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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Nicolino Campos: "No obelisco da IMORTALIDADE, cum laude", diz Gumercindo

Na Sessão da Saudade, promovida pela Academia de Letras e Artes de Santarém (ALAS), para homenagear os seus saudosos membros, Nicolino Campos e Éfren Galvão, o acadêmico José Gumercindo Rebelo (foto acima), Arquiteto, Professor, Desenhista e Pintor, Ocupante da Cadeira Nº12 do notável Gabriel Rodrigues dos Santos, proferiu um belo discurso sobre a vida de Nicolino Campos. Abaixo, trechos do pronunciamento:
Nicolino Campos
"Suas raízes nascem nos Campos de Arapixuna, de cujo esteio, o Capitão Sylvio Solano Correa Campos, do Exército Brasileiro, levava com afinco mas com dificuldade os filhos nascidos na capital, sem o amparo da esposa Nicolina Castriciana de Castro Campos, então falecida, até que com os benefícios do Pós-Guerra, volta à Santarém trazendo a prole gerada em Belém.

Menino irrequieto, ainda em Belém, é levado pelo pai até um Seminário Católico donde se evade por não se adequar à vida do claustro. Lá na capital, mesmo com suas rebeldias, consegue avançar nos estudos chegando a frequentar o tradicional Colégio Paes de Carvalho. É com esse fundamento educacional da Escola Pública que aqui se destaca dentre os jovens da época. Morava com o avô Silvino Campos vendo Rio Tapajós, lá do prédio onde hoje congregam os Padres Verbitas, no Bairro da Aldeia. Gostava de visitar seus parentes, principalmente sua Tia Solange (irmã de seu pai Sylvio) então casada com Manelito Correa e por isso muito querido entre eles. Naquele bairro da aldeia conheceu e casou-se com Juracy, filha amada da família Cavalcante, proveniente do município de Breves.

Naquela década de 50 floresciam as manifestações dos partidos políticos e suas disputas acirradas, principalmente, entre a turma da UDN, tendo como um dos líderes o General Alexandre Zacarias de Assunção e de outro lado o PSD, do General Magalhães Barata de maneira a congregar os jovens a ascender cargos públicos. Esse desejo culminou com sua candidatura à Câmara Municipal de Santarém que juntamente com Alberto Diniz, Paulo Lisboa, Isaias Serique, José Rufino Araújo, José Almeida, Clementino Santana, dentre outros, saíram vitoriosos e cumpriram dignamente seus mandatos, pré-inaugurando a era do avião a jato, sem a ostentação dos LAVA-JATO e PETROLÕES que hoje corroem as verbas públicas deixando um rastro maldito de políticos de mente ratuína. Ombreados com nobres ideais políticos, o Grupo de amigos Vereadores, com a liderança de Nicolino, buscou Ubaldo Campos Correa, seu primo, (filho de sua Tia Solange), e formaram uma frente político-partidária de sobeja amplitude e o elegeram Prefeito.

Paralelamente aos ideais democráticos de participação partidária na vida da cidade, corria-lhe nas veias a vontade de ver nos jovens o acesso ao conhecimento, aquela utopia que queria ver transformada em autêntico saber para os mocorongos e tirasse o jovem do marasmo e dos ofícios improdutivos em algo novo, retumbante. Eis que ingressa na vida do estudante do Ginásio Dom Amando. Vigoroso, rebelde, inquieto, irrequieto, ansioso por abreviar a amargura da gente Tupaiu sedenta do saber.

O aluno, Vicente Fonseca, hoje desembargador na Capital do Estado do Pará, mas Juiz desde o Acre, recorda a festa de formatura, em 1966, ao lado da ilustre personalidade e exalça o mestre em sua elegia:

1) “...as aulas do Professor Nicolino Campos tinham uma disciplina mais flexível. Ele sempre foi muito bem humorado e competente.”

2) “Ele era um professor muito querido pelos discípulos, mesmo depois de muitos anos que passamos pelos bancos escolares. Um verdadeiro amigo, que se orgulhava com o sucesso de seus pupilos.” Insisto, pois, em dizer que desde os primórdios da civilização humana, todos temos um ministério a transformar-se em Missão a qualquer momento. Basta que entendamos a necessidade do outro em realizar-se completamente. Observem como o evangelista Lucas faz referência e reverência ao seu mestre Jesus de Nazaré: “E a sua fama divulgou-se por toda a região. Ele ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos.”

Foi dessa forma que Nicolino de Castro Campos, por inúmeros anos, naquele educandário da Congregação de Santa Cruz, formou a juventude santarena transmitindo-lhe o conhecimento universal através da Língua Portuguesa, valendo-se de suas mãos incansáveis em gestos eletrizantes e de sua língua certeira e afiada para engendrar o caráter, a moral e a cidadania a todo aluno da cidade e, principalmente os egressos dos municípios sob influência da Pérola do Tapajós, cantando sonoramente sua ALMA MATER.

Bem coube a ele ocupar a Cad.Nº26, do Patrono Manuel Rebouças de Albuquerque desta Academia, tão árduos foram os seus dias de sobrevivência no celibato a bom construir o imaginário com a juventude carente de nossa Tapajônia que tanto valorizou em seu hábito secular dizendo sermões e muito mais através de cânticos das pastorinhas e de suas romanceiras composições.

