Estadão
Correios, Banco do Brasil? Não. Petrobrás? Nem sonhar. A instituição mais sólida da República no Brasil, atualmente, é uma mulher, uma atriz. Fernanda Montenegro anda liderando todas as pesquisas. É a melhor atriz, a mais confiável, a que está envelhecendo melhor. Aos 85 anos, ela acaba de encerrar uma novela – polêmica –, tendo protagonizado um beijo gay com outra colega veterana, Natália Timberg. Ela só lamenta que o tal beijo tenha sido usado como manta protetora para ocultar os motivos que, segundo ela, fazem de Babilônia, de Gilberto Braga, uma novela de importância histórica. Na quinta-feira, 10, Fernanda estreia novo filme – Infância, de Domingos Oliveira, em que interpreta Dona Mocinha, matriarca de uma família tradicional e outra instituição do republicanismo – conservador. Na entrevista concedida ao Estadão, Fernanda solta o verbo e não foge da raia se o assunto é política e o governo da presidente Dilma Rousseff. Leia trechos do que disse Fernanda:
Como é virar um ícone de credibilidade num País em que o tema dominante é a quebra de confiança nas instituições?
Só posso dizer que me surpreendo muito. Nunca me preparei para isso. Quando saí para a vida, não pensava nem em termos de profissão. Há uma carga pesada na palavra, virou uma coisa deturpada. Inspirada no exemplo de meu pai, de meu avô, só sonhava em adquirir um ofício, naquele sentido dos velhos oficiais artesãos, das velhas ligas de artesanato. Um ofício do qual pudesse me orgulhar. E creio que consegui.
Como você vê o Brasil neste momento de crise?
Passando por cima de muita coisa, o que mais me inspira é uma constatação básica. Estamos vivendo um momento de liberdade de expressão plena, e por conta disso, sabemos de tanta coisa que talvez não tivesse vindo a público. A imprensa, a internet. A informação circula livremente. Às vezes, são coisas que chocam, e não só histórias de corrupção. Vi hoje na TV paga (sexta-feira) que uma mãe se jogou com o filho na linha do trem. É muita loucura. Acho a liberdade inspiradora, mas existem coisas que me impressionam mal. Nas manifestações contra Dilma, se aparece algum petista querendo defender a presidente, é escorraçado. Pois deveriam expurgar também esses malucos que pedem a volta dos militares. Eles têm todo o direito, numa democracia, de se expressar, mas que façam a manifestação deles, com a pauta deles, não misturando as coisas. Nós vivemos o período duro do regime militar e aquilo foi um horror. Pedir a volta dos militares é coisa de doentes mentais.
Como mulher e cidadã, você apoia a presidente Dilma Rousseff?
Não apoio a Dilma nem nenhum presidente. Apoio o Brasil. Minha causa, meu projeto é no Brasil, a melhoria do povo brasileiro. Estávamos num cenário otimista na véspera da eleição e hoje o quadro é outro. Temos um quadro de crise e desemprego dos mais graves, puxado por 600 cavalos de raça. Existem indicadores positivos. Toda uma classe se beneficiou por meio de vários mecanismos sociais. Isso é obrigação, já deveria ter sido feito. A verdade é que o governo virou uma miscelânea de incapacidades, e isso é grave.
Você está pessimista, então?
Como o povo brasileiro, sou otimista por natureza. Meu ofício é a esperança. Sobrevivemos ao Estado Novo, ao suicídio do Getúlio, à renúncia do Jânio, à deposição de Jango, ao impeachment do Collor. Vamos sobreviver de novo. Mas isso não nos isenta de lutar por um País melhor, por uma classe dirigente mais digna e responsável. Não é possível que as pessoas no poder só pensem nas próprias benesses. Esse País precisa se organizar, se reorganizar para termos governabilidade.
Correios, Banco do Brasil? Não. Petrobrás? Nem sonhar. A instituição mais sólida da República no Brasil, atualmente, é uma mulher, uma atriz. Fernanda Montenegro anda liderando todas as pesquisas. É a melhor atriz, a mais confiável, a que está envelhecendo melhor. Aos 85 anos, ela acaba de encerrar uma novela – polêmica –, tendo protagonizado um beijo gay com outra colega veterana, Natália Timberg. Ela só lamenta que o tal beijo tenha sido usado como manta protetora para ocultar os motivos que, segundo ela, fazem de Babilônia, de Gilberto Braga, uma novela de importância histórica. Na quinta-feira, 10, Fernanda estreia novo filme – Infância, de Domingos Oliveira, em que interpreta Dona Mocinha, matriarca de uma família tradicional e outra instituição do republicanismo – conservador. Na entrevista concedida ao Estadão, Fernanda solta o verbo e não foge da raia se o assunto é política e o governo da presidente Dilma Rousseff. Leia trechos do que disse Fernanda:
Como é virar um ícone de credibilidade num País em que o tema dominante é a quebra de confiança nas instituições?
Só posso dizer que me surpreendo muito. Nunca me preparei para isso. Quando saí para a vida, não pensava nem em termos de profissão. Há uma carga pesada na palavra, virou uma coisa deturpada. Inspirada no exemplo de meu pai, de meu avô, só sonhava em adquirir um ofício, naquele sentido dos velhos oficiais artesãos, das velhas ligas de artesanato. Um ofício do qual pudesse me orgulhar. E creio que consegui.
Como você vê o Brasil neste momento de crise?
Passando por cima de muita coisa, o que mais me inspira é uma constatação básica. Estamos vivendo um momento de liberdade de expressão plena, e por conta disso, sabemos de tanta coisa que talvez não tivesse vindo a público. A imprensa, a internet. A informação circula livremente. Às vezes, são coisas que chocam, e não só histórias de corrupção. Vi hoje na TV paga (sexta-feira) que uma mãe se jogou com o filho na linha do trem. É muita loucura. Acho a liberdade inspiradora, mas existem coisas que me impressionam mal. Nas manifestações contra Dilma, se aparece algum petista querendo defender a presidente, é escorraçado. Pois deveriam expurgar também esses malucos que pedem a volta dos militares. Eles têm todo o direito, numa democracia, de se expressar, mas que façam a manifestação deles, com a pauta deles, não misturando as coisas. Nós vivemos o período duro do regime militar e aquilo foi um horror. Pedir a volta dos militares é coisa de doentes mentais.
Como mulher e cidadã, você apoia a presidente Dilma Rousseff?
Não apoio a Dilma nem nenhum presidente. Apoio o Brasil. Minha causa, meu projeto é no Brasil, a melhoria do povo brasileiro. Estávamos num cenário otimista na véspera da eleição e hoje o quadro é outro. Temos um quadro de crise e desemprego dos mais graves, puxado por 600 cavalos de raça. Existem indicadores positivos. Toda uma classe se beneficiou por meio de vários mecanismos sociais. Isso é obrigação, já deveria ter sido feito. A verdade é que o governo virou uma miscelânea de incapacidades, e isso é grave.
Você está pessimista, então?
Como o povo brasileiro, sou otimista por natureza. Meu ofício é a esperança. Sobrevivemos ao Estado Novo, ao suicídio do Getúlio, à renúncia do Jânio, à deposição de Jango, ao impeachment do Collor. Vamos sobreviver de novo. Mas isso não nos isenta de lutar por um País melhor, por uma classe dirigente mais digna e responsável. Não é possível que as pessoas no poder só pensem nas próprias benesses. Esse País precisa se organizar, se reorganizar para termos governabilidade.
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