"Os fatos em si são chocantes. Nós quando julgávamos o mensalão, e também a imprensa, todos nós destacávamos que se tratava do maior escândalo de corrupção do Brasil. O apurado era R$ 170 milhões. E agora estamos vendo que nas delações premiadas, alguns poucos autores já aceitaram devolver algo em torno de R$ 500 milhões. Apenas um dos envolvidos aceitou devolver R$ 250 milhões. Isso é totalmente atípico, mostra um modelo de cleptocracia instalado", afirmou.
"Isso é preocupante, se vamos realmente para esse modelo de cleptocracia, é preocupante", acrescentou o ministro, que pode ter de julgar posteriormente algum caso relacionado à Lava Jato, uma vez que políticos envolvidos são denunciados em última instância. "Não se trata de desvio, mas de uma pratix continuum modus de governar, não pode ser assim", reforçou o magistrado, citando um artigo de Merval Pereira, que aponta a roubalheira como método.
Questionado pela entrevistadora Joice Hasselmann se já havia visto "algo semelhante na história moderna do mundo", Gilmar respondeu que, "em relação aos países civilizados, certamente não". Recentemente, o integrante da Corte Suprema afirmou que o processo do chamado 'mensalão' deveria ser julgado como pequena causa diante do escândalo de propina descoberto pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Gilmar, que trava há oito meses o julgamento de financiamento público de campanha, depois de ter pedido vista no início de abril, quando o placar registrava 6 a 1 pelo fim das doações privadas a campanhas políticas, tocou no assunto: "ah, e não adianta vir com o argumento de que esses furtos e roubos ocorrem por conta do modelo eleitoral ou isso é para o financiamento de campanha. Nós estamos vendo que não se trata disso". Nas redes sociais, o ministro foi alvo da campanha #DevolveGilmar.
Segundo ele, "parte disso certamente tem a ver com o modelo de financiamento de campanha, caixa 2, mas estamos vendo que certamente há outros destinos para esses amplos recursos que são desviados". Gilmar caçou dos críticos: "Porque aí vem inclusive a questão que está posta no plenário do Supremo. 'Ah, se nós decidirmos que as empresas não poderão mais doar, então está resolvido o problema da corrupção no Brasil'. Merece prêmio de cândido ou ingênuo aquele que sustenta esse tipo de tese".
Questionado se não é "um risco" o julgamento do caso agora por um plenário cuja maioria foi indicada pelo governo do PT, Gilmar começou com mais cautela do que em declaração recente – quando disse que o Supremo corria o risco de se tornar uma corte bolivariana por ter maioria indicada por presidentes petistas. Segundo ele, "é preciso se reconhecer" que foi julgado o caso do chamado 'mensalão' com a maioria indicada pelo partido acusado no processo, embora tenha se acolhido posteriormente embargos que resultaram na revisão de penas dos condenados. "É possível que se façam escolhas adequadas, e muitas escolhas adequadas certamente foram feitas". (Brasil 247)
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