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terça-feira, 4 de agosto de 2015

Vale a pena ler: Liberou geral

Editorial - Estadão
A 16.ª fase da Operação Lava Jato, que inaugurou a ampliação das investigações do petrolão para o setor elétrico, confirma o que os escândalos do mensalão e do propinoduto na Petrobrás já haviam evidenciado: a corrupção tornou-se endêmica na administração pública. “Estamos vivendo um processo de metástase da corrupção. A corrupção espalhou-se para outros órgãos da administração pública”, declarou em Curitiba, ao anunciar a nova operação da Polícia Federal, batizada de Radioatividade, o procurador federal Athayde Ribeiro Costa.

Chega a ser chocante - além da constatação de que a prática de ilicitudes no âmbito do governo atinge proporções alarmantes - que o poder de sedução dos corruptores seja irresistível até para personalidades públicas de currículo notável como o do presidente licenciado da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás, vice-almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, considerado a maior autoridade brasileira em energia nuclear. Pinheiro da Silva foi preso temporariamente sob a acusação de se ter beneficiado de propinas milionárias envolvendo contratos para a construção da Usina Nuclear Angra 3. A denuncia surgiu na delação premiada do ex-presidente da Camargo Correa Dalton Avancini.

A corrupção generalizada, que aparentemente só não é encontrada onde não é procurada, é a verdadeira herança maldita de 12 anos de lulopetismo no poder. Como se tem reiteradamente afirmado neste espaço, a corrupção na gestão da coisa pública não foi inventada pelo PT. Ela é um traço perverso da mentalidade patrimonialista historicamente predominante desde os tempos coloniais. E é um fenômeno que, de resto, não é estranho a nenhuma administração pública na face da Terra. Trata-se, simplesmente, de produto das fraquezas humanas, que naturalmente tende a prosperar com maior desenvoltura em ambientes propícios.

Pois é exatamente disso que se trata: Lula e o PT, desde que chegaram ao poder em 2003, passaram a criar no País um ambiente favorável à corrupção. Aí estão os sucessivos escândalos que o comprovam.

Diante dessa constatação, costumam reagir os petistas com o argumento de que a corrupção é hoje aparentemente maior apenas porque o governo passou a garantir ao Ministério Público e à Polícia Federal autonomia e recursos para o “combate sem tréguas à corrupção” - frase que Dilma Rousseff gosta de repetir. Ora, pode-se argumentar também, com base na mesma relação inescapável de causa e efeito, que o combate à corrupção tem hoje tanta visibilidade pela simples razão de que ela está muito mais disseminada do que antes.

O fato é que a prática generalizada de ilicitudes no trato dos recursos públicos é hoje o resultado da consagração de um princípio que, se por razões óbvias não está explicitado, está implicitamente impregnado no populismo autoritário do lulopetismo. Sua grande meta, seu objetivo, seu fim é a perpetuação desta elite no poder a qualquer custo. Basta olhar para os regimes políticos que o PT admira mundo afora para ter uma ideia do que eles aspiram para o Brasil. Tudo, é claro, em benefício do “povo oprimido”.

É claro que, além do fator “ideológico” - reconhecendo-se que sobrevivem raros petistas com genuíno espírito público -, milita a favor da corrupção desenfreada o gosto pelas benesses do poder, a famosa “boquinha” da qual a companheirada mais “pragmática” nem pensa em abrir mão.

Tudo isso prosperou à sombra do peculiar modelo de “presidencialismo de coalizão”, implantado pelo lulopetismo em nome da “governabilidade”. Coalizões políticas para sustentar governos são comuns e frequentemente inevitáveis em sociedades democráticas. Mas dar sustentação política a um governo significa aderir, programática se não ideologicamente, a projetos cujos escopos sejam compatíveis com as convicções de quem apoia. A coalizão patrocinada pelo lulopetismo tem muito pouco a ver com convicções programáticas. Trata-se, quase que invariavelmente, de meros conluios cimentados por puro fisiologismo. Toma lá, dá cá. Alguém acredita que Sarney, Collor, Barbalho, Maluf e tantos outros sustentáculos da “base aliada” sejam movidos por idealismo? A partir daí, liberou geral.

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