois lados? Por que desenterram o passado em vez de se preocupar com coisas mais importantes, como o mensalão e outras denúncias contra o PT? Por que o jornalista não diz que em 1964 o Brasil estava à beira de um abismo? Se não houvesse o golpe militar e a violência que trouxe em seu bojo, argumentam, teríamos virado uma Cuba.
No fundo, continuam os mesmos. Não gostam da liberdade de imprensa.
Dizem que deveria se chamar comissão da meia verdade e que foi criada pelo PT para investigar só os crimes cometidos por policiais e militares. Perguntam: e os crimes cometidos pelos militantes de esquerda que pegaram em armas, assaltaram bancos e cometeram outras violências?
Também investem contra meios de comunicação e jornalistas: por que não mostram os dois lados? Por que desenterram o passado em vez de se preocupar com coisas mais importantes, como o mensalão e outras denúncias contra o PT? Por que o jornalista não diz que em 1964 o Brasil estava à beira de um abismo? Se não houvesse o golpe militar e a violência que trouxe em seu bojo, argumentam, teríamos virado uma Cuba.
No fundo, continuam os mesmos. Não gostam da liberdade de imprensa.
Ustra negou ter cometido crimes durante o regime militar.
A ditadura controlava o que os jornais diziam. Notícias desabonadoras para o regime eram vetadas. A lista de assuntos interditos variava de denúncias de tortura a reportagens sobre casos de corrupção que grassavam no governo. Em 1974 chegaram a proibir notícias sobre a epidemia de meningite que apavorou São Paulo e causou centenas de mortes.
Vigiavam as redações com a suspeita de que não passavam de valhacoutos de comunistas. Afinal, a quem interessava, senão aos comunistas, denunciar que o governo falhara na prevenção da epidemia de meningite?
Para que dizer que opositores do regime eram arrancados de suas casas à noite, diante de mulheres e filhos, e levados para locais ignorados, sem direito a defesa, sem qualquer informação para a família, para os advogados e os juízes e sem qualquer possibilidade de habeas corpus?
A retórica desses grupos precisa ser atualizada. Alguém acredita, sinceramente, que a imprensa não dá atenção ao mensalão? Que as lambanças do PT não são denunciadas?
O mesmo se pode dizer em relação ao terrorismo de esquerda, lembrado pelo coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu depoimento à Comissão da Verdade, após solicitar um habeas corpus na Justiça Federal. O insulto dele à presidente Dilma, chamando-a de terrorista, está velho e empoeirado. Já foi explorado de todas as maneiras desde o momento em que o nome dela começou a ser cogitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo.
Quantos aos militantes de esquerda que pegaram em armas, é mais que sabido que pagaram pelos seus atos. Uma parte deles foi caçada, localizada e executada barbaramente pelos agentes de Estado. A outra parte, a que sobreviveu, foi julgada e condenada à prisão por auditorias militares. A presidente Dilma teve a sorte de fazer parte do segundo grupo.
Há milhares e milhares de páginas nos arquivos militares sobre cada um desses militantes. Ao contrários dos arquivos com informações sobre mortos e desaparecidos, elas são públicas.
A questão central é que desde o fim da ditadura, em 1985, o Brasil tenta em vão descobrir a verdade sobre o que não foi dito, os fatos ocorridos nos porões do Estado autoritário. Foi para isso que a Comissão Nacional da Verdade surgiu.
Ela nasceu de uma lei aprovada democraticamente no Congresso, com a tarefa de investigar e esclarecer as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado contra cidadãos que deveria proteger. Não é uma exclusividade brasileira: todas as comissões da verdade criadas no mundo agiram da mesma direção.
Seria mais interessante, a essa altura dos debates, que as viúvas da ditadura ajudassem a esclarecer os fatos investigados e prestassem atenção ao debate em torno da Lei da Anistia. Atacar a imprensa, o passado já demonstrou, não é o melhor caminho.
Vigiavam as redações com a suspeita de que não passavam de valhacoutos de comunistas. Afinal, a quem interessava, senão aos comunistas, denunciar que o governo falhara na prevenção da epidemia de meningite?
Para que dizer que opositores do regime eram arrancados de suas casas à noite, diante de mulheres e filhos, e levados para locais ignorados, sem direito a defesa, sem qualquer informação para a família, para os advogados e os juízes e sem qualquer possibilidade de habeas corpus?
A retórica desses grupos precisa ser atualizada. Alguém acredita, sinceramente, que a imprensa não dá atenção ao mensalão? Que as lambanças do PT não são denunciadas?
O mesmo se pode dizer em relação ao terrorismo de esquerda, lembrado pelo coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra em seu depoimento à Comissão da Verdade, após solicitar um habeas corpus na Justiça Federal. O insulto dele à presidente Dilma, chamando-a de terrorista, está velho e empoeirado. Já foi explorado de todas as maneiras desde o momento em que o nome dela começou a ser cogitado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo.
Quantos aos militantes de esquerda que pegaram em armas, é mais que sabido que pagaram pelos seus atos. Uma parte deles foi caçada, localizada e executada barbaramente pelos agentes de Estado. A outra parte, a que sobreviveu, foi julgada e condenada à prisão por auditorias militares. A presidente Dilma teve a sorte de fazer parte do segundo grupo.
Há milhares e milhares de páginas nos arquivos militares sobre cada um desses militantes. Ao contrários dos arquivos com informações sobre mortos e desaparecidos, elas são públicas.
A questão central é que desde o fim da ditadura, em 1985, o Brasil tenta em vão descobrir a verdade sobre o que não foi dito, os fatos ocorridos nos porões do Estado autoritário. Foi para isso que a Comissão Nacional da Verdade surgiu.
Ela nasceu de uma lei aprovada democraticamente no Congresso, com a tarefa de investigar e esclarecer as violações de direitos humanos cometidas pelo Estado contra cidadãos que deveria proteger. Não é uma exclusividade brasileira: todas as comissões da verdade criadas no mundo agiram da mesma direção.
Seria mais interessante, a essa altura dos debates, que as viúvas da ditadura ajudassem a esclarecer os fatos investigados e prestassem atenção ao debate em torno da Lei da Anistia. Atacar a imprensa, o passado já demonstrou, não é o melhor caminho.
Que covardia cínica desse cara.
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