Muitos versos que, legitimamente, são seus, acredito hajam sido forjados nos poemas do Padre Manuel, como se dele houvesse sido leal discípulo.

Como soubemos Nicolino jamais foi padre, no entanto, em seu ingresso à esta Academia de Letras e Artes de Santarém, veio justo agasalhar-se no dossel do Padre Manuel.

Eis alguns legados de NICOLINO DE CASTRO CAMPOS:

1 – Família e amigos a grande fortaleza e ancoradouro para manter a unidade ante a diversidade;

2 – Persistência nos ideais como bandeira de luta;

3 – Manutenção do conhecimento para transpor as barreiras do mau humor e da mediocridade.

Nesta Sessão da Saudade, permanece a saudade que a Língua Portuguesa te fez propalador e teus feitos depositamos no obelisco da IMORTALIDADE, cum laude."

5 comentários:

  1. Caríssimo Ércio,

    Quero externar a minha eterna gratidão a tua pessoa, pelo exemplo do bom exemplo que nos dá em render homenagens ao meu Pai Prof. Nicolino Campos, que na minha concepção são justas e merecidas. Sigo e me norteá a Amizade de vocês (Tu e o Papai) sempre amigos, brincalhões, leais pois sempre se trataram com respeito, lealdade e sinceridade. Coisa rara hoje em dia neste mundo cruel onde os interesses políticos e o poder ligados a mola propulsora do mundo que é o dinheiro em detrimento da riqueza espiritual que são as verdadeiras amizades. Um amigo dileto meu certa vez me disse com propriedade: " Caixão não tem gaveta e mortalha não tem bolso" só levamos o que fazemos de bom ou mal nesta vida. Amizades se corroem tal qual o ferro metal resistente que se corroê com a ferrugem. Isso Eu vejo na convivência altiva e respeitosa com meu Pai.
    Ao meu nobre e dileto Amigo Gumercindo o qual o chamo de nosso Oscar Niemeyer da Amazônia minha gratidão por expressar no auge de seu talento e inteligência retratar o perfil e a biografia de meu Pai com eximia perfeição com toda certeza papai apreciou e acompanhou toda a homenagem e ficou feliz por ser professor de Português, que fez tal qual a escola de samba da mangueira na sapucaí nota dez em tudo. Parabéns Gumercindo Mamãe JUARACI e todos nós estamos-lhe grato pela homenagem ao Papai o que sai do coração entra no coração nosso.

    Bom, dia e obrigado gigante Ércio assim que papai te chamava pelo reconhecimento do teu trabalho como comunicador e grande orador que és.

    Sérgio Campos e família.

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  2. Ninguém mais indicado para honrar a memória do saudoso professor Nicolino Campos do que esse não menos ilustre santareno, o arquiteto e acadêmico Dr. José Gumercindo Rebelo, cuja bela peroração ratifica com ênfase sua versatilidade como artista, inclusive da palavra. Parabéns à ALAS pela feliz e oportuna iniciativa pelas homenagens prestadas.

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  3. Caro Ércio,

    A manifestação que fiz na ALAS em nome da família de Nicolino Campos, meu pai, pontou a vida profissional e pedaços da vida familiar. E em ambas revelam-se padrões de ética, justiça e amor.
    Bem utilizei algumas informações que capturei neste blog, como por exemplo o fato do pai Nicolino usar paletó na condição de treinador de futebol....muito antes do Luxemburgo.
    Meu pai viveu e contou muitas histórias.. e estas continuarão a ser contadas ..pois feliz daquele que tem histórias para contar, como diz o cancioneiro..
    Muito obrigado pelos registros.

    Aloysio Campos

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  4. MEUS PREZADOS, A corrida de revesamento que aprendemos no Ginásio Dom Amando, é das modalidades esportivas a mais dinâmica, pulsativa, sensitiva e coesa, pois no seu dinamismo dispara o atleta, carregando um bastão e, contra o vento, imprime todo vigor e entusiasmo prometido aos parceiros, pulsando célere tal qual tenaz, aproxima o bastão certeiro e esbarra nos tentáculos do parceiro confiante, naquela porfia, de mão em mão quatro valentes competidores promovem a unidade, completam o circuito e arrebatam o troféu, legitimamente de valor coletivo. Assim, meus caros Sérgio Campos (filho do Nicolino) e Célio Simões (Pauxis das empreitadas CEUPIANAS), tão honrado fiquei ao ler seus comentários da benfazeja publicação do confrade Ércio. A velhice nos conforta com manifestações distintas daquelas da mocidade. Relutamos, não obstante em aceitá-la. Oxalá esta contribuição à nossa ALAS, mereça, da corrida, ao menos a confiança de apertar as mãos na construção de novos ideais que congregam amigos e abraçam outras culturas, tal qual nos mostrou o irrequieto Nicolino.

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  5. Exemplos de bons cidadãos que produziram textos memoráveis, deixando importante legado à comunidade: Prof. Nicolino Campos e Éfren Galvão. Mestres da literatura e da língua portuguesa, nos presentearam com textos e crônicas ricas em fatos e contos do imaginário amazônico.Grandes alegrias e criatividade esses Mestres nos proporcionaram. Minha eterna gratidão por essa vida tão produtiva que muito contribuiu para nosso desenvolvimento literário

    Tânia Amazonas

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