O encontro mereceu matéria de primeira página no jornal italiano Il Fatto Cotidiano e foi reportado na página do MST e nos blogs Viomundo e O Escrivinhador, com tradução de Moisés Sbardelotto. A reportagem, constando também de uma entrevista, destaca a importância de Stedile como liderança na organização dos agricultores, com 1,5 milhão de membros. Entre outras coisas, enfatiza que João Pedro é um marxista ligado à Teologia da Libertação, que jamais usou gravata e “desempenhando o papel de porta-voz de uma realidade pobre, em busca da sua própria emancipação”. Ele foi um dos organizadores do Encontro Mundial de Movimentos Populares acontecido semana passada no Vaticano, na sala do Velho Sínodo.
Como nasceu o encontro no Vaticano?
“Foram movimentos sociais da Argentina, formados por amigos do papa
Francisco, com os quais o MST começou a trabalhar, que possibilitaram
esse encontro mundial no Vaticano, reunindo 100 dirigentes populares de
todo o mundo, sem confissões religiosas. A maioria não era católica. Um
encontro muito proveitoso”.
Uma declaração sua sobre o Papa
“O papa deu uma grande contribuição, com um documento irrepreensível,
mais à esquerda do que muitos de nós. Porque afirmou questões de
princípio importantes como a reforma agrária, que não é só um problema
econômico e político, mas também moral. De fato, ele condenou a grande
propriedade. O importante é a simbologia: em 2.000 anos, nenhum papa
jamais organizou uma reunião desse tipo com movimentos sociais”
O que resulta desse encontro?
“Do encontro com Francisco, nascem duas iniciativas: formar um espaço
de diálogo permanente com o Vaticano e, independentemente da Igreja,
mas aproveitando a reunião de Roma, construir no futuro um espaço
internacional dos movimentos do mundo”.
“Para combater o capital financeiro, os bancos, as grandes
multinacionais. Os “inimigos do povo” são esses. Como diria o papa, esse
é o diabo. Mesmo que todos nós vivamos o inferno”.
“Os pontos traçados do encontro de Roma são muito claros: a terra,
para que os alimentos não sejam uma mercadoria, mas um direito; o
direito de todos os povos de terem um território, seu próprio país,
pense-se nos curdos de Kobane ou nos palestinos; um teto digno para
todos; o trabalho como direito inalienável”.
No Brasil, vocês apoiaram a eleição de Dilma Rousseff. Qual é a sua opinião sobre o governo do PT e o seu futuro?
“A autonomia, para nós, é um valor importante. O PT geriu o poder com
uma linha de “neodesenvolvimentismo”, mais progressista do que o
neoliberalismo, mas baseada em um pacto de conciliação entre grandes
bancos, capital financeiro e setores sociais mais pobres”.
“A operação de redistribuição da renda favoreceu a todos, mas
principalmente os bancos. Agora, porém, esse pacto não funciona mais, as
expectativas populares cresceram”.
“O ensino universitário, por exemplo, integrou 15% da população
estudantil, mas os 85% que ficaram de fora pressionam para entrar. Só
que, para responder a essa demanda, seria preciso ao menos 10% do PIB,
e, para levantar recursos desse tamanho, se romperia o pacto com as
grandes empresas e os bancos”.
Então?
“O governo tem três caminhos: unir-se novamente à grande burguesia
brasileira, como lhe pede o PMDB, construir um novo pacto social com os
movimentos populares ou não escolher e abrir uma longa fase de crise”.
“Nós queremos desempenhar um papel e, por isso, propomos um
plebiscito popular para uma Assembleia Constituinte para a reforma da
política. A força do povo não está no Parlamento”.
Finalizando:
“A nossa ideia, no início, era a de realizar o sonho de todo
agricultor do século XX: a terra para todos, bater o latifúndio. Mas o
capitalismo mudou, a concentração da terra também significa concentração
das tecnologias, da produção, das sementes. É inútil ocupar as terras
se, depois, produzirem transgênicos. Não é mais suficiente repartir a
terra, mas é preciso uma alimentação para todos, e uma alimentação sadia
e de qualidade”.
“Hoje visamos a uma reforma agrária integral, e a nossa luta diz
respeito a todos. Por isso, é preciso uma ampla aliança com os
operários, os consumidores e também com a Igreja. Somos aliados de
qualquer pessoa que deseje a mudança”. (Fonte: Hildegard Angel)
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