O rendevú ficava a caminho da universidade. Queríamos derrubar a
ditadura e descobrir os prazeres do proletariado. Era um bordel
disfarçado de boate. Escurinhos entremeados de luzes vermelhas, espelhos
diante do balcão, cantinhos estofados dispostos lado a lado feito
salinhas nas quais tudo ou quase tudo podia acontecer. Íamos em turma,
posando de revolucionárias e revolucionários, mas disfarçando o
constrangimento ante um mundo que não nos dizia respeito.
Era Reginaldo Rossi a trilha sonora mais tocada no rendevú: “Nesse corpo meigo e tão pequeno/há uma espécie de veneno/bem gostoso de provar/Como pode haver tanto desejo/Nos seus olhos, nos seus beijos/No teu jeito de abraçar…”
Mon amour! Meu bem! Ma femme! também era a música que embalava a turma que subia o Brasil guiada pelo Projeto Rondon e foi parar em Paraíso do Norte. Reginaldo Rossi singrava a Belém-Brasília e postava-se em vinis e fitas-cassetes nas calçadas dos muquifos que chamavam de Rodoviária: “E foi com isso/que você me conquistou/Com esse jeito de menina/E esse corpo de mulher/E nada existe em você/Que eu não ame/Sou metade sem você…”
Em Conceição do Araguaia, nas bordas da construção da hidrelétrica de Tucuruí Reginaldo Rossi ressoava na boate/hotel de madeira, com os casais dançando coladinho, como numa cena de Bye Bye, Brasil. “De que vale ter tudo na vida? De que vale a beleza da flor/Se eu não tenho mais teu carinho/Se eu não tenho mais teu calor.”
O ídolo de cabelo pixaim e nariz batatudo era mais brasileiro que Roberto Carlos porque cantava o Brasil profundo, o que dançava, amava, existia e resistia ao largo das lutas pela redemocraticação do país e, no Sul do Pará, muito perto das atrocidades do regime.
Quando virei moderna, Reginaldo Rossi sumiu da minha vitrola e eu fiquei um pouco mais sofisticada, um pouco menos verdadeira.
Só algum tempo depois, no estouro de “saiba que meu grande amor hoje vai se casar, mandou uma carta pra me avisar, deixando em pedaços o meu coração”, reencontrei meu ídolo. Caí de boca. Reginaldo Rossi não era artista de Plano Piloto (teria tocado aqui alguma vez?). Fui vê-lo no Pistão Sul, em Taguatinga. Ma-ra-vi-lho-so. Rebolava, abria as pernas e requebrava, rodeado de gostosas vestidas à moda das Chacretes remodeladas. Não era indecente nem pornográfico — seria erótico não fosse ingênuo. Lúbrico, convidava o público a, em vez de cheirar cocaína, cheirar perereca.
Olhava para Reginaldo Rossi e me via representada. O Brasil de que sou feita é o mesmo que criou o Rei do Brega. Até no cabelo a gente combinava.
Era Reginaldo Rossi a trilha sonora mais tocada no rendevú: “Nesse corpo meigo e tão pequeno/há uma espécie de veneno/bem gostoso de provar/Como pode haver tanto desejo/Nos seus olhos, nos seus beijos/No teu jeito de abraçar…”
Mon amour! Meu bem! Ma femme! também era a música que embalava a turma que subia o Brasil guiada pelo Projeto Rondon e foi parar em Paraíso do Norte. Reginaldo Rossi singrava a Belém-Brasília e postava-se em vinis e fitas-cassetes nas calçadas dos muquifos que chamavam de Rodoviária: “E foi com isso/que você me conquistou/Com esse jeito de menina/E esse corpo de mulher/E nada existe em você/Que eu não ame/Sou metade sem você…”
Em Conceição do Araguaia, nas bordas da construção da hidrelétrica de Tucuruí Reginaldo Rossi ressoava na boate/hotel de madeira, com os casais dançando coladinho, como numa cena de Bye Bye, Brasil. “De que vale ter tudo na vida? De que vale a beleza da flor/Se eu não tenho mais teu carinho/Se eu não tenho mais teu calor.”
O ídolo de cabelo pixaim e nariz batatudo era mais brasileiro que Roberto Carlos porque cantava o Brasil profundo, o que dançava, amava, existia e resistia ao largo das lutas pela redemocraticação do país e, no Sul do Pará, muito perto das atrocidades do regime.
Quando virei moderna, Reginaldo Rossi sumiu da minha vitrola e eu fiquei um pouco mais sofisticada, um pouco menos verdadeira.
Só algum tempo depois, no estouro de “saiba que meu grande amor hoje vai se casar, mandou uma carta pra me avisar, deixando em pedaços o meu coração”, reencontrei meu ídolo. Caí de boca. Reginaldo Rossi não era artista de Plano Piloto (teria tocado aqui alguma vez?). Fui vê-lo no Pistão Sul, em Taguatinga. Ma-ra-vi-lho-so. Rebolava, abria as pernas e requebrava, rodeado de gostosas vestidas à moda das Chacretes remodeladas. Não era indecente nem pornográfico — seria erótico não fosse ingênuo. Lúbrico, convidava o público a, em vez de cheirar cocaína, cheirar perereca.
Olhava para Reginaldo Rossi e me via representada. O Brasil de que sou feita é o mesmo que criou o Rei do Brega. Até no cabelo a gente combinava.
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