Um desejo muito antigo
Eu guardava só comigo,
Jamais falei a ninguém:
Era compor um poema
Que tivesse como tema
A querida SANTARÉM.
Se dispunha de ocasião,
Faltava-me inspiração
E os tais versos não saíam...
Fiz algumas tentativas
Enfadonhas, cansativas,
Que só me desiludiam.
De qualquer modo, começo,
E que me inspire a Deus peço
Em comovida oração.
Quero ao papel transportar
A ternura singular
Que trago no coração.
Tenho visto muita gente
Que aqui chega, de repente,
Dizendo que não demora,
E fica tão fascinada
Por nossa terra encantada
Que não quer mais ir embora.
Mas qual será o motivo
Desse fascínio intensivo
Que se exerce sobre nós?
É a beleza da cidade,
A grande hospitalidade
Do povo do Tapajós!
São as praias, as morenas,
Os arraiais, as novenas,
As festas, as tradições!
São as conversas amigas,
Sem rancores, sem intrigas,
Que cativam corações.
É este CÉU, são as MATAS,
O RIO AZUL, as CASCATAS,
O excesso de luz e Sol
É o CREPÚSCULO BONITO
Com seu encanto infinito,
É a LINDEZA DO ARREBOL!
E que dizer desta LUA
Que ilumina a minha rua
Com seus raios cor de prata?
Como cantar a poesia
Que comove, que extasia,
Das noites de serenata?
Ninguém tem, como nós temos,
Essas canções que devemos
Ao ISOCA e a seu piano,
Melodias inspiradas,
Com paixão interpretadas
Por EXPEDITO TOSCANO.
E nas noites de luar,
Pelas ruas a cantar
Tristes valsas com carinho,
Pode-se ouvir ternamente
A voz bela e diferente
Do boêmio MACHADINHO.
Nos festejos de São João
Ninguém perde ocasião
De assistir um boi-bumbá,
De tomar banho cheiroso
Pra conjurar o Tinhoso
E de beber Tarubá.
Temos lendas fascinantes,
Estórias impressionantes
De BOTO e de CURUPIRA,
Da COBRA GRANDE terrível,
Do UIRAPURU, lenda incrível,
Que ninguém diz ser mentira.
Há conversas de assombrar
Contadas pra amedrontar
Crianças de toda idade:
Contos d'almas do outro mundo,
De índio e bicho do fundo,
De mandinga, de maldade.
Nas LETRAS e na PINTURA,
Na MÚSICA faz figura
A gente de Santarém.
Nos ESPORTES, na CIÊNCIA,
Com brilho, com inteligência,
Sempre se destaca alguém.
Santarém dos DIAS FORMOSOS,
Dos CARROS-DE-BOIS morosos,
Do PAUMARI e da CACHAÇA,
Do FUTEBOL consagrado
Do “SÃO RAIMUNDO” afamado,
Do “SÃO FRANCISCO” de raça!
Ó Santarém das modinhas,
Das rezas, das ladainhas,
De tanta superstição!
Teu hino, cara cidade,
- “CANÇÃO DA MINHA SAUDADE”
Tem beleza de oração!
Já tiveste ZÉ AGOSTINHO,
JOAQUIM TOSCANO e seu pinho,
Suas serestas ao luar...
E houve aqui nesta zona
O violão bom de JOÃO FONA
Que eu hei de sempre lembrar.
Santarém, tu tens ALDEIA,
PRAINHA e COROA DE AREIA,
Alvinha como ela só...
Tens TRAPICHE reforçado,
AEROPORTO e MERCADO,
CAISINHO e “VILA ARIGÓ”!...
O “CENTRO RECREATIVO”,
O “BAR MASCOTE” festivo,
A velha USINA DE LUZ,
A MATRIZ de tantas preces
Feitas por ti, que as mereces,
À Santa Mãe de Jesus.
O CASTELO, o SEMINÁRIO,
A PRAÇA DO CENTENÁRIO,
Esse logradouro chique;
A “FORTALEZA”, engraçada,
Sem canhões e sem mais nada
Que seu nome justifique...
Ali vejo a PREFEITURA,
Os CORREIOS, PRELATURA,
E essa PRAÇA DAS MISSÕES.
Nossa “RÁDIO EDUCADORA”
Tem sua força propulsora
No verbo de OSMAR SIMÕES.
Tens o NINITO VELOSO,
PAULO RODRIGUES famoso,
Com talento como quê!
PADRE MANUEL, o poeta,
Primorosíssimo esteta,
E tens... ZECA BBC!
Ah! Teus gráceis APELIDOS
Originais e queridos '
São famosos por aí.
QUICÉ, XIXITO, SATUCA
POJÓ, MINGOTE, BILUCA:
DORORÓ, MAMÁ, GIGI!
Sei de planos colossais
Epopéia em matagais!
Quem viver, porém, verá
Essa estrada faraônica
- A vital TRANSAMAZÔNICA
E a SANTARÉM-CUIABÁ!
Vê-se aqui muitocolégio
Saber não e privilégio
De ninguém (ó coisa rara!):
O “BATISTA”, o “ESTADUAL”,
Nossa “ESCOLA COMERCIAL”
“DOM AMANDO” e “SANTA CLARA”.
Raras coisas nesta vida
São gostosas como a ida
Em noites de Lua cheia
A “VERA PAZ” afamada
Pra comer uma peixada
Sobre o alvo chão de areia.
E se há um violão
Ponteando uma canção
Como fundo musical,
A felicidade é tanta
Que a gente até se espanta,
Pensando não ser real...
Olhar o “ENCONTRO DAS ÁGUAS”
É remédio para as mágoas
Do coração espantar.
Um mergulho em Cambuquira
Tristezas d'alma retira
E pro corpo é salutar.
De tempo não mais disponho
Pra falar (fico tristonho)
Na “SALVAÇÃO”, no “IRURÁ”,
Na “MARIA JOSÉ”, essa praia
Onde se faz Piracaia,
No MAPIRI, no MAICÁ.
SANTARÉM, te quero tanto
Que neste modesto canto
Não pude bem expressar
Todo o afeto comovente
Que em meu peito está presente,
Cada vez mais a aumentar.
E, no final desta ode,
Peço a Deus - sei que Ele pode
Escutar minha oração:
Abençoai nossa gente,
Conservai-a sempre crente
Na VIRGEM DA CONCEIÇÃO!
Por Emir Bemerguy, em 27/9/1966.
Leia mais aqui >Cantinho do Emir
Parabéns pelo Poema, Emir Bemerguy. Sou paraense de Itaituba, mas estudei em Santarém, no Colégio Santa Clara (das meninas) que fica em frente ao cimitério e também para o Colégio Dom Amando (dos meninos).
ResponderExcluirFui aluna do Professor Dororó e colega de sua filha, a linda Bernadete.
Fui aluna da Professora Salete Bemerguy e da Professora Beth Bemerguy.
Hoje eu moro em Fortaleza, há 30 anos.
Seu poema me fez relembrar minha terrinha linda e maravilhosa. Obrigada.
Leopoldina Corrêa.
Também tenho blogs. Grande abraço.
Lindo! Que talento, que inteligência e muito capricho. Espetacular esse poema, para quem é de Santarém logo se identifica é não tem como não ter orgulho da Linda Santarém.
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