Neste domingo, 22º do Tempo Comum, a Igreja nos convida a refletir acerca do Banquete do Reino.
Num mundo em que a ambição, a luta pelo poder, pelo reconhecimento público e pela efemeridade da fama midiática se impõe, infelizmente, pela superioridade, relembremos quem são os convidados para participar do Reino de Deus. A condição fundamental para tomar parte no banquete do Reino de Deus é a humildade. Cultivar a humildade nos coloca em profunda intimidade com Jesus. O mundo, hoje, é de profunda competição.
O Evangelho deste domingo deixa claro acerca da primazia dominante dos primeiros lugares. Diz o evangelista que: "Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então, contou-lhes uma parábola: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. Porque quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado".
Na nossa sociedade, agressiva e competitiva, o valor da pessoa se mede pela sua capacidade de se impor, de ter êxito, de triunfar, de ser o melhor, o maior. Quem não dá lucro não tem valor para a sociedade descartável em que vivemos, em que o prazer se sobrepõe ao eterno. Vale a pena gastar a vida assim? Estes podem ser os objetivos supremos que dão sentido verdadeiro à vida do homem?
Todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado (Lc 14, 11). Esta parábola, num significado mais profundo, faz pensar também na posição do homem em relação a Deus. O último lugar pode representar, de fato, a condição da humanidade degradada pelo pecado, condição da qual só a encarnação do Filho Unigênito a pode elevar. Por isso, o próprio Cristo ocupou o lugar dos malfeitores — a cruz — e, precisamente com esta humildade radical, nos redimiu e nos ajuda sem cessar.
O papa Francisco, ao insistir que devemos pregar o Evangelho e levar a Boa Notícia de Jesus às periferias, atualiza o Evangelho deste domingo, quando ele nos ensina que os convidados para o Banquete do Reino devem ser os pobres, os necessitados, os famintos, os excluídos, os desabrigados, os que não têm habitação, aqueles que vivem à margem da sociedade e, sobretudo, os que necessitam ouvir a voz de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica, que todos nós devemos ter sempre presente, principalmente neste Ano da Fé, relendo, estudando, ensinando aos outros, nos ensina: "Bem-aventurados os pobres em espírito" (Mt 5,3). As bem-aventuranças revelam uma ordem de felicidade e de graça, de beleza e de paz. Jesus celebra a alegria dos pobres, a quem já pertence o Reino: O Verbo chama "pobreza em espírito" à humildade voluntária de um espírito humano e sua renúncia; o Apóstolo nos dá como exemplo a pobreza de Deus, quando diz: "Ele se fez pobre por nós" (2 Cor 8,9) (cf. CIC 2546).
A segunda parte do Evangelho nos convida à gratuidade: aqueles que fazem a experiência de Deus em suas vidas também agirão na gratuidade com os irmãos e irmãs. Fará o bem às pessoas como consequência de sua própria vida com Deus. Já recebemos a graça de Deus e, por isso, com generosidade vamos ao encontro do outro com alegria e disponibilidade. Aliás, essa tem sido a experiência dos cristãos através dos tempos. Tantos trabalhos missionários, participações, obras sociais, artísticas e culturais que até hoje marcam a Igreja demonstram isso. Quem se encontrou com Cristo passa a anunciá-l'O com entusiasmo.
Isso aparece com muita clareza nestes tempos de tantos interesses, egocentrismo, materialismo. A generosidade é consequência de uma vida com experiência com Deus. Vemos isto com tantas pessoas que, pessoalmente, ou em nome de sua instituição, abrem seus corações para se comprometer com a causa do Reino de Deus. Isso os faz “nadar contra a corrente” deste mundo, que só pensa em acúmulos e interesses, para viverem a liberdade dos filhos de Deus!
Rezemos para que o Senhor nos conceda o dom de responder com alegria ao seu convite e sempre nos colocarmos no último lugar e partilharmos, com generosidade, o que for possível. Que um dia possamos também escutar: “Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”, porque “tu serás feliz”.
Portanto, neste domingo somos convidados a olhar para Cristo como modelo de humildade e de gratuidade: do Cristo Redentor aprendemos a paciência nas tentações, a mansidão nas ofensas, a obediência a Deus nos padecimentos, na expectativa de que Aquele que nos enviou nos diga: sobe mais para cima (Lc 14, 10); de fato, o verdadeiro bem é estar próximo d'Ele.
